Segundo a psicóloga Irene Rocha, a síndrome refere-se ao comportamento de iniciar um novo relacionamento antes de encerrar emocionalmente o anterior e sem dar espaço para ficar sozinho por um tempo.
O comportamento faz alusão ao personagem Tarzan, que se movimenta entre cipós sem soltá-los até segurar o próximo, em uma metáfora para aqueles que “pulam” de um relacionamento para outro sem lidar com o término anterior.
A síndrome do Tarzan acomete pessoas que são dependentes emocionais, inseguras e "com um medo terrível de compromisso", segundo Irene.
Em muitos casos, o medo da solidão e a incapacidade de lidar com o término levam a pessoa a buscar rapidamente um novo parceiro, o que pode resultar na repetição de padrões disfuncionais e dificultar o autoconhecimento.
Em vídeo publicado no Youtube, o psicólogo Raúl López disse que as pessoas que sofrem com a síndrome do Tarzan trazem consigo “bagagens emocionais de relações anteriores que não deram certo", o que atrapalha o crescimento pessoal e o aprendizado necessário para criar vínculos mais saudáveis.
A psicóloga da USP Liliana Seger aponta que os relacionamentos estão com uma tendência cada vez mais forte de entrar na lógica do consumo. Nesse sentido, segundo ela, as pessoas passam a procurar pessoas como se fossem "alimentos na prateleira".
"A pessoa já começa a se relacionar pensando em quantos likes vão ter juntos nas publicações e, muitas vezes, isso faz com que elas se desconectem dos sentimentos do outro. Assim como consumo está exagerado, os relacionamentos passaram a ser produtos também", ressalta.
Isso colabora com relações superficiais e sem diálogo, segundo ela. Você sai com uma pessoa, mas caso ela não seja aquilo que se espera, você desiste de continuar imediatamente. A sensação de "estar perdendo alguma coisa" é maior com o excesso de facilidade proporcionado pelas interações digitais que, de acordo com Liliana, muitas vezes colaboram com o declínio do vínculo afetivo, uma vez que prejudicam a qualidade do diálogo e aumentam a intolerância aos conflitos naturais dos relacionamentos amorosos.
"As pessoas estão desaprendendo a olhar nos olhos e conversarem com os outros. Ficou líquido, como diria Bauman", explica.
Ela menciona a obra do sociólogo Zygmunt Bauman que, em seu livro "Amor Líquido", investiga, dentre outras coisas, a redução dos laços a longo prazo, tanto amorosos, quanto familiares ou de amizade.
A psicanalista Vera Cristina brinca que "todos os acordos devem ser escritos a lápis", já que, no decorrer do tempo, é preciso rever o que foi pré-estabelecido.
"Penso que isso é bastante saudável, um ouvir o outro sobre as suas demandas e possibilidades de aceitação ou não", explica a psicanalista.
A psicóloga Andrea Lorena ressalta que um relacionamento saudável só funciona se o casal mantiver conversas assertivas, e que sempre na relação há os desejos conjuntos e os individuais. Por isso, caso a pessoa esteja descontente com a relação, é importante que ela investigue a origem desse sentimento.
"Após esse mergulho interno, a pessoa deve chamar o parceiro para conversar, sendo honesta consigo e com o outro. Em alguns casos, ambos identificarão juntos questões que podem ser comuns", disse.
Segundo ela, o descontentamento não está no modelo adotado, mas nas expectativas e valores depositados pela pessoa na relação amorosa.
Lorena afirma que há formas de trabalhar pontos específicos do ciúmes para minimizá-lo. São eles: posse, necessidade controle, autoestima e modificação de padrões de comportamento não-saudáveis nas relações amorosas (desrespeito e manipulação, por exemplo).