A melhoria da saúde mental está na agenda de muitas pessoas em 2024 e, para muitas delas, a organização é o método preferido para conseguir isso.
Um dos motivos pelos quais a desorganização é tão frequentemente associada à saúde mental é o fato de que ela pode ter um impacto negativo na maneira como nos vemos e na vida que levamos. As desvantagens estudadas de viver em um ambiente desorganizado ou desordenado incluem dificuldades de memória, hábitos alimentares ruins, maior chance de desenvolver transtornos de humor e menor controle de impulsos.
Há também uma ligação entre o hormônio do estresse, cortisol, e a vida em um espaço desorganizado e a probabilidade de que "a bagunça e a desorganização possam levar a transtornos de ansiedade crônica em algumas pessoas", diz Daniel Levitin, neurocientista comportamental da Universidade McGill em Montreal, no Canadá.
Um estudo do Journal of Environmental Psychology também mostra que "a desordem pode diminuir a sensação de bem-estar, felicidade e a segurança que uma pessoa obtém ao estar em seus espaços pessoais", afirma Catherine Roster, coautora do estudo e professora da Anderson School of Management da Universidade do Novo México, em Albuquerque, nos Estados Unidos.
Parte da razão para isso é que muitos de nós reconhecemos que "nossas casas podem estar bagunçadas e desorganizadas porque nos sentimos sobrecarregados e desorganizados mentalmente", explica Natalie Christine Dattilo, psicóloga clínica de Boston e instrutora da Harvard Medical School.
A desorganização também pode diminuir a capacidade de concentração e tomada de decisões. Outra pesquisa, da qual Roster também é coautor, mostra que trabalhar em um ambiente desorganizado pode levar rapidamente à sensação de exaustão.
"A bagunça e a desorganização geram uma perda de produtividade difícil de quantificar", diz Levitin. Ele aponta a quantidade de tempo que as pessoas perdem procurando itens perdidos, faltando a compromissos ou ficando para trás no trabalho ou na escola por causa da vida desordenada. "A pessoa média provavelmente perde 5% de seu tempo devido à desorganização", diz ele. "Pegue seu salário anual, multiplique-o por 5% e você poderá medir quanto a desorganização pode estar lhe custando."
Embora alguns dos supostos benefícios para a saúde mental relacionados à remoção da bagunça e à organização possam ser exagerados (ao contrário da opinião popular, a organização provavelmente não ajudará no diagnóstico de depressão, por exemplo), a ciência ainda apoia várias vantagens de manter um espaço arrumado.
Joseph Ferrari, ilustre professor de psicologia da Universidade DePaul de Chicago, nos Estados Unidos, e um dos mais reconhecidos estudiosos da pesquisa sobre desorganização, afirma que quase todos os problemas de saúde mental decorrentes da desorganização e da bagunça podem ser melhorados com a organização. "Você sentirá menos exaustão, aumentará sua produtividade no escritório e melhorará muito a qualidade de sua vida se aprender a organizar-se", diz ele.
Neha Khorana, psicóloga clínica certificada em Atlanta, especializada em benefícios para a saúde mental relacionados à limpeza e organização, concorda. Ela acrescenta que a organização também pode melhorar os sintomas relacionados à ansiedade, "já que a desorganização está associada a níveis mais altos de ansiedade".
Descobriu-se que casas arrumadas também são um indicador de saúde física. "As pessoas cujas casas são mais limpas são mais ativas e geralmente têm melhor saúde física", afirma Libby Sander, professora assistente de comportamento organizacional na Bond University, na Austrália. Parte disso se deve ao fato de as pessoas organizadas gerenciarem melhor seu tempo, mas também porque as pesquisas demonstram que a falta de bagunça pode ajudar a melhorar a dieta. "Estudos mostram uma associação entre excesso de bagunça e excesso de peso", diz Dattilo.
Também foi demonstrado que a organização diminui os níveis de estresse, aumenta a eficiência pessoal e até melhora o sono.
Outra vantagem estudada de se organizar pode ser a melhoria da qualidade de seus relacionamentos. Dattilo explica que os relacionamentos podem ser afetados negativamente quando o excesso de bagunça afeta a comunicação ou distrai o cérebro da pessoa de filtrar sinais importantes do parceiro. Pesquisas mostram que isso pode fazer com que os outros se sintam ignorados, incompreendidos ou sem importância.
Embora muitas pessoas reconheçam e desejem os benefícios para a saúde física e mental decorrentes do fato de se tornarem mais organizadas, algumas não sabem por onde começar.
"Aconselho começar aos poucos", diz Dattilo. "É fácil ficar sobrecarregado se você tentar organizar um cômodo inteiro ou até mesmo um armário, portanto, você pode se preparar para o sucesso começando com uma única gaveta, uma estante ou a despensa da cozinha." Ela também sugere tornar a organização mais agradável ouvindo música ou um audiolivro enquanto estiver fazendo isso e "passar um tempo no espaço recém-organizado depois para se permitir desfrutar dele".
Khorana recomenda reservar um tempo específico para organizar suas coisas, e Roster sugere imaginar como será bom ter um espaço organizado como motivação para começar. "Pense em como você poderia utilizar o espaço para outra finalidade que tornaria sua vida melhor ou o ajudaria a ser mais produtivo", diz ela. Ela também recomenda pedir apoio, se necessário. "Um membro da família, amigo ou organizador profissional pode ajudar se você não souber por onde começar", diz ela.
Quando se trata do processo de organização, Julie Morgenstern, organizadora profissional e autora do livro “Organizing from the Inside Out”, aconselha classificar os itens em categorias como manter, jogar fora e realocar. Ela sugere ter um lugar para cada item que deseja manter, jogar fora o que não será usado e armazenar em outro lugar itens sentimentais ou sazonais ou decorações que não precisam ser acessados com frequência.
"Considere também o armazenamento externo se tiver itens dos quais não consegue se desfazer, como registros fiscais de arquivo, papéis da faculdade, objetos de recordação e móveis extras", explica ela. "Isso fará com que os itens saiam de casa sem o trauma de eliminá-los permanentemente."
Ao tomar essas decisões de classificação, Ferrari recomenda não seguir o conselho popular de primeiro sentir um item na mão para ver se ele traz alegria. "Estudos mostram que tocar em algo realmente faz com que você se sinta mais apegado a ele, e é por isso que os varejistas tentam fazer com que os compradores segurem os itens nas prateleiras para induzir a compra", explica ele. Em vez disso, ele diz que é melhor avaliar logicamente se deve ficar com algo ou não, sem a emoção adicional que vem ao segurá-lo.
Sander diz que também é importante lembrar que a organização inclui também a organização digital. "Cancele a assinatura de coisas que você não lê, exclua e-mails, crie uma nova pasta e mova apenas alguns e-mails ou documentos por dia", ela aconselha. "Dedicar apenas cinco minutos por dia para se organizar fará muita coisa ao longo de algumas semanas e ajudará a criar hábitos para se manter organizado."
Dattilo diz que a organização e a limpeza "exigem tomada de decisões, regulação de emoções, priorização e paciência", mas que o processo pode ser aprendido e aprimorado com a prática. "Quando cuidamos de nossa casa de forma intencional e amorosa", diz ela, "enviamos uma mensagem importante para nós mesmos de que valemos o tempo e o esforço necessários".