O Brasil registrou uma explosão no número de casos de dengue nas duas primeiras semanas deste ano, com 55.859 casos prováveis da doença e seis mortes devido a complicações causadas por ela.
Esse número é mais do que o dobro do registrado no mesmo período de 2023, quando foram contabilizados 26.801 casos prováveis da doença e 17 óbitos. Os números são do Ministério da Saúde.
Para evitar essa situação é preciso ficar atento aos sintomas e complicações que podem evoluir para a forma hemorrágica da doença.
Entenda em sete tópicos como identificar se uma pessoa está com dengue e quando a doença requer atenção redobrada.
O vírus da dengue é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti e possui quatro sorotipos diferentes – DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.
Quando alguém é infectado por um deles, adquire imunidade contra aquele tipo específico, mas ainda fica suscetível aos demais. Por isso, uma pessoa pode pegar a doença mais de uma vez.
Os sorotipos, segundo os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, não influenciam na gravidade da doença.
A infecção por dengue pode ser assintomática ou apresentar quadro leve com sintomas como febre alta (acima de 38°C), dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, fraqueza, dor atrás dos olhos e manchas vermelhas na pele.
Quando os sintomas são leves, normalmente os médicos recomendam que o tratamento seja feito em casa.
"É indicado que o paciente sem sinais de alarme, como dizemos, seja encaminhado para tratamento domiciliar que consiste em muita hidratação e em caso de febre e dores, ele pode tomar antitérmicos, como dipirona e paracetamol", explica Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês.
Caso os sintomas não melhorem em até sete dias, é indicado que o paciente volte a procurar atendimento médico para ser reavaliado.
Além dos sintomas leves, há também os "sinais de alarme" assim chamados pelos médicos, por sinalizarem que aquele paciente pode ter complicações pela doença.
Esses sinais incluem dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes, sangramento de mucosas e hipotensão postural (tontura ao levantar). Nesses casos é necessária a internação do paciente.
Sintomas como dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes, sangramento de mucosas e tontura ao levantar exigem internação
Ao contrário do que muita gente pensa, esses sinais não costumam surgir no início da infecção. Eles aparecem na chamada fase crítica da doença – entre o quinto e sétimo dia após o início dos primeiros sintomas.
Mesmo o paciente diagnosticado com a doença em sua forma leve, a chamada dengue clássica, ele pode evoluir para a grave, também conhecida como hemorrágica.
"O que determina se um paciente vai apresentar a forma grave da doença ou não é a resposta imunológica dele ao vírus e se ele tem comorbidades, como cardiopatias e problemas renais, por exemplo", explica Kobayashi.
"Se no momento da infecção, ele estava fazendo uso de medicamentos anticoagulantes, isso pode ser um agravante também", acrescenta.
Quando a infecção começa a destruir plaquetas responsáveis pela coagulação, o paciente passa a ter sangramentos, o que caracteriza que a dengue clássica evoluiu para a hemorrágica.
Esses sangramentos normalmente são na gengiva, ou através do vômito, urina ou fezes.
"As plaquetas ficam baixas causando fragilidade dos pequenos vasos sanguíneos, que causa esses sangramentos", diz João Prats, infectologista do hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
"Nesses casos é necessário correr para o hospital", alerta.
A dengue hemorrágica pode acontecer na primeira vez que a pessoa contraiu o vírus ou em casos de reinfecção. Segundo os profissionais, não há uma regra para isso.
Não há um medicamento específico para o tratamento da dengue.
Recomenda-se muita hidratação, com água e soros orais, que podem ser comprados em farmácias.
Esses soros, além do líquido, repõem sais minerais do organismo.
Para tratamento da dengue, recomenda-se muita hidratação, com água e soros
"Manter o corpo hidratado ajuda a compensar a perda de líquidos devido à febre e aos vômitos e ajuda na prevenção de complicações mais graves", diz o infectologista Silvio Bertini, do Hospital Japonês Santa Cruz, de São Paulo.
Para aliviar os sintomas como dores e febres, pode-se tomar antitérmicos, como dipirona e paracetamol. Mas é importante lembrar que o uso de medicamentos deve ser feito com orientação de um médico.
Já anti-inflamatórios como diclofenaco e ibuprofeno, AAS e aspirina, devem ser evitados, segundo os especialistas. Esses medicamentos aumentam o risco de sangramento por provocarem irritação no estômago.
A vacina contra a dengue conhecida como Qdenga foi incorporada no Programa Nacional de Imunizações (PNI) pelo Ministério da Saúde, e a previsão é de que comece a ser oferecida a partir de fevereiro de forma gratuita.
As doses poderão ser tomadas por pessoas de quatro a 60 anos — não há estudos para avaliar a eficácia e a segurança da vacina fora dessa faixa etária.
Pode receber o imunizante quem já teve dengue e também quem nunca foi infectado.
Vacina contra dengue deve começar a ser oferecida pelo SUS a partir de fevereiro
Gestantes, lactantes e pessoas com alergia a algum dos componentes presentes no imunizante, quem tem o sistema imunológico comprometido ou alguma condição imunossupressora não podem ser vacinadas.
"As vacinas serão destinadas a regiões de saúde com municípios de grande porte com alta transmissão nos últimos dez anos e população residente igual ou maior a 100 mil habitantes, levando também em conta altas taxas nos últimos meses", afirmou o Ministério da Saúde, em nota.
"O público-alvo, em 2024, serão crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que concentra o maior número de hospitalização por dengue. O esquema vacinal é composto por duas doses com intervalo de três meses entre elas", acrescentou a pasta.
A lista dos municípios que receberão o imunizante e a estratégia de vacinação serão informadas pelo Ministério da Saúde nos próximos dias, segundo a pasta.
A vacina é uma das maneiras mais eficazes de previr a infecção pela doença, mas como as doses não são suficientes para toda a população e não são todos os grupos que poderão tomar o imunizante, resta a prevenção.
80% dos focos do mosquito estão dentro das residências em locais como caixa d'água, vaso de planta, piscina e até bebedouros de animais
Para isso, deve-se reduzir a infestação de mosquitos por meio da eliminação de criadouros. Evitar água parada e manter reservatórios e qualquer local que possa acumular água cobertos com telas ou tampas.
Além disso, há maneiras de proteção individual como usar repelente.