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O papel crucial de Rússia e China na sobrevivência de Maduro na Venezuela

Publicada em 22/08/24 às 08:30h - 24 visualizações

por Kativa FM \\ BBC


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Sob Nicolás Maduro, a Venezuela reforçou laços com Rússia, China, Cuba, Turquia e Irã  (Foto: Kativa FM \\ BBC)

Sob o governo de Nicolás Maduro, a Venezuela estreitou seus laços com importantes aliados internacionais, principalmente a Rússia e a China.

Maduro, que está no poder há 11 anos e, recentemente, foi declarado reeleito em uma eleição contestada pela oposição e por grande parte da comunidade internacional, também recebeu apoio de países como Cuba, Turquia e Irã.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, essas alianças — forjadas ainda durante o governo de Hugo Chávez (1954-2013), antecessor e mentor político de Maduro — forneceram suporte econômico, militar e diplomático crucial, ajudando a sustentar o regime, apesar das significativas pressões internas e externas, incluindo sanções impostas pelos Estados Unidos.

"Maduro, embora esteja isolado da comunidade internacional, especialmente do Ocidente, conta com aliados importantes como Rússia, China e Irã, com os quais mantém uma relação duradoura", afirma à BBC News Brasil Nicolas Forsans, codiretor do Centro de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos (CLACS) da Universidade de Essex, no Reino Unido.

"Esses aliados ajudam a atenuar os efeitos das sanções dos Estados Unidos e proporcionam uma salvação econômica para o regime de Maduro."

Não por acaso, esses países foram os primeiros a parabenizar Maduro por sua vitória.

O presidente russo, Vladimir Putin, por exemplo, destacou a importância da "parceria estratégica" entre os dois países e afirmou que Maduro sempre será "um convidado bem-vindo em solo russo."

Mas como essa rede de alianças forneceu a Maduro as ferramentas necessárias para enfrentar crises domésticas e pressões internacionais?

Xi Jinping, da China, aperta mão de Vladimir Putin, da Rússia

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,China e Rússia são as principais aliadas da Venezuela e seu apoio contrabalanceou sanções dos EUA

"O regime de Maduro não estaria no poder hoje sem o apoio de seus cinco principais aliados: Rússia, China, Cuba, Irã e Turquia. Esses países oferecem diferentes formas de apoio financeiro, diplomático e de inteligência ao regime venezuelano", argumentam Moisés Rendon e Claudia Fernandez, em um artigo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, nos EUA, destacando o protagonismo de Rússia e China.

Alguns desses países têm laços com a Venezuela desde os primeiros anos da presidência de Hugo Chávez, enquanto outros surgiram como uma salvação econômica em meio à crescente pressão internacional.

Cada um desses países tem motivações financeiras e geopolíticas distintas para apoiar o regime de Maduro. Mas especialistas apontam que Rússia e China, com seu poderio militar e econômico, além de influência global, cumprem um papel fundamental na sobrevivência política do líder venezuelano.

Principais aliados

Enquanto a Rússia oferece apoio financeiro e militar significativo à Venezuela, a China atua como o principal credor do país e seu maior comprador de petróleo, utilizando intermediários para evitar as sanções dos EUA, de acordo com especialistas.

Forsans, da Universidade de Essex, afirma que "Maduro tem dependido de ambos os países (China e Rússia) para sobreviver".

Ele diz que, "além de uma ideologia compartilhada e do desejo comum de desafiar a supremacia dos EUA, Rússia e China estão interessadas em proteger seus investimentos, garantir acesso privilegiado ao petróleo e aos minerais abundantes da Venezuela, e assegurar que as dívidas acumuladas sejam pagas".

No entanto, o apoio da Rússia e da China apresenta características distintas, como ressalta Forsans. Ele diz que o apoio russo é "parcialmente ideológico e motivado pelo comércio".

"Rússia e Venezuela compartilham o interesse de contrabalançar e enfraquecer o poder dos EUA. Empresas petrolíferas russas estão envolvidas em grandes projetos de exploração de petróleo e minerais na Venezuela, e o país se tornou o principal comprador de armas russas e bens essenciais necessários após o colapso econômico e as sanções dos EUA", afirma.

O especialista acrescenta que "a Rússia investiu significativamente na Venezuela desde o governo Chávez. Essa parceria permite à Rússia beneficiar-se do petróleo venezuelano barato e estabelecer uma presença no 'quintal' dos EUA. Além disso, a Rússia é um credor importante do regime, tendo concedido bilhões em empréstimos durante o governo Chávez."

Vladimir Rouvinski, diretor do Laboratório de Política e Relações Internacionais (PoInt) e professor associado do Departamento de Estudos Políticos da Universidade Icesi em Cali, na Colômbia, lembra que, após Chávez assumir o poder em 1999, as relações da Venezuela com Washington se deterioraram rapidamente, levando a liderança chavista a buscar "alianças políticas além do Hemisfério Ocidental, especialmente com nações que se opunham à ordem mundial liberal estabelecida".

"A Venezuela encontrou um parceiro disposto na Rússia pós-soviética", diz. "Naquela época, Moscou já tinha experiência em apoiar líderes latino-americanos que haviam entrado em conflito com Washington, como seu apoio ao presidente colombiano Ernesto Samper no final dos anos 1990."

Rouvinski ressalta, porém, que "a lealdade de Moscou a Maduro não se baseia em uma devoção inabalável, mas sim em uma aliança nascida de interesses mútuos sob certas configurações políticas, o que significa que, se essas configurações mudarem, a influência russa desapareceria rapidamente."

Quanto à China, Forsans observa que seu apoio a Maduro se baseia em dois motivos principais: "Primeiro, garantir o pagamento da dívida. Segundo, a China precisa de petróleo e minerais, e a Venezuela possui ambos."

"A China está interessada em garantir o acesso a esses recursos e acredita que isso é mais fácil com o regime atual do que com um governo apoiado pelos EUA", diz Forsans.

Ele relembra que, em crises políticas anteriores da Venezuela, em 2015 e 2019, a resposta da China não foi "ideologicamente motivada".

Em vez disso, Pequim argumentou que o problema deveria ser resolvido pelos venezuelanos, não por potências estrangeiras, acrescenta.

"A postura da China parece ser movida apenas por seus interesses comerciais e financeiros, que ela acredita estarem mais protegidos com o status quo", conclui Forsans.

Apoio econômico

Logo da Rosneft

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Estatal russa Rosneft investiu significativamente nos campos petrolíferos venezuelanos e forneceu crédito para equipamentos militares

Rússia e China têm oferecido apoio econômico essencial para a Venezuela.

Por muitos anos, a Rosneft — estatal russa de petróleo e uma das maiores empresas energéticas do mundo — realizou investimentos significativos nos campos petrolíferos da Venezuela e forneceu crédito para a compra de equipamentos militares.

Considerada por muitos especialistas como o braço político do Kremlin na Venezuela, a Rosneft estabeleceu joint ventures com a PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo, expandindo significativamente seu portfólio de reservas comprovadas, já que a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo cru do mundo.

Além disso, a Rosneft tornou-se a principal fonte de financiamento do regime de Maduro, adiantando pagamentos à PDVSA por petróleo bruto e produtos refinados, de acordo com dados da plataforma financeira Refinitiv Eikon e fontes do setor.

Em 2014, quando o governo de Maduro enfrentou uma grave escassez de moeda estrangeira devido à recessão econômica, a Rosneft concedeu à PDVSA US$ 6,5 bilhões (R$ 36 bilhões, em valores atuais) em empréstimos e adiantamentos.

Em dezembro de 2016, a Rosneft forneceu um empréstimo adicional de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,3 bilhões), garantido por 49,9% da Citgo Holdings, a refinaria da PDVSA nos Estados Unidos.

No entanto, em março de 2020, a Rosneft anunciou surpreendentemente a venda de seus ativos na Venezuela para a Roszarubezhneft, uma empresa controlada pelo governo russo.

A decisão foi motivada pela pressão dos acionistas BP e Catar, que viram suas ações afetadas após o anúncio das sanções americanas à estatal devido às suas operações na Venezuela.

"Embora a Rosneft tenha vendido seus ativos, a Rússia ainda mantém a posse do que antes estava sob controle da Rosneft. Outras empresas russas também estão ativas na Venezuela, potencialmente fornecendo recursos adicionais, reativando investimentos em petróleo e gás e continuando o comércio de recursos naturais", diz Rouvinski, da Universidade Icesi.

"Além disso, a Rússia ajuda a continuar o comércio de petróleo produzido na Venezuela e a entrada de dinheiro no país."

Moscou e Caracas se aproximaram ainda mais após a Rússia ser alvo de sanções ocidentais pela invasão da Ucrânia.

Em uma entrevista em 2023, o vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, destacou a importância da colaboração entre os dois países diante das "tentativas ocidentais de usar a demanda por recursos energéticos como uma ferramenta de pressão política".

"Nossa abordagem de solidariedade é crucial para garantir um equilíbrio saudável entre oferta e demanda no mercado de petróleo, manter a atratividade do investimento na indústria e combater o sentimento especulativo", acrescentou Novak.

A China também concedeu bilhões em empréstimos à Venezuela, principalmente mediante acordos garantidos por petróleo, desde o início dos anos 2000.

Esses acordos permitiram que a Venezuela quitasse sua dívida com remessas de petróleo, garantindo os recursos necessários durante crises econômicas.

Segundo analistas, esse apoio foi fundamental para Maduro, especialmente em um período em que a economia venezuelana encolheu quase 80% na última década.

Dados do Diálogo Interamericano e do Centro de Políticas de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, mostram que a Venezuela é o principal destinatário latino-americano de empréstimos chineses para desenvolvimento, recebendo US$ 59,2 bilhões (R$ 330 bilhões), quase o dobro do valor destinado ao Brasil, que vem em segundo lugar, por exemplo.

A situação é diferente no caso do Investimento Estrangeiro Direto (IED) da China na Venezuela, que tem diminuído, ao contrário da tendência global.

O IED refere-se ao capital destinado à criação ou aquisição de operações em outros países, incluindo fusões, construção de novas instalações, reinvestimento de lucros e empréstimos entre empresas do mesmo grupo.

Apesar disso, a relação bilateral entre China e Venezuela foi elevada a uma "parceria estratégica para todas as condições climáticas", segundo comunicado divulgado pelo governo chinês, em setembro passado, quando Maduro visitou Pequim pela primeira vez em cinco anos.

Na visita anterior, em 2018, a Venezuela havia aderido oficialmente à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), também conhecida como a "Nova Rota da Seda", o projeto diplomático de Xi Jinping para construção de infraestrutura.

Ao final do encontro, o governo chinês saudou a intenção da Venezuela de aderir aos Brics, grupo de países emergentes voltado para a cooperação econômica e o desenvolvimento conjunto, e expressou apoio para alcançar esse objetivo.

Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco anunciou a adesão de seis países em agosto de 2023, incluindo Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Em 1º de janeiro deste ano, quatro deles — Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos — foram admitidos como membros plenos. O presidente argentino, Javier Milei, rejeitou a entrada da Argentina, enquanto a Arábia Saudita ainda considera sua adesão.

Apoio militar e estratégico

A cooperação militar com a Rússia tem sido fundamental para a estratégia de Maduro em manter o controle do regime, segundo especialistas.

A Rússia forneceu equipamentos militares avançados à Venezuela, como caças, tanques e sistemas de defesa aérea.

Em 2019, Moscou enviou conselheiros militares e tropas para a Venezuela.

Segundo especialistas, essa presença destacou o compromisso da Rússia em defender seu aliado contra possíveis intervenções externas.

Naquele ano, durante a crise política que levou à autoproclamação de Juan Guaidó, líder da oposição e presidente da Assembleia Nacional, como presidente interino com apoio dos EUA, o então presidente americano, Donald Trump, reiterou que "todas as opções estavam na mesa", sugerindo a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela, uma ideia que já havia levantado em 2017.

Na ocasião, Trump afirmou que a Venezuela, sendo "vizinha" dos EUA, poderia ser alvo de uma intervenção militar para resolver a crise no país, onde meses de protestos contra Nicolás Maduro causaram distúrbios violentos e deixaram mais de 100 mortos.

"Temos tropas em lugares distantes, mas a Venezuela está próxima, e as pessoas estão sofrendo e morrendo", disse Trump em 2017.

Em resposta, o ministro da Defesa da Venezuela, general Vladimir Padrino López, classificou a ameaça de Trump como "um ato de loucura e extremismo", acusando uma elite extremista de governar os EUA.

Rouvinski, da Universidade Icesi, diz que "a Marinha russa já está presente na Venezuela, e Moscou não hesitaria em fornecer apoio militar adicional a Maduro, se necessário, potencialmente através do Wagner ou outros grupos paramilitares, para ajudá-lo a lidar com forças de oposição".

Durante os protestos após a eleição de 28 de julho, surgiram vídeos nas redes sociais mostrando um homem com roupa de camuflagem ostentando um emblema do Grupo Wagner, um grupo paramilitar russo, ao lado de policiais venezuelanos em Caracas.

Essas imagens geraram preocupação entre a oposição e observadores internacionais sobre a presença do grupo na Venezuela, embora a BBC não tenha conseguido verificar essas informações de forma independente.

Homens seguram bandeira do grupo Wagner

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Há relatos não verificados de que combatentes do grupo Wagner teriam sido vistos durante protestos anti-Maduro após eleições contestadas

A China também contribuiu para ampliar as capacidades militares da Venezuela, embora em menor escala.

Tecnologias e treinamentos chineses foram incorporados às Forças Armadas venezuelanas, melhorando sua capacidade operacional, segundo especialistas.

Além disso, tecnologias chinesas de vigilância e cibersegurança foram usadas pelo governo venezuelano para monitorar e controlar a dissidência interna, consolidando ainda mais o poder de Maduro, acrescentam eles.

Apoio diplomático

No cenário diplomático, Rússia e China têm protegido consistentemente a Venezuela do isolamento internacional.

Ambos os países vetaram resoluções apoiadas pelos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU) que visavam pressionar Maduro a renunciar.

Em 2019, o Conselho de Segurança da ONU votou duas resoluções sobre a Venezuela, mas nenhuma foi aprovada devido a divergências entre EUA, Rússia e China.

Nove dos 15 membros, incluindo Alemanha, França e Reino Unido, apoiaram o rascunho dos EUA pedindo uma "restauração pacífica da democracia" e eleições. No entanto, Rússia e China vetaram a proposta. O enviado russo Vassily Nebenzia afirmou que o texto visava a mudança de regime, disfarçado de preocupação humanitária.

Naquele mesmo ano, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou: "Faremos tudo para apoiar o governo legítimo da Venezuela".

A China manifestou apoio semelhante.

Em 2019, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, destacou: "A interferência externa e as sanções unilaterais só complicarão a situação e não ajudarão a resolver os problemas reais."

Apoio de outros aliados

Um homem passa por uma parede pintada com a bandeira cubana que diz

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Cuba tem sido um aliado próximo da Venezuela, oferecendo assistência em segurança e inteligência, dizem especialistas

Além de Rússia e China, a Venezuela estabeleceu relações com outras nações que ofereceram diferentes formas de apoio, destacam especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Cuba, por exemplo, tem sido considerada um aliado próximo, fornecendo assistência em segurança e inteligência, em troca de petróleo venezuelano.

Agentes cubanos desempenham papéis importantes no aparato de inteligência da Venezuela, ajudando a identificar e neutralizar ameaças da oposição, além de "prevenir deserções e conspirações" dentro das Forças Armadas venezuelanas, diz à BBC News Brasil Will Freeman, especialista em estudos latino-americanos no Council on Foreign Relations (CFR), centro de estudos baseado nos Estados Unidos.

A Turquia também se destacou como um parceiro significativo, especialmente em transações econômicas.

Em 2018, a Turquia concordou em refinar ouro venezuelano, contornando sanções dos Estados Unidos. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, expressou apoio enfático a Maduro, criticando as políticas que considera intervencionistas dos Estados Unidos.

Naquele ano, Erdogan afirmou que a Venezuela foi injustamente alvo de sanções econômicas e disse que "não aprova essas medidas que ignoram as regras do comércio global".

Ele defendeu seu "amigo" Maduro, dizendo que o líder venezuelano enfrenta "ataques manipulativos de certos países e sabotagem por parte de assassinos econômicos."

O Irã, que também é alvo de sanções dos Estados Unidos, também prestou assistência crucial.

Em 2020, Teerã enviou vários navios-tanque de gasolina para a Venezuela, aliviando a severa escassez de combustível do momento.

Apesar de a Venezuela ter a maior reserva comprovada de petróleo cru do mundo, sua indústria necessita de importação de químicos e peças de reposição produzidos pelos Estados Unidos.

Futuro das relações

Com o aumento dos protestos e a crescente pressão internacional, especialistas dizem que o futuro de Maduro é incerto.

No entanto, de acordo com Freeman, do CFR, o líder venezuelano "pode se tornar ainda mais dependente de suas conexões com Turquia, Rússia e China", conforme os próximos acontecimentos.

"Maduro pode acabar se vinculando ainda mais a esses Estados-párias, caso seja amplamente repudiado na América Latina", afirma Freeman.

Ele ressalta que este é um "momento decisivo" e que muito dependerá de como "Brasil, Colômbia e México liderarão o restante da América Latina".

Forsans, da Universidade de Essex, diz que "não haverá mudança de posição dos aliados quanto à Venezuela".

"Rússia, China e Irã foram os primeiros a parabenizar Maduro, então não mudarão de posição e nunca apoiarão o Ocidente", diz.

Rouvinski, da Universidade Icesi, considera que, dada a crescente ruptura de Putin com os Estados Unidos e o Ocidente, "sua aliança com Maduro se tornou mais valiosa do que nunca".

Na avaliação dele, "os interesses russos na Venezuela servem como um sinal estratégico de apoio aos aliados que se opõem às políticas dos EUA, oferecendo 'reciprocidade simbólica' em resposta às ações ocidentais na Ucrânia e na região pós-soviética mais ampla".

Rouvinski acrescenta que, se a oposição derrubar Maduro, "isso enfraqueceria o valor do apoio russo a regimes iliberais, forçando Putin a reconstruir sua reputação como aliado confiável".

Por outro lado, "se Moscou conseguir manter Maduro no poder, isso fortaleceria sua influência entre regimes autoritários globalmente", acrescenta.

Como resultado, diz Rouvinski, "Moscou pode intensificar seus esforços para proteger Maduro, usando recursos políticos, econômicos e militares, apesar de seu envolvimento na guerra na Ucrânia".

Apesar disso, o especialista descreve a Venezuela como "uma mala sem alça para a Rússia", destacando que a relação com Moscou é "desequilibrada".

"Maduro acredita que pode obter mais benefícios da Rússia, como créditos, apoio financeiro e político, do que pode oferecer em troca. Se as circunstâncias mudarem, a Venezuela provavelmente priorizaria negociações com empresas ocidentais e a China, que têm mais recursos que a Rússia".

Mas Freeman, do CFR, diz que Pequim está ciente dos riscos de apoiar Maduro.

Em um relatório de investimento recente do governo chinês, Liu Dajiang, então conselheiro econômico e comercial da embaixada da China em Caracas e agora diretor-adjunto no departamento de comércio de Pequim, afirma que espera que as empresas chinesas "façam novas contribuições para o desenvolvimento da parceria estratégica abrangente de todos os climas" entre os países.

Contudo, Liu também recomenda realizar uma "pesquisa e investigações profundas" sobre as condições políticas, macroeconômicas e setoriais da Venezuela antes de tomar decisões de investimento.

O alto funcionário chinês destaca que a Venezuela é considerada um país com riscos comerciais relativamente altos, e que as sanções dos Estados Unidos podem "criar vários obstáculos" para as empresas chinesas que queiram fazer negócios lá.

E acrescenta: "Atualmente, as empresas chinesas que realizam negócios na Venezuela enfrentam uma situação na qual os parceiros venezuelanos são incapazes de quitar suas dívidas a tempo".

A IEIT Systems, uma fabricante de servidores e outros produtos de TI listada na bolsa de valores de Shenzhen, na China, relatou que possui uma dívida não recebida de 294,91 milhões de yuan (US$ 40,7 milhões ou R$ 230 milhões) da VIT, uma joint venture entre seu acionista controlador, Inspur, e uma empresa estatal venezuelana.

Essa dívida total tem sido considerada "irrecuperável" desde 2016, segundo relatórios anuais anteriores, pois "não se espera recuperar [o recebível] devido ao impacto dos riscos cambiais na Venezuela".

Apesar desse cenário, "com Maduro no poder por mais um mandato, China e Rússia podem aprofundar sua relação comercial", diz Forsans. "Uma mudança de regime é um salto no desconhecido."




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