O governador da Flórida, o republicano Ron DeSantis, anunciou neste domingo (21/1) a sua desistência da corrida presidencial de 2024 nos Estados Unidos. Ele manifestou apoio ao ex-presidente Donald Trump.
O anúncio foi divulgado em um vídeo compartilhado nas redes sociais e causou surpresa, porque foi feito dias antes das primárias republicanas em New Hampshire, que acontece na terça-feira (23/1).
DeSantis era um dos principais adversários de Trump para concorrer à indicação para disputar a Casa Branca em novembro pelo Partido Republicano. A sua saída deixa Nikki Haley, ex-embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, como a única rival significativa de Trump.
Na segunda-feira (15/1), Trump havia vencido com folga as primeiras prévias para a disputa pela Casa Branca do Partido Republicano, Eleitores republicanos no Estado de Iowa, historicamente o primeiro a votar, escolheram Trump em uma vitória histórica.
Ele obteve o maior número de votos em 99 condados de Iowa, perdendo em apenas um, mas por um único voto. Trump obteve 51%, contra 21% de DeSantis e 19% de Haley. Ninguém havia vencido uma disputa em Iowa por mais de 12 pontos de diferença para o segundo candidato antes.
Após a derrota inicial, DeSantis passou a focar principalmente além das prévias de New Hampshire, onde Haley está à frente de Trump em algumas pesquisas, e concentrou o seu olhar na Carolina do Sul, antes de anunciar a sua desistência.
Em um vídeo de quase cinco minutos, compartilhado no X (antigo Twitter), DeSantis disse que a sua campanha "fez tudo o que podia".
“Se houvesse algo que eu pudesse fazer para produzir um resultado favorável – mais ações de campanha, mais entrevistas, eu faria”, disse ele. "Não temos um caminho claro para a vitória."
No vídeo, DeSantis disse que apoiaria o ex-presidente americano porque “ficou claro” que “a maioria dos eleitores republicanos nas primárias quer dar outra chance a Donald Trump”.
Embora o governador da Flórida tenha reconhecido “desentendimentos” com Trump, ele disse que o ex-presidente é “superior ao atual titular, Joe Biden”.
“Isso está claro”, acrescentou. "Assinei um compromisso de apoiar o candidato republicano e honrarei esse compromisso."
Donald Trump, Nikki Haley e Ron DeSantis eram os principais nomes do Partido Republicano; agora só o ex-presidente e Haley seguem na disputa
Em discurso aos eleitores neste domingo, Trump disse que a sua campanha "recebeu a notícia de que um dos nossos adversários, uma pessoa muito capaz, havia desistido."
“Ao fazer isso, [DeSantis] nos apoiou”, acrescentou o ex-presidente, sob aplausos.
Ele prosseguiu dizendo acreditar que “a maioria” dos votos de DeSantis, “ou certamente muitos deles”, irão para sua campanha – mas acrescentou “não precisamos deles”.
Vários apoiadores de Trump presentes no evento disseram à BBC que gostam de DeSantis, mas acham que “não é a hora dele” se tornar o candidato republicano à presidência.
Após o anúncio de DeSantis, a campanha do ex-presidente apelou “que todos os republicanos se unam em apoio ao presidente Trump” e classificou Haley como “a candidata dos globalistas e democratas que farão tudo para impedir o movimento America First”.
DeSantis também atacou Haley e a chamou de membro da “velha guarda republicana – uma forma reembalada de corporativismo requentado”.
Haley respondeu insistindo que é a conservadora – a “única” – que pode derrotar o atual presidente dos EUA, Joe Biden.
“Há duas pessoas nesta corrida agora”, disse ela à CNN em New Hampshire, referindo-se a si mesma e a Trump. “Isso é o que queríamos o tempo todo.”
DeSantis já foi visto como o candidato mais capaz de derrotar Trump, mas o seu desempenho com o eleitorado foi aquém do esperado e ele perdeu espaço para o ex-presidente.
Em Iowa, ele ficou em segundo lugar por pouco, recebendo 2% mais votos do que Haley, embora tenha sido indiscutivelmente o que mais fez campanha entre seus concorrentes republicanos no Estado.
As manchetes da mídia norte-americana passaram a descrever a sua campanha como "em modo de sobrevivência", após seu decepcionante desempenho em Iowa.
A carreira política do governador teve ajuda fundamental de Trump no passado. Ex-oficial da Marinha, DeSantis cumpria segundo mandato como membro pouco conhecido da Câmara dos Representantes dos EUA quando recebeu apoio do ex-presidente em 2018.
Trump apoiou uma série de legislações conservadoras de DeSantis, que incluiu a restrição do aborto e o afrouxamento das leis sobre armas.
Depois de ter conseguido a reeleição no ano passado por mais de 1,5 milhão de votos, a maior margem no Estado em mais de 40 anos, ele foi apontado como o homem que levaria adiante o movimento America First (América primeiro, em tradução livre) de Trump.
Mas falhas na campanha, problemas financeiros e um ataque do lado de Trump prejudicaram a sua outrora promissora candidatura.
A saída dele da disputa neste domingo permite que DeSantis evite um possível terceiro lugar em New Hampshire, onde especialistas apontam que ele poderia ficar atrás de Haley nas votações, porque a candidata concentrou muito mais de seus recursos no Estado.
Uma pessoa que conhecia os planos de DeSantis para a disputa em New Hampshire disse que foi pega completamente de surpresa com o anúncio do governador.
Essa pessoa, que pediu para não ser identificada, disse que a campanha do governador havia acabado de confirmar planos para o próximo sábado para celebrar os possíveis votos de terça-feira.
Mas já havia alguns indícios de uma possível desistência de DeSantis, antes do anúncio dele. O governador havia desistido de várias aparições planejadas na mídia para este domingo e tinha somente um evento agendado em New Hampshire.
Chris Ager, presidente do comitê estadual do Partido Republicano de New Hampshire, disse à BBC que “há algum tempo a disputa está caminhando para um embate entre Trump e Haley”.