A combinação de alta urbanização e os impactos já praticamente inevitáveis das mudanças climáticas resultam em aumento de riscos para quem vive nesses lugares, como elevação do nível do mar, inundações e secas, que geram falta de água. Dentro desse cenário, o surgimento das Cidades-esponja se faz altamente necessário e já vem sendo implementado com sucesso mundialmente.
Só na região da América Latina e do Caribe, por exemplo, cerca de 80% das pessoas (em torno de 588 milhões) vivem em centros urbanos, segundo dados do relatório "Estado das Cidades da América Latina e Caribe", da Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT). No Brasil, mais especificamente, são 61% (124,1 milhões da população) em áreas urbanas, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2022.
A China é um dos primeiros países a implementar, em larga escala, a criação de cidades-esponja em seu território. Foram mais de 16 cidades desde de 2012, quando começaram os projetos. Aqui, a vista do parque Jinhua Yanweizhou, na cidade de Jinhua.
A concentração de pessoas somada a alteração drástica de paisagens e a processos de impermeabilização do solo fazem das cidades vulneráveis às variações climáticas (que vêm ocorrendo com maior frequência), como às chuvas mais intensas, tal como aconteceu no estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, em maio de 2024.
Dentro desse cenário, a transformação de cidades comuns em Cidades-esponja é uma saída urbanística encontrada para que a natureza, os impactos climáticos e as estruturas urbanas convivam de uma maneira mais inteligente.
Uma das principais mudanças na hora de transformar uma cidade comum em uma Cidade-esponja é cobrir o solo com material permeável, como na foto do parque Jinhua Yanweizhou, que absorve o excesso de água das chuvas e pode ajudar a encher lençóis freáticos e aquíferos, ambos no subsolo.
“Cidade-Esponja é um conceito de cidade sensível à água, remetendo à situação na qual a mesma possui a capacidade de deter, limpar e infiltrar águas usando soluções baseadas na natureza”, define um artigo sobre o tema publicado pelo Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis (da sigla OICS, uma plataforma virtual de mapeamento e divulgação de conteúdos e soluções urbanas inovadoras em sustentabilidade apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o PNUMA).
O objetivo das mudanças arquitetônicas e urbanísticas que fazem uma cidade entrar para o conceito sustentável de “esponja” é encontrar soluções que ajudem a absorver as águas de chuva – seja em “áreas livres ou construídas”, informa o OICS. A ideia também é recarregar os aquíferos e lençóis freáticos locais com essa água, bem como deixar o excedente de chuva escorrer para áreas possíveis de serem alagáveis, diz a fonte.
A plataforma explica ainda que uma Cidade-Esponja deve ser “projetada para funcionar como uma floresta: portanto ela possui cobertura vegetal que sequestra carbono”, diz. Além disso, uma Cidade-esponja também se dedica à proteção e à introdução de biodiversidade para que sua estrutura funcione.
Isso significa que áreas verdes com árvores e animais próprios podem surgir. “As cidades-esponja têm o potencial de contribuir para a melhoria de outros aspectos essenciais para a qualidade de vida, bem-estar e atração de empresas da nova economia ‘verde’ e criativa”, afirma a plataforma.
O Jinhua Yanweizhou Park inundado mostra como funcionam as áreas alagadas na hora de conter o excesso de água das chiuvas.
Sem excesso de chuvas, uma estrutura armada dentro dos parâmetros de uma Cidade-esponja, como as do Parque Jinhua Yanweizhou, na China, muda o visual urbano, inserindo muito mais vegetação e estruturas que suportam inundações, como pontes elevadas, por exemplo.
São muitas as medidas que fazem uma cidade ser, de fato, uma Cidade-esponja. Mas entre elas, o artigo da revista Elsevier destaca:
Cidades pelo mundo como Jinhua e Xangai, na China, Nova York, nos Estados Unidos, Berlim, a capital da Alemanha, e Copenhague, na Dinamarca – só para citar algumas – já aderiram a elementos que deram a elas características de esponja. A China é um dos países que mais investe em criar Cidades-esponja, com 16 cidades adaptadas dessa forma.