O terremoto de magnitude 7,7 que atingiu Taiwan na manhã desta quarta-feira (3), o mais forte em 25 anos, deixou ao menos nove mortos, 70 desaparecidos e mais de 1.011 feridos. Mas, segundo especialistas, o cenário poderia ser bem pior.
Isso porque, a ilha habitada por 23 milhões de pessoas fica situada ao longo do “Anel de Fogo”, uma linha de falhas sísmicas que circunda o Oceano Pacífico, onde ocorre a maioria dos terremotos do mundo.
A área é particularmente vulnerável a tremores devido à tensão acumulada pelas interações de duas placas tectônicas, a Placa do Mar das Filipinas e a Placa da Eurásia, que podem levar a liberações repentinas na forma de terremotos. Além disso, a paisagem montanhosa da região pode ampliar o tremor do solo, provocando deslizamentos de terra.
O cenário é ideal para uma catástrofe com centenas de milhares de mortes, mas anos de investimento em alta tecnologia na construção civil, deixou Taiwan mais preparada para lidar com esses episódios.
O terremoto desta quarta-feira teve o seu epicentro perto do leste do condado de Hualien, onde houve deslizamentos de terra e queda de túneis e rodovias, mas causou apenas pequenas perdas na capital Taipei, apesar dos tremores também terem sido sentidos por lá.
“A preparação de Taiwan para terremotos está entre as mais avançadas do mundo”, disse Stephen Gao, sismólogo e professor da Universidade de Ciência e Tecnologia do Missouri à agência Associated Press. “A ilha implementou códigos de construção rigorosos, uma rede sismológica de classe mundial e amplas campanhas de educação pública sobre segurança contra terremotos.”
Segundo Gao, o governo revê continuamente o nível de resistência aos terremotos exigido para edifícios novos e existentes — o que pode aumentar os custos de construção — e oferece subsídios aos residentes dispostos a verificar a resistência dos seus edifícios aos terremotos.
Um exemplo disso é que, após o terremoto de 2016 em Tainan, na costa sudoeste da ilha, cinco pessoas envolvidas na construção de um prédio de apartamentos de 17 andares que foi a única grande estrutura a desabar, matando dezenas de pessoas, foram consideradas culpadas de negligência e condenadas à prisão.
No mais, a ilha também promove regularmente exercícios de terremoto em escolas e locais de trabalho, enquanto a mídia pública e os celulares transmitem regularmente avisos sobre terremotos e segurança.
“Essas medidas aumentaram significativamente a resiliência de Taiwan aos terremotos, ajudando a mitigar o potencial de danos catastróficos e perda de vidas”, disse Gao.
A mudança na forma como Taiwan se prepara para possíveis terremotos foi uma consequência do catastrófico terremoto de 1999, com magnitude de 7,7. O tremor causou 2.400 mortes, feriu cerca de 100 mil pessoas e destruiu milhares de edifícios.
Na época, o governo foi bastante criticado por sua resposta demorada ao abalo. Desde então, houve diversas reformas administrativas que melhoraram a resposta a emergências e a redução de desastres em Taiwan, afirmou Daniel Aldrich, professor de ciência política e políticas públicas na Northeastern University, para a Associated Press.