O Papa Francisco fez sua declaração mais forte sobre a aceleração da crise climática nesta quarta-feira (4). O pontífice atribuindo a culpa às grandes indústrias, aos líderes mundiais e ao estilo de vida ocidental, que taxou de “irresponsável”.
“As nossas respostas não têm sido adequadas, enquanto o mundo em que vivemos está em colapso e pode estar a aproximar-se do ponto de ruptura”, escreveu o papa numa encíclica de 7.000 palavras chamada Laudate Deum (“Louvado seja Deus”).
“Alguns efeitos da crise climática já são irreversíveis, pelo menos durante várias centenas de anos, como o aumento da temperatura global dos oceanos, a sua acidificação e a diminuição do oxigênio”, escreveu.
O papa dirigiu duras críticas aos negacionistas e retardatários das alterações climáticas.
“Apesar de todas as tentativas de negar, ocultar, encobrir ou relativizar a questão, os sinais das alterações climáticas estão aqui e são cada vez mais evidentes. Ninguém pode ignorar o fato de nos últimos anos termos assistido a fenômenos meteorológicos extremos, períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gritos de protesto”, escreveu.
As alterações climáticas provavelmente só irão piorar e ignorá-las aumentará “a probabilidade de fenômenos extremos que são cada vez mais frequentes e intensos”, escreveu ele.
O papa prestou especial atenção à responsabilidade desproporcional dos países ricos pelas alterações climáticas.
“Se considerarmos que as emissões por indivíduo nos Estados Unidos são cerca de duas vezes maiores do que as dos indivíduos que vivem na China, e cerca de sete vezes maiores do que a média dos países mais pobres, podemos afirmar que uma ampla mudança no estilo de vida irresponsável ligada com o modelo ocidental teria um impacto significativo a longo prazo”, escreveu ele.
Ele também culpou líderes e empresas que, segundo ele, priorizam os lucros e ganhos de curto prazo em detrimento da ação climática.
“Lamentavelmente, a crise climática não é propriamente um assunto que interesse às grandes potências econômicas, cuja preocupação é com o maior lucro possível ao mínimo custo e no menor tempo.”
Ele até dirigiu críticas à sua própria igreja, referindo-se a “certas opiniões desdenhosas e pouco razoáveis que encontro, mesmo dentro da Igreja Católica”.
A declaração do papa é uma continuação da sua carta encíclica Laudato Si (“Louvado sejas”) de 2015, que foi o primeiro escrito pontifício completamente dedicado às questões ecológicas, que têm sido uma pedra angular do seu papado.
Aparece antes da conferência climática COP28 da ONU, que começa no final de novembro em Dubai, onde os países serão submetidos a um “balanço global” para avaliar a rapidez com que estão progredindo em direção aos objetivos climáticos.