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Presente em muitas mesas da ceia ou do almoço tradicional de celebração de Natal, o peru assado é um prato típico natalino não só em muitos países europeus, como também em vários locais da América Latina, entre outras partes do mundo.
Em meio aos diversos pratos saborosos servidos nessa época do ano, que variam segundo os costumes locais, o peru segue ao longo dos anos tendo um papel de protagonista da refeição natalina de muitas famílias. Mas como e quando surgiu essa tradição? E essa ave de grande porte é originária de qual lugar? Descubra a seguir.
O animal peru não é originário do país Peru, porém esse grande ave (Meleagris gallopavo) tem uma ligação direta com outro país da América Latina: o México. Este é o local de origem do peru selvagem que era criado e consumido por povos originários como os astecas, conforme explica o site do The Museum of English Rural Life (uma instituição britânica destinada a registrar a vida no campo no país). Havia na civilização asteca até mesmo um “deus peru”, o Chalchiutotolin, deus das pragas.
Com o tempo, o animal também passou a ser encontrado nas demais regiões próximas ao México, nas Américas do Norte e Central, conforme relata a ADW (Animal Diversity Web), enciclopédia online mantida pelo Museu de Zoologia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Segundo afirma o professor de História, Carlos Roberto Antunes dos Santos no artigo intitulado “História do peru na Ceia de Natal”, publicado no site da Universidade Federal do Paraná, “os perus eram criados pelos astecas há muito tempo e geralmente eles o cozinhavam acompanhado de cebola, alho-poró e molho à base de pimenta vermelha”.
De acordo com esse texto, em 1519, quando iniciou o contato entre os povos originários e os colonizadores espanhóis no México, um dos líderes espanhóis responsáveis pelo processo dominador e colonizador, Hernán Cortés, tomou conhecimento do peru como ave para alimentação no mercado de Tenochtitlán – antiga capital asteca que foi destruída e onde hoje é localizada a Cidade do México. Foi Hernán que levou alguns exemplares de peru para a Europa.
O museu inglês afirma no artigo “Why we eat turkey at Christmas” (“Por que comemos peru no Natal?”, em tradução livre) que essas aves inicialmente confundiram os espanhóis, que a consideravam “galinhas tão grandes quanto pavões”. Mas por conta de seu tamanho farto e seu status exótico, logo as tornaram populares nas mesas de jantar dos nobres.
A ilustração humorística publicada em 1906 nos Estados Unidos, mostra o interior de uma cabana na fronteira com o México, onde se vê mesa está posta para um jantar de Natal com um belo peru. Mas as pessoas ao redor da mesa ficam surpresas ao descobrir uma flecha cravada no peru, disparada por um indígena que está do lado de fora da cabana.
A partir de seu sucesso na Espanha, o peru foi sendo introduzido em outros países da Europa, especialmente na Inglaterra que era uma potência rica no século 16, chegando a ave por lá em 1541, de acordo com a Encyclopaedia Britannica (plataforma de conhecimento e educação do Reino Unido).
Segundo a enciclopédia, quando a ave chegou à Inglaterra, adotou o nome turkey-cock – nome que anteriormente era usado para a galinha d'angola das terras islâmicas onde hoje é a Turquia. Isso gerou uma confusão com o nome inglês da ave até os dias atuais, tanto que a nação Turquia pediu oficialmente para se chamar internacionalmente “Türkiye” desde 2022, e não mais “Turkey”, como era denominada antes.
O peru começou a aparecer nas ceias de Natal inglesas ainda durante o século 16, já que era considerada uma ave nobre. O poeta e fazendeiro Thomas Tusser escreveu sobre como os perus estavam se tornando algo típico da mesa de jantar de Natal em 1573: “Bom pão e boa bebida, pudim e salsicha de carne e boa mostarda. Carne de vaca, de carneiro e de porco, porco, vitela, ganso e capão, e peru bem servido”.
O texto da Universidade do Paraná comenta também que, anteriormente, o ganso era a ave principal do Natal britânico, mas o peru foi ganhando protagonismo. Como conta o museu inglês, muitas das tradições modernas de Natal da Inglaterra têm origem na influência da família real vitoriana – das árvores de Natal ao peru que a nobreza passou a consumir na época de festas, especialmente no século 19.
E, conforme o peru se tornava cada vez mais consumido na Inglaterra e em outros países europeus, a ave começou a ser conhecida aos poucos também nas Américas como um prato nobre por conta da influência da colonização inglesa em boa parte da América do Norte e das colonizações espanhola e portuguesa nas demais terras do continente.
Porém, durante séculos, o peru era um produto exclusivo de nobres e das classes abastadas, e foi somente após a Segunda Guerra Mundial que a sua criação se tornou mais barata, explica o artigo do museu. Foi então que o peru se tornou o prato natalino preferido de grande parte da população em diversos países, já que as pessoas comuns puderam ter acesso à ave nobre e a escolheram para datas especiais, como o Natal e, nos Estados Unidos, o Dia de Ação de Graças.
