Pular sete pequenas ondas do mar para atrair boa sorte é uma tradição popular na virada do ano de quem está no Brasil. Assim como varrer a entrada da casa é um ato típico da meia-noite no Réveillon mexicano; ou montar uma mesa repleta de objetos e comidas de formato redondo faz parte do hábito de Ano Novo nas Filipinas. A lista de superstições para garantir a chegada de um ano mais prodigioso pode continuar com ainda muitos e muitos itens, a depender do local e das crenças individuais, e do período da história.
Por isso mesmo, o Ano Novo está entre as épocas do ano nas quais mais se acumulam superstições – atitudes que, de acordo com a Encyclopedia Britannica (plataforma de conhecimento do Reino Unido), não têm nenhuma “substância racional” em sua origem, ainda que sirvam para reforçar as crenças de quem as pratica.
“As superstições podem ser classificadas, de maneira geral, como religiosas, culturais e pessoais”, diz a Britannica. “E, muitas vezes, a religião de uma pessoa é a superstição de outra: o imperador romano Constantino se referiu a algumas práticas não-cristãs como superstição; o historiador romano Tácito chamou o cristianismo de superstição perniciosa; a veneração católica romana de relíquias, imagens e santos é considerada supersticiosa por muitos protestantes; os cristãos consideram muitas práticas hindus como supersticiosas; e os adeptos de religiões podem considerar supersticiosa a relação dos povos aborígenes australianos com seu totem. Por fim, todas as crenças e práticas religiosas podem parecer supersticiosas para uma pessoa sem religião”, completa a enciclopédia.
Em outras palavras, algo tão presente nas relações sociais humanas há tantos séculos reforça a inclinação das pessoas em acreditar no que, na maioria das vezes, sequer é comprovado ou mesmo que tenha qualquer evidência, por influência de tradições, hábitos culturais, medo do desconhecido e fé em certos preceitos religiosos.
Ainda de acordo com a Britannica, celebrar a chegada de um novo ano está entre as tradições mais antigas existentes na humanidade. Junto com ela, portanto, vêm superstições populares que também foram encontradas “na maioria dos períodos da história e na maior parte do mundo”. Entre elas estão, por exemplo, a crença no mau-olhado e a eficácia dos amuletos (usar alguma outra peça de vestuário colorida na virada do ano, algo típico do Réveillon de diversos países, entraria nesta categoria).
Mesmo assim, os rituais e superstições de Ano Novo mudaram muito com a passagem do tempo. Essa época já foi de “pesar e expectativa” para os gregos antigos, por exemplo, diz a Britannica, os quais usavam a imagem de um homem idoso como símbolo do ano que já passou e de um bebê para o ano que chegava.
Mas como nem sempre a virada do ano aconteceu no período em que hoje seria o mês de janeiro, outros elementos – principalmente da natureza – estavam envolvidos nesses festivais de celebração. “No início da Idade Média, a maior parte da Europa cristã considerava o dia 25 de março, a Festa da Anunciação, como o início do Ano Novo”, explica a enciclopédia. A data está relacionada com o equinócio da primavera no Hemisfério Norte.
Também ligado ao equinócio da primavera estava a celebração de Ano Novo mais antiga que se tem notícias, diz a Britannica. Trata-se do Akitu, um ano que começava com a Lua nova na Babilônia, na região da Mesopotâmia, há 2.000 a.C.
Já a prática de fazer uma lista de desejos para que eles se realizem no ano seguinte (sem revelá-los a ninguém, por conta do… mau olhado) é bem mais antiga que todas as celebrações de Ano Novo, revela a Encyclopedia Britannica. A lista para se livrar de hábitos ruins e adotar outros melhores pode ser um costume de mais de 4 mil anos, da época babilônica. “É provável que essas primeiras resoluções tenham sido feitas em uma tentativa de obter o favor dos deuses”, diz a plataforma.
“A superstição tem sido profundamente influente na história. Mesmo nos chamados tempos modernos, em uma época em que as evidências objetivas são altamente valorizadas, são poucas as pessoas que, se pressionadas, não admitiriam nutrir secretamente uma ou duas crenças ou superstições irracionais”, finaliza a Britannica.