Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) descobriram ovos do mosquito Aedes aegypti infectados pelos vírus zika e chikungunya. A pesquisa indicou que os insetos que emergiram dos ovos também estavam contaminados, resultando na transmissão vertical, quando o vírus é transmitido do mosquito adulto para as larvas.
Em entrevista à Folha de São Paulo, o biólogo e pesquisador responsável pela pesquisa, Diego Michel, informou que mecanismos de transmissão semelhantes já eram conhecidos, mas pouco se sabia sobre sua presença em áreas urbanas.
“Pode acontecer de ovos infectados resistirem a ciclos naturais, como períodos de seca, e então eclodirem quando chega o período chuvoso, representando assim um alerta para a vigilância epidemiológica, pois esses indivíduos não precisam procurar hospedeiros humanos para iniciar a transmissão, eles já são altamente infecciosos”, explicou.
Publicado em 23 de fevereiro na revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o artigo apresenta os resultados da pesquisa, que contou com a colaboração de profissionais do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Agentes (Re)emergentes, Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, Unidade Sentinela e Centro de Referência em Medicina Internacional e de Viagens, todos localizados em Goiânia.
A pesquisa foi realizada pelos cientistas em 2021, a partir da coleta dos ovos de Aedes aegypti em Goiânia, abrangendo as regiões Central, Norte, Sul, Leste, Oeste, Sudoeste e Noroeste. Os 1.570 ovos foram cultivados em laboratório e, posteriormente, divididos em 157 reservatórios, com dez unidades em cada um. Eles foram separados por sexo, levando em consideração que o vírus é transmitido aos seres humanos pela picada das fêmeas no período de reprodução.
Assim que os ovos eclodiram, testes PCR foram realizados para detectar a presença de dengue, zika e chikungunya nas larvas. Os resultados foram positivos para chikungunya em 20 indivíduos e 10 para zika.
De acordo com Diego Michel, a descoberta pode representar um problema de saúde pública, já que é possível a transmissão da doença para humanos, mas o tempo de permanência no organismo dos insetos ainda é desconhecido. “Embora não seja possível estimar o tempo exato [de incubação do vírus nos ovos], observamos que ele permanece um bom tempo inativo, e os ovos em si podem durar mais de um ano, o que pode indicar o caminho para futuras pesquisas”, informou à Folha de São Paulo.
O biólogo afirma que as medidas de prevenção já conhecidas são fundamentais para evitar as doenças. “Sabemos que existe a possibilidade de transmissão venérea, que é de um mosquito fêmea para outro macho, além de fêmea para as larvas, mas não sabemos o impacto disso. É por isso que as estratégias de prevenção do mosquito, como evitar criadouros, água parada, utilização de repelentes e também o monitoramento dessas doenças continuam sendo essenciais”, comenta Diego à Folha de São Paulo.