Além de Taveira, que não foi denunciado pelo MP-GO, a investigação identificou outros três empresários, agentes e até amigos de jogadores que intermediaram negociações dos atletas com a máfia das apostas. Conversas obtidas pela Operação Penalidade Máxima indicam que houve casos em que os intermediários encontraram pessoalmente os apostadores, indicaram novos jogadores para o esquema e até receberam valores da quadrilha.
Taveira manteve contato com Romário de novembro até fevereiro de 2023. No jogo seguinte, contra o Botafogo, apostador e jogador combinaram que Bauermann deveria receber um cartão vermelho para compensar o prejuízo da partida anterior. Ele de fato foi punido, mas depois do apito final, por reclamação. Logo após o jogo, Taveira enviou ao apostador um print de uma notícia sobre a expulsão do seu cliente. “Vai aprender... Tirou a virgindade”, escreveu Taveira, em seguida.
O cartão, no entanto, não foi contabilizado pelo site de apostas — e a quadrilha tomou novo prejuízo. Ao longo do mês seguinte, o empresário marcou novos encontros com o apostador para tentar resolver o impasse.
“Tinha que rachar o cara no pau, ser expulso e dane-se”, enviou Taveira a Romarinho em 9 de dezembro.
Ao GLOBO, o empresário negou que tenha participado de acordos de apostas.
— Tenho 30 anos de profissão. Nunca me envolvi com apostas e falei com Bauermann para que ele não se envolvesse.
Um dos intermediários de jogadores junto à quadrilha acabou denunciado pelo MP-GO: o empresário Pedro Gama dos Santos Junior, amigo do zagueiro Victor Ramos, é acusado de ter negociado com os apostadores um pagamento de R$ 100 mil para que Ramos cometesse um pênalti no jogo entre Portuguesa e Guarani, pelo Paulistão deste ano. Na semana anterior ao jogo, Bruno Lopez, o BL, apontado como chefe da quadrilha de apostadores, contou aos comparsas como foi seu contato com Gama.
“Esse cara aí é irmãozão do Victor Ramos. Mano, o cara é mil grau, ele já trabalhou assim lá na Chapecoense, trabalhou também no Goiás, entendeu? Ele falou: ‘Meu, é a primeira de muitas’. Falou que cem conto ele pega, entendeu? Metade antes, metade depois. (...)Já deu pra ver que o Victor Ramos é do game, tendeu? Aí amanhã provavelmente eu vou encontrar pessoalmente com esse assessor”, disse BL. Hoje, Ramos e Gama são réus na Justiça de Goiás.
Dois intermediários de jogadores chegaram a receber valores da quadrilha. Os investigadores encontraram dois comprovantes de pagamentos, que somam R$ 40 mil, para Cleber Vinicius Rocha Antunes da Silva, o Clebinho Fera, empresário que se descreve no Instagram como “Amigo dos Amigos”. O depósito teria sido feito por Camila Silva da Motta, mulher de BL. De acordo com as conversas, os valores eram referentes a acordos para que dois jogadores tomassem cartões amarelos: Pedrinho, do Athletico, e Sidcley, à época no Cuiabá.
Em setembro de 2022, BL disse aos comparsas que tratou diretamente com Clebinho a participação de Sidcley no esquema: “Direto com o empresário dele, sabe quem que é? O Clebinho Fera, Clebinho Fera, ele tem metade dos caras do Athlético Paranaense lá mano, cê é louco”. Clebinho não foi denunciado pelo MP-GO.
Os promotores também localizaram um comprovante de pagamento no valor de R$ 35 mil em nome de Antônio Polidoro Jr., citado pelos apostadores como intermediário do acordo com o jogador Nathan, ex-Fluminense e hoje no Grêmio. Polidoro é uma figura conhecida nos bastidores da bola. Ele é jogador, atualmente atua nas divisões inferiores da França e já namorou celebridades como Jojo Toddynho e Karol Conká.
Seu nome também foi citado num áudio enviado por BL aos comparsas: “Rapazeada, o pix tá no nome do Polidoro, não sei se cês conhece. Ele trampa comigo tem uns dias já... ele tá na França, tá ligado? E ele que intermedia bastante jogador aí pra mim, ele traz bastante jogador, ele que tá na bala direto com o Nathan aí, fechou?". Nathan acabou não sendo escalado por Fernando Diniz para o jogo seguinte e não cumpriu o acordo.
O GLOBO não conseguiu contato com Polidoro, Clebinho Fera e Pedro Gama