O Brasil é o principal produtor global de café, responsável por 40% da produção mundial, acompanhado de longe pelo Vietnã, o segundo maior produtor.
No caso brasileiro, as principais espécies de café são o arábica e o canéfora – que pode ser o conilon ou o robusta (geralmente, são usados como sinônimos por aqui).
O café arábica é valorizado no mercado por suas características sensoriais complexas. Ele pode ter sabores variados como achocolatado, frutado, herbáceo e floral, e geralmente possui mais açúcares e uma acidez mais agradável, o que o torna muito apreciado por especialistas e consumidores.
Por outro lado, o café robusta é preferido pela indústria para a produção de café solúvel e para ser misturado com o café arábica em blends. Isso se deve ao seu perfil de sabor mais forte e ao fato de que é mais resistente e fácil de cultivar.
No Brasil, usamos cerca de 70% de café robusta e 30% de café arábica para o café torrado tradicional que vai aos supermercados.
Tanto aqui como no Vietnã, problemas climáticos reduziram as estimativas de produção de café, o que tem contribuído para o aumento dos preços. Segundo Giovanni Simonetti, analista de commodities da Datagro, o mercado de café enfrenta pressões devido às incertezas sobre as safras desses dois principais produtores. Ele destaca que os indicadores de oferta indicam uma disponibilidade global limitada de café, possivelmente abaixo da demanda, e os estoques continuam baixos.
De olho nesse desbalanço de oferta, produtores brasileiros aumentaram as exportações do café robusta. Além da maior demanda externa, o dólar valorizou 16% em relação ao real de janeiro a julho deste ano – essa oscilação cambial, favoreceu quem queria exportar e elevou os custos, como frete por exemplo.
Assim, o preço do café robusta subiu de R$ 700 para R$ 1.200 por saca de novembro do ano passado a julho deste ano, enquanto o café arábica, que estava em torno de R$ 900, agora custa R$ 1.400.
O aumento no preço do robusta é muito mais significativo do que a elevação no preço do café arábica, por causa da concentração dele usada no país para fazer o café tradicional. "Como o Brasil está exportando muito café conilon para suprir a falta de café do Vietnã, o preço interno desse café também está subindo", afirma Simonetti.
Safra 2023/24 de café
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima em 66,3 milhões de sacas a safra 2023/24 de café do Brasil, um volume superior à estimativa de 61,4 milhões de sacas feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seu último levantamento.
"Embora houvesse uma expectativa positiva em relação à safra no Brasil, durante a colheita, verificou-se que os grãos estavam com um padrão de peneira menor do que o esperado. Como resultado, a estimativa final de safra deve ser menor do que inicialmente projetado", afirma Renato Garcia Ribeiro, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O último fenômeno de La Niña, de 2020 a 2021, afetou negativamente a produção de café no Brasil, prejudicando a safra. O La Niña é um fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico equatorial, que pode causar alterações significativas nos padrões de clima global, como secas e chuvas intensas em diferentes regiões.
Além disso, a próxima colheita de café no Vietnã, prevista para o final deste ano, já está enfrentando problemas. As condições climáticas durante a florada do café em março e abril no Vietnã foram ruins, o que indica que a safra vietnamita de 2024/25 também deve ser menor.
O ciclo do café é diferente de culturas como soja, milho ou cana-de-açúcar, pois o café é uma árvore perene que pode durar até 20 anos.
"Primeiro, surgem as flores, que depois se transformam em pequenos frutos chamados "chumbinhos". Esses frutos crescem e amadurecem ao longo do tempo, passando de verdes para vermelhos, e cada um contém um grão de café. Todo esse processo se estende até a colheita", diz Simonetti. Após o plantio, leva um ano para começar a produzir, reforça o analista.
"Com uma oferta global menor e um consumo que não está diminuindo, os estoques e o balanço entre oferta e demanda continuarão apertados", afirma Ribeiro , do Cepea.
Sudeste brasileiro concentra 86% da produção nacional
A região Sudeste do Brasil, com destaque para o estado de Minas Gerais, é a principal produtora de café do país. Em 2023, os quatro estados da região Sudeste foram responsáveis por 86% da produção nacional de café — somente Minas Gerais contribuiu com cerca de 25% de toda a safra de café do Brasil, segundo dados da Embrapa.
No entanto, a região Sudeste tem enfrentado os impactos das mudanças climáticas, que estão tornando os eventos climáticos mais frequentes e intensos. Em 2024, por exemplo, a região sofreu com quatro ondas de calor que afetaram o Brasil.
De acordo com nota emitida pelo Cepea, os produtores de café estão enfrentando um desafio na safra de 2024/25 por causa do problema com a qualidade dos grãos, que têm saído menores do que o ideal — o que é chamado de "peneira reduzida" e significa que a maioria dos grãos colhidos é menor e não atende aos padrões desejados.
Em relação à tendência dos preços do café para os próximos meses, Simonetti diz que não é possível cravar uma inclinação, já que o clima tanto no Brasil quanto no Vietnã deve continuar ditando os preços no nível doméstico.
Para o consumidor e o produtor, o que resta é acompanhar o clima.