A decisão do Banco Central (BC) em manter os juros em 10,5% coloca o Brasil na segunda colocação entre 40 países com o maior juro real (apenas superado pela Rússia), o que prejudica a economia brasileira, segundo entidades de setores industriais e do varejo, entre outros.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão do Copom foi inadequada e excessivamente conservadora.
Na terça-feira (18), a CNI tinha pedido que o BC continuasse a cortar os juros básicos da economia. Segundo a entidade, a decisão só vai impor restrições adicionais à atividade econômica, com reflexos negativos sobre o emprego e a renda, sem que o quadro inflacionário exija tamanho sacrifício.
“A manutenção do ritmo de corte na Selic seria o correto, pois contribuiria para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem prejudicar o controle da inflação”, defendeu, em comunicado, o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) diz que a manutenção da taxa básica de juros pelo Copom em patamares elevados reflete uma postura cautelosa diante da inflação, que está em patamar baixo para o padrão brasileiro.
Segundo a Abimaq, o atual nível de juros gera preocupações significativas sobre os efeitos adversos no crescimento econômico.
“Com a Selic permanecendo alta, o custo do crédito continua a pressionar negativamente o setor produtivo, desestimulando investimentos essenciais para o desenvolvimento sustentável do país. Essa política, acaba por restringir a capacidade de recuperação econômica, prejudicando a criação de empregos e a competitividade das empresas brasileiras”, acrescenta a associação.
A Associação Paulista de Supermercados (Apas) apontou os efeitos dos juros altos sobre o nível de atividade doméstica.
“Já era uma decisão aguardada pelo mercado, porém, o que estamos observando é que ela pode produzir um efeito negativo, especialmente sobre o consumo das famílias, tendo em vista que nós atualmente temos uma das maiores taxas reais de juros do mundo. Nossa preocupação é que a manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano, interrompendo o ciclo de queda, possa prejudicar tanto o investimento, quanto o consumo das famílias”, afirmou o economista-chefe da Apas, Felipe Queiroz.
A decisão do Copom preocupa a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
“Em linha com os demais setores produtivos do país, a instituição diz que “este é um movimento equivocado, já que ainda haveria espaço para uma redução de 0,25 pontos nesta reunião”.
A estabilização da Selic gera um cenário de menor atratividade para o crédito e, consequentemente, para o setor de comércio e serviços, pois a tendência é que as famílias diminuam seu ritmo de consumo.
Além disso, “o freio na queda da Selic ocasiona prejuízos no setor do comércio com o encarecimento do financiamento para as empresas, o que dificulta o desenvolvimento do país como um todo”, avalia a CNC.
Seguindo a linha crítica à decisão, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) comunicou, em nota, que “a manutenção da taxa prejudica a recuperação da economia, limitando a expansão dos investimentos.”
O Sebrae disse faltar explicação racional para o fato da taxa de juros estar ainda acima dos dois dígitos, quando temos uma inflação anual de menos de 4%.
“Da maneira como está sendo conduzido, o Banco Central não é independente, não serve aos interesses do povo brasileiro, porque está sendo utilizado a serviço dos rentistas, daqueles que ganham dinheiro, tornando ainda mais difícil a vida do trabalhador”, disse Décio Lima, presidente do Sebrae.
Quem também citou a inflação baixa foi o economista-chefe da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, em entrevista à CNN. Para ele, “o risco inflacionário não é latente”.
Para Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), os juros no atual patamar desestimula o crédito para investimentos e o consumo, dificulta um crescimento mais expressivo da economia e limita a geração de empregos”.
Cervone ponderou ainda que as incertezas persistentes quanto ao ajuste fiscal do governo Lula dificultam uma decisão das autoridades monetárias quanto à redução das taxas já que o desequilíbrio das contas públicas é um forte indutor da inflação.
Em entrevista ao WW desta quarta-feira, o ex-diretor do Banco Central Tony Volpon também citou a questão fiscal na cruzada sobre os juros. Para ele, o governo Lula e o Congresso precisam sustentar o marco fiscal para que seja possível reduzir juros.
A Fecomercio-SP também chamou a atenção para o cenário de incerteza fiscal no país.
“O governo admitiu, há alguns meses, que não conseguirá atingir a meta de déficit de gastos neste ano, mas não aproveitou a oportunidade para mostrar um plano de contingência alternativo ao arcabouço fiscal existente”, ressaltou a Fecomercio-SP.
O economista-chefe da Confederação, Felipe Tavares, reforça que ao ancorar as demais taxas de crédito do país, a Selic alta afeta tanto o consumidor, quanto as empresas.
“A redução dos juros é fundamental para dinamizar o custo de capital das empresas e baratear o acesso ao crédito para o consumidor. Com o crédito mais barato, as pessoas têm mais facilidade para adquirir bens, serviços e patrimônios”, explica Tavares.
A decisão de quarta-feira do Copom foi unânime entre os nove membros do colegiado do BC.
O placar da disputa era um dos grandes pontos de atenção dos analistas diante da perspectiva de parte do mercado de que os membros indicados pelo atual governo teriam uma postura mais leniente com a inflação.
*Com informações da Agência Brasil