“Os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
A afirmação consta da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada nesta terça-feira (8), e parece marcar definitivamente o ciclo de aperto monetário que durou três anos.
Na quarta-feira (2) o Copom decidiu, pela primeira vez em três anos, cortar a taxa básica de juros do país, a Selic, em 0,50 ponto percentual. Com isso, a taxa passou de 13,75% para 13,25% ao ano. Antes do atual patamar, a Selic só esteve tão alta em janeiro de 2017, aos 13%, antes do ciclo de cortes que antecedeu o aperto monetário que se encerrou agora.
A indicação de que os próximos cortes nos juros serão da mesma magnitude do promovido em agosto vai ao encontro da estimativa do mercado, que espera Selic de 11,75% ao fim de 2023.
A ata da reunião anterior, em meados de julho, já sinalizava o início do afrouxamento monetário, com a avaliação predominante entre os membros do comitê de que o processo desinflacionário em curso — com consequente impacto sobre as expectativas — poderia permitir acumular a confiança necessária para iniciar “um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.
Ainda de acordo com a ata divulgada hoje, o ritmo de cortes de 0,5 ponto conjuga, de um lado, o “firme compromisso” com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e, de outro, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da melhora das expectativas para a inflação.
Em sua decisão, o Comitê avaliou também que, embora não exista evidência de seja necessário um aperto monetário além do já promovido, o cenário ainda inspira cautela, “reforçando a visão de serenidade e moderação que o Comitê tem expressado”.
O Copom também julga como “pouco provável” um ritmo maior que o proposto para, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva.
“Tal confiança viria apenas com uma alteração significativa dos fundamentos da dinâmica da inflação, tais como uma reancoragem bem mais sólida das expectativas, uma abertura contundente do hiato do produto ou uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços”, afirma o documento.
Para os membros do Copom, o ambiente externo ainda é incerto, com início de desinflação em curso, mas com núcleos elevados, desaceleração gradual da atividade e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países.
Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, seja dando continuidade a seus ciclos de aperto monetário, seja sinalizando um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias.
“Tal postura segue demandando maior cautela na condução das políticas econômicas particularmente por parte de países emergentes”, reforça o documento.
No âmbito doméstico, o conjunto de indicadores recentes sugere um cenário de desaceleração gradual da atividade.
À parte o forte desempenho da agricultura, concentrado no primeiro trimestre, o ritmo de crescimento da atividade segue corroborando o cenário antecipado pelo Comitê.
“De modo geral, observa-se alguma retração no setor de comércio, estabilidade na indústria e certa acomodação no setor de serviços, após ritmo mais forte nos trimestres anteriores. O mercado de trabalho segue resiliente, mas com alguma moderação na margem”, cita a ata.
Ainda de acordo com os membros do Copom, a inflação ao consumidor segue com uma dinâmica corrente mais benigna, em particular nos componentes referentes a bens industriais e alimentos.
Os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que possuem maior inércia inflacionária, apresentaram queda, mas mantêm-se acima da meta para a inflação.
As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus recuaram e encontram-se em torno de 4,8%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.
A decisão pelo corte de juros na semana passada ocorreu em meio a grande expectativa tanto do mercado como do governo pelo início do ciclo de afrouxamento monetário.
Conforme comunicado do Banco Central, dos nove membros do Comitê, cinco votaram pelo corte de 0,50 ponto percentual, incluindo o presidente da instituição, Roberto Campos Neto.
Ainda de acordo com o comunicado do Comitê, o grupo chegou a considerar uma redução de 0,25 ponto percentual.
“O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário, reforçando, no entanto, o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”, diz a nota.
O comunicado volta a falar em “serenidade” em relação à política monetária. “A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.”