Autoridades do Banco Central Europeu que debatem nesta terça-feira, 27, sobre quando encerrar o histórico ciclo de aperto monetário vão dispor de um período vital para amenizar quaisquer divergências durante seu retiro anual nesta semana.
Tendo aumentado os juros em 400 pontos-base desde a última vez que se reuniram em Sintra, Portugal, a presidente do BCE, Christine Lagarde, e outras autoridades monetárias não têm certeza de quanto mais devem elevar a taxa básica para colocar a inflação com segurança no caminho de retorno aos 2%.
Outra alta em julho é quase certa. A questão é se uma pausa é justificada para avaliar os efeitos ainda em desenvolvimento do aperto da política monetária até o momento, ou se mais ações são necessárias após as férias de verão para enfrentar os persistentes ganhos dos preços subjacentes.
Mohit Kumar, economista da Jefferies, diz que “os dois elementos-chave do debate” vão se concentrar nos argumentos dos “doves” sobre o tempo que a política monetária leva para surtir efeito e a persistência do núcleo da inflação alertada pelos “hawks”. “É uma linha muito tênue entre quem ganha”, afirmou.
Também em discussão vão estar os sinais recentes de fraqueza econômica nos 20 países da zona do euro, que já sofreu uma leve recessão.
A Alemanha talvez seja a maior preocupação: dados divulgados na segunda-feira mostraram que o cenário de negócios se deteriorou para o nível mais baixo deste ano, enquanto o país tenta consolidar uma recuperação após enfrentar uma desaceleração recente.
Fatores fora da zona do euro também são preocupantes. A inflação elevada deixou o Banco da Inglaterra preso no ciclo de aperto monetário, mesmo quando uma crise hipotecária se aproxima. Nos EUA, o Federal Reserve sinaliza que mais aumentos de juros são prováveis, apesar da pausa em sua última reunião.
A maioria dos economistas espera que o aumento de julho na taxa de depósito do BCE, para 3,75%, seja o último. Mas, depois que as projeções para os ganhos dos preços no médio prazo foram revisadas ligeiramente para cima este mês, mais analistas começam a prever outra alta de 0,25 ponto percentual na reunião seguinte, em setembro.
Os mercados também se inclinam para esse cenário, embora investidores não pareçam contemplar aumentos mais no longo prazo. Essa é uma perspectiva que só foi sinalizada pelo presidente do banco central belga, Pierre Wunsch, pois ele teme que o núcleo da inflação não se desacelere tão rapidamente quanto o esperado.
“O foco está no núcleo do índice, porque é onde está a maior incerteza, mas também porque é o mais importante para controlar a ameaça de uma dinâmica mais alta de longo prazo”, disse Dirk Schumacher, economista da Natixis. “Se o núcleo cair nos próximos três meses, os ‘doves’ dirão que todas as condições foram atendidas” para interromper os aumentos dos juros.
Não será tão fácil. A decisão da Alemanha de oferecer transporte público a preços ultrabaixos no verão passado deve exercer pressão ascendente sobre o núcleo da inflação entre junho e agosto. Seu efeito será visto ainda esta semana, quando os maiores países da zona do euro e o próprio bloco de 20 nações divulgarem dados de inflação para este mês.
O presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau, tem sido uma voz moderada perceptível ultimamente, insistindo que o BCE concluiu a maior parte do aperto e que a transmissão leva cerca de dois anos. O economista-chefe do BCE, Philip Lane, tem opinião semelhante, alertando contra decisões prematuras em setembro.
“É muito importante reconhecer que a política monetária se desenvolve no decorrer de um longo período”, disse na sexta-feira em um podcast. “Se continuarmos a aumentar as taxas de juros, faz sentido ir passo a passo, porque há muita incerteza por aí.”
No entanto, o cenário global – particularmente no Reino Unido – aponta para um clima de alarme sobre a natureza inflexível da inflação. O presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, descreveu essa persistência na semana passada como uma “besta gananciosa”.
Discutindo esse e outros tópicos em Sintra — a versão da zona do euro da reunião anual do Federal Reserve em Jackson Hole — estarão o presidente do Fed, Jerome Powell, o líder do BOE, Andrew Bailey, e presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda.