A desaceleração para 0,23% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio surpreendeu o mercado e aponta para revisões para baixo da inflação ao fim de 2023, segundo especialistas ouvidos pela CNN. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O IPCA é o índice de inflação oficial do Brasil, considerado pelo governo para calibrar a política econômica e manter os preços dentro do regime de metas.
“Os dados apresentados trouxeram uma magnitude muito positiva e tendem, sim, a trazer um viés muito positivo em termos de reajuste das expectativas do mercado para a inflação de 2023”, afirma Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
André Braz, economista da FGV, também avalia positivamente os resultados apresentados pelo IBGE, com destaque para “uma desaceleração em praticamente todos os grandes grupos”.
“O resultado, ao contrário do que veio em abril, foi muito mais animador pelo caráter mais generalizado. A gasolina caiu e ela pesa. Essa queda contribuiu para a recuo de maio. Mas só isso não sustentaria esse resultado do índice, porque o efeito foi generalizado. Mesmo tirando isso, o que fica mostra tendência de generalização”, explica o economista.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, pondera, ainda, que a média dos núcleos também teve queda em maio, de 0,51% para 0,36%, “e a média móvel dos últimos três meses está em 5,4%, voltando a mostrar tendência de queda”.
Segundo a especialista, outra boa notícia foi a menor difusão do índice de inflação, agora em 56%. Para Vitória, os dados em conjunto também indicam uma desaceleração nos reajustes de preços mais disseminada.
Os grupos de Transportes (-0,57%) e de Artigos de residência (-0,23%) foram os únicos a registrarem queda no IPCA de maio. No primeiro, destacam-se os recuos nos preços das passagens aéreas (-17,73%), além do resultado de combustíveis (-1,82%), por conta das quedas do óleo diesel (-5,96%), da gasolina (-1,93%) e do gás veicular (-1,01%).
A desaceleração do índice em maio também foi influenciada pelo resultado do grupo de Alimentação e bebidas, que passou de 0,71% em abril para 0,16% em maio. O principal destaque foi na alimentação no domicílio, que passou de 0,73% no mês anterior para uma estabilidade em maio. O grupo registrou queda nos preços das frutas (-3,48%), do óleo de soja (-7,11%) e das carnes (-0,74%).
André Braz lembra que Alimentação e Bebidas pesa no orçamento das famílias mais humildes. O especialista diz ainda que o setor de Serviços, que vinha apresentando certa resiliência, ainda que com os juros altos, agora demostra um “movimento mais convincente, uma desaceleração mais forte”.
Com os números desta quarta-feira, a avaliação é de que comecem a haver revisões para baixo das projeções de inflação para 2023.
A Ativa Investimentos informou que sua projeção para o IPCA de junho que se encontrava em 0,00% deverá entrar em deflação, o que encomendará um vale ainda mais baixo do índice em doze meses no mês.
Além disso, em termos anuais, a consultoria diz que sua projeção de 5,4% deverá ser revista marginalmente para baixo em função de ajustes nos subitens supracitados, “mas nada que denote um movimento estruturante maior”.
“Há pouco tempo, o IPCA estava com expectativa de inflação acima de 6%, agora devemos rever para uma taxa mais baixa para o final do ano, algo em torno de 5,7%”, explica André Braz.
Para Igor Cadilhac, economista do Banco Original, o cenário de deflação no atacado ao redor do mundo, somada com a apreciação do real por aqui, tem contribuído para uma leitura mais otimista sobre a inflação no ano e levado o mercado a antecipar um possível corte de juros.
“Por outro lado, o comportamento dos serviços e dos núcleos continua a demandar cautela, especialmente em um contexto de pleno emprego; no fundo, o que se vê é uma melhora de itens mais voláteis até agora. Dito isso, revisamos a nossa projeção deste ano de 5,7% para 5,2%.”
David Beker, chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina do Bank of America, em análise divulgada pela instituição, adota uma posição mais conservadora, mantendo a expectativa de inflação em 5,50% para 2023. No entanto, reconhece que “a surpresa” do IPCA de maio “coloca riscos de queda em nossa projeção”.
Com relação ao impacto dos resultados do IPCA nas próximas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), os economistas entendem que os dados de maio criam um ambiente favorável à queda dos juros.
“A melhora qualitativa do IPCA, nesta medição ajuda com que as expectativas sigam no caminho da ancoragem, sentido esse que o Banco Central precisa para anunciar uma sinalização de inícios de cortes na Selic no segundo semestre de 2023. A nossa expectativa é que o ciclo de afrouxamento monetário se inicie em agosto, com um corte de 50p.b”, diz Ariane Benedito, economista e RI da Esh Capital.
André Braz segue a avaliação e reitera o movimento mais generalizado visto nos dados deste mês.
“Esse resultado vai influenciar bastante [na decisão do Copom], porque não foi efeito ditado por um produto que caiu, foi um efeito generalizado. Tivemos viários produtos e serviços caindo ou aumentando pouco. Teve um PIB animador, agora uma inflação de efeito generalizado. Isso cria uma atmosfera favorável ao corte dos juros”, diz.
Rafaela Vitória diz que essa tendência de desaceleração observada nos últimos meses já seria indicativo para o Copom iniciar os cortes de juros em junho, no entanto, “como o comunicado anterior não abriu espaço para a discussão, a próxima reunião deverá indicar essa mudança de rumo e abrir espaço para o início dos cortes em agosto”.