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\"Nenhum Banco Central quer ter juros altos, queremos reduzir juros\", diz Campos Neto

Presidente do Banco Central afirmou que o governo tem empregado \"esforço\" no fiscal e que o BC estará atento ao canal de expectativas

Publicada em 05/04/23 às 14:23h - 60 visualizações

por Kativa FM \\ Exame


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Campos Neto: o governo tem empregado \"esforço\" no fiscal (Wilson Dias/Agência Brasil)  (Foto: Kativa FM \\ Exame)
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o governo tem feito um "esforço grande" em medidas fiscais, em algumas de suas primeiras falas depois da apresentação do desenho do novo arcabouço fiscal pelo Ministério da Fazenda. Ao falar sobre as projeções de inflação no médio prazo ainda elevadas, Campos Neto afirmou que o BC "acredita muito" no sistema de metas e que é preciso trabalhar no canal de expectativas, um dos motivos que têm mantido a Selic alta.

Campos Neto falou em evento da Esfera Brasil no início da tarde desta quarta-feira, 5 (assista à integra abaixo). "Nenhum Banco Central quer ter juros altos. A gente quer cair o juros", disse o presidente do BC. "Mas a gente tem de olhar o que é sustentável para frente."

"Está sendo feito um esforço grande por parte do governo", disse, sobre as medidas fiscais.

Campos Neto também disse acreditar que há certa "ansiedade" na demanda por corte de gastos obrigatórios no âmbito fiscal, mas que, com "exceção de duas ou três reformas", o Brasil tem dificuldade de cortar essas despesas. "Temos um problema estrutural de cortar despesas, não é desse governo, é de muitos e muitos anos", disse.

"Quando a gente olha o governo dizer que vai crescer, no mínimo, 0,6% real os gastos, temos de entender que tem uma parte que é encomendada já, por regra. Temos 46% da despesa que cresce a 1,5%. Quando se fala que vai crescer 0,6%, tem algum esforço envolvido nisso", disse o presidente do BC.

"Eu tento ser realista, incorporar o cenário nos nossos modelos. Acho que o problema do juro é um problema de todos nós", completou.

Mais cedo, em evento do Bradesco BBI, Campos Neto também havia falado sobre o arcabouço, afirmando que a visão do BC era "superpositiva" e que a autoridade monetária observará com atenção a tramitação no Congresso.

Assista ao vivo à fala de Campos Neto nesta quarta-feira

Na outra ponta, o presidente do BC afirmou que a autoridade monetária está em um ciclo "independente" do campo político, e que é importante "comunicar bem" as medidas tomadas.

Em sua última ata, divulgada antes da apresentação do arcabouço fiscal, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central comunicou que a nova regra fiscal poderia ajudar nas expectativas, mas que o efeito não é garantido, e demonstrou preocupação com as projeções de inflação até 2027 persistindo em torno de 4%.

"É muito importante entender que o ruído atrapalha esse canal de expectativas. Ele atrapalha tanto o canal de expectativa de política monetária quanto de política fiscal", disse Campos Neto nesta quarta-feira.

"Se falo que vou fazer um plano de política fiscal e pessoas do governo começam a criticar o plano, o que acontece é que esse canal de expectativa fica interrompido. Então, eu não consigo trazer aquele benefício da promessa a valor presente na mesma magnitude que eu gostaria", disse.

Efeito de não subir juros teria sido pior, diz Campos Neto

Com o patamar da Selic em 13,75% e sem previsão de início do ciclo de cortes, Campos Neto afirmou que um dos riscos no Brasil é a memória inflacionária alta. Dada a inflação de dois dígitos em países como Chile e Colômbia, modelos internos do BC apontam, segundo Campos Neto, que o Brasil "provavelmente estaria com inflação acima disso" se as taxas de juros não tivessem subido nos últimos anos. O BC iniciou seu ciclo de aperto monetário ainda em 2021 (quando a Selic chegou a mínima de 2%).

Uma inflação acima de 10% no Brasil, afirma Campos Neto, historicamente só é sanada "colocando o país em recessão". "E a gente viu o último experimento, que gerou uma recessão entre 3% e 4%. Então, é importante dizer que a gente tenta suavizar o ciclo", disse, sobre a crise brasileira a partir de 2015.

"O custo de combater a inflação é muito alto, e é sentido muito a curto prazo. O custo de não combater é muito mais alto, muito mais nocivo e muito mais perene", disse Campos Neto. O presidente do BC afirmou que a inflação é um "imposto muito maligno" e incide mais sobre classes mais baixas, citando na fala o exemplo da Argentina.

"A Selic é importante, mas o que a gente faz para se propagar através da curva, para que de fato gere uma situação de crédito farto e amplo e sustentável para todos, precisa ter credibilidade. É importante construir essa credibilidade. Por isso o arcabouço fiscal é importante, eu estar aqui explicando o que a gente está fazendo é importante", disse.

Inflação de demanda

Sobre a discussão acerca das razões de inflação, Campos Neto voltou a dizer que é cada vez mais consenso que os componentes de demanda têm atuação na inflação atual, enquanto a oferta tem se normalizado. Sobre a tese de que a inflação atual é majoritariamente de oferta, Campos Neto argumentou que "não é a opinião do Brasil e não é a opinião de nenhum Banco Central que eu converso".

"Cada vez mais tem um componente de demanda nessa inflação", disse o presidente do BC, citando US$ 9 trilhões em benefícios fiscais no mundo com a pandemia, cerca de 10% da economia.

Na explicação a presentes, o presidente do BC lembrou que deslocou-se para cima a demanda de bens e não a de serviços com a pandemia. Economistas imaginavam que haveria uma "autocorreção" sem desorganização estrutural. "Não foi isso que aconteceu. Serviços voltou para uma linha de tendências, mas bens, não. Está voltando muito lentamente", disse. "Ao longo desse caminho, houve esse aumento na demanda estrutural de bens, que as pessoas entendiam que era oferta, e depois se viu que era muito mais demanda que oferta, e um tema de energia que depois se somou à guerra."




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