Na semana passada, Lula conversou sobre o arcabouço com Haddad, após reuniões do ministro com lideranças do governo no Congresso e com os presidentes Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado). Até então, Haddad havia dito que o desejo do presidente era apresentar o marco fiscal antes da viagem à China.
"Nós embarcamos sábado. O Haddad não pode comunicar e sair", disse o presidente em sua entrevista. "O Haddad tem que anunciar e ficar aqui para debater, para responder. [...] O que não dá é a gente avisar e ir embora."
Lula disse acreditar que o projeto já está "maduro", mas completou que "precisamos fazer as coisas com muito cuidado" para que não falte recursos para outras áreas, como "para educação e saúde". O presidente não elaborou, na conversa, sobre se há pontos do texto proposto pela Fazenda que ainda sofrem resistência.
Nos bastidores, o arcabouço fiscal acaba por revelar um dos embates mais importantes para o atual governo: a corrida — não tão — silenciosa pelo protagonismo entre Haddad e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Costa, que vem sendo alvejado de maneira reservada nos últimos dias por membros do governo, é muito próximo ao presidente — e um natural sucessor na sempre aberta corrida de 2026.
Na quinta-feira, 24, ambos posaram sorridentes e abraçados para uma fotografia, após semanas de vazamentos envolvendo o projeto do arcabouço fiscal. O maior problema, segundo Adriana Fernandes, do Estadão, é a pressa do governo para destravar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) num cenário de juros altos — uma sensação também detectada por EXAME em conversas reservadas com membros do governo.
Na semana passada, EXAME mostrou alguns desses bastidores que precisarão ser observados por quem trabalha com risco político neste governo. Entre eles, a constatação de que haverá sempre ataques do PT contra o próprio governo e que o modus operandi da atual gestão ainda não está claro.
Em meio a isso, há uma ordem clara -- exposta em declarações públicas de Lula -- para acelerar o crescimento. A projeção de 0,88%, segundo o boletim Focus, é insuficiente para um primeiro ano de governo na avaliação do Planalto. O Estadão noticia que, internamente, trabalha-se com uma estimativa de 2,5% a 3%.
A discrepância entre as cifras é visível e o arcabouço fiscal divide duas alas bem posicionadas do governo.
A antecipação do debate em torno do projeto dentro do próprio governo tende a ter mais efeitos para a organização interna da gestão petista.
O projeto obrigatoriamente passará pelo Congresso, onde o presidente da Câmara, Arthur Lira, já sinalizou apoio às intenções de Haddad sobre as novas regras fiscais.
A semana será importante para entender a velocidade do novo arranjo fiscal brasileiro.