O Credit Suisse, o gigante banco europeu de 167 anos, esteve à beira da falência na quarta-feira (15), alimentando ainda mais a ansiedade sobre a “saúde” do sistema financeiro global.
Após a maior liquidação em um único dia do banco, os líderes do Credit Suisse se reuniram com as autoridades suíças para discutir opções para estabilizá-lo. No final do dia, o banco central suíço e o regulador do mercado financeiro do país emitiram uma declaração conjunta dizendo que forneceriam suporte financeiro ao banco “se necessário”, citando sua importância para o sistema financeiro mais amplo.
Tudo isso aconteceu no momento em que Wall Street estava se preparando para “bater o ponto”. As ações encerraram o dia em baixa, arrastadas por bancos grandes e pequenos. Até a publicação da matéria, o mundo financeiro estava em um estado de limbo, esperando para ver como a crise no Credit Suisse se desenrolaria.
É difícil dimensionar o quão relevante seria para o Credit Suisse – com seus meio trilhão de dólares em ativos e mais de 50.000 funcionários em todo o mundo – entrar em colapso.
A falência na semana passada do Silicon Valley Bank e Signature, dois credores regionais muito menores, abalou a confiança dos investidores em todo o mundo.
O Credit Suisse, um dos maiores credores da Europa, está “muito mais interconectado globalmente, com várias subsidiárias fora da Suíça, inclusive nos EUA”, escreveu Andrew Kenningham, economista-chefe da Capital Economics para a Europa. “O Credit Suisse não é apenas um problema suíço, mas global.”
O Credit Suisse é conhecido como um “banco sistemicamente importante globalmente”. Quando um desses megabancos está com problemas, as pessoas começam a se perguntar o que está acontecendo com o sistema e a especular sobre quem pode ser o próximo a cair.
Mesmo com um “salva-vidas financeiro” das autoridades suíças, ainda há muitos riscos e incógnitas que rondam o Credit Suisse, mantendo os investidores no limite.
A turbulência do Credit Suisse indica que a crise não foi contida, afirma Arthur Wilmarth, professor da George Washington School of Law.
“Acho que foi ingênuo para a maioria das pessoas pensar que isso poderia ser contido apenas com alguns bancos regionais, porque claramente ainda há choques reverberando em nosso próprio sistema bancário”, disse Wilmarth. “E isso indicaria que poderia se espalhar para bancos de grande porte.”
Eles não são, tecnicamente. Mas a psicologia de rebanho é uma grande força no veloz mundo dos mercados financeiros.
O Credit Suisse está enfrentando problemas não relacionados que vêm se agravando há anos e que aumentaram ao mesmo tempo em que o SVB e o Signature tiveram que ser resgatados pelas autoridades federais.
“O Credit Suisse tem sido um acidente de carro lento por anos”, escreveu Peter Boockvar, diretor de investimentos do Bleakley Financial Group. “Mas agora as notícias de hoje, é claro, estão acontecendo no vórtice do SVB.”
O resultado é de muita preocupação com o setor bancário em ambos os lados do Atlântico.
O colapso do Silicon Valley Bank não derrubou o Credit Suisse, mas colocou o banco suíço sob olhares ainda mais intensos. E pode ter sobrecarregado a liquidação que “quebrou as pernas” do Credit Suisse.
Enquanto isso, os bancos europeus e americanos estão lidando com fatores ambientais macroeconômicos semelhantes. Depois de anos de taxas de juros ultrabaixas (e no caso da Europa, até negativas), os rendimentos dos títulos do governo, incluindo os títulos do Tesouro, dispararam, corroendo o valor dos ativos subjacentes dos bancos.
“Os eventos de hoje mostram que existem inúmeras vulnerabilidades de diferentes tamanhos, graus e locais nos EUA e no sistema financeiro global”, disse o CEO da Better Markets, Dennis M. Kelleher. “Esses eventos em cascata ilustram novamente que a regulamentação e a supervisão das maiores instituições financeiras nos Estados Unidos e, de fato, no mundo, continuam a ser insuficientes, principalmente por causa do lobby bem-sucedido do setor financeiro.”