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Entenda por que a inflação do Brasil difere da vista em países da Europa e dos EUA

Para especialistas, atuação do Banco Central permitiu redução das pressões inflacionárias antes de outros países

Publicada em 13/07/22 às 15:12h - 157 visualizações

por Kativa FM \\\\ CNN Brasil.


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Inflação do Brasil ainda deve encerrar 2022 acima dos níveis dos Estados Unidos e da Europa Pexels  (Foto: Kativa FM \\\\ CNN Brasil.)

A diferença entre a inflação brasileira e a de países como Estados Unidos e da zona do euro caiu neste ano em relação a 2021, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) coletados pelo CNN Brasil Business.

Para especialistas, a tendência é que essa diferença diminua ainda mais, já que a inflação brasileira tende a iniciar um movimento de queda após ter atingido um aparente pico.

Entretanto, a inflação do Brasil ainda deve encerrar 2022 acima dos níveis dos Estados Unidos e da Europa, os maiores em 40 anos.

A projeção mais recente do Banco Central é que a inflação termine o ano em 8,8%. Já o Federal Reserve prevê que a inflação dos Estados Unidos encerrará em 5,2%, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) espera um índice em 6,8%.

Uma exceção é o Reino Unido, onde o Banco da Inglaterra espera uma inflação ao fim do ano de 11%, acima das projeções para o Brasil. Além disso, o mercado tem tido números mais otimistas. O último Boletim Focus aponta uma expectativa de inflação em 7,67% em 2022.

A importância do Banco Central

Para Simão Silber, professor da FEA-USP, a inflação do Brasil atingiu um pico em junho e tende a cair nos próximos meses. Ele atribui o movimento a um aumento “cavalar” da taxa de juros do país, a Selic.

Entre 2021 e 2022, os juros subiram de 2% para 13,25%, e a autarquia ainda deve fazer uma nova alta, aproximando a taxa dos 14%.

O professor avalia que “é isso que está fazendo com que a inflação comece a diminuir. A previsão para este ano, há duas semanas já vêm caindo pelo mercado, enquanto que nos outros países ou regiões estão subindo”.

Ele afirma que a diferença com outros países, em especial grandes economias, ocorre porque nesses locais os bancos centrais foram mais cautelosos e demoraram a subir as taxas de juros, temendo seus efeitos recessivos.

Silber considera ainda que a autarquia brasileira agiu como um “cavaleiro solitário”, já que a área fiscal do governo “está muito ruim” em meio a projetos de aumento de gastos antes das eleições, concentrado na chamada PEC dos Benefícios.

A vantagem do Banco Central, na visão do professor, foi a aprovação da lei que garante a sua autonomia, permitindo que ele combatesse a inflação de forma independente.

Nesse cenário, “a tendência é a economia desaquecer rapidamente e ter queda de inflação, mas termos um crescimento muito baixo em 2023”.

Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos, também acredita que a inflação brasileira atingiu um pico, em grande parte devido à atuação do Banco Central.

“O Banco Central agiu de forma muito rápida em 2021 quando percebeu que a situação era diferente do imaginado para o início da pandemia, e fez um choque de juros que não víamos há muito tempo, e está tendo impacto, funcionou para resgatar a âncora da inflação”, diz.

Ele também atribui a queda de inflação no ano ao projeto de lei do governo que reduz o ICMS a partir de um teto de cobrança para combustíveis, energia, telecomunicações e transporte, com uma consequente queda nos preços desses produtos.

Para ele, o projeto “dá um certo conforto na questão dos combustíveis e segura de alguma maneira os eventuais reajustes que poderiam acontecer nos combustíveis por conta dos preços do petróleo em alta com a guerra, mesmo com a uma queda recente”.

O economista considera que um sinal positivo da redução das pressões inflacionárias veio do dado do IPCA de junho, com um índice de difusão caindo de 80% para 77%. O número “é bom, e mostra que teve redução desse espalhamento de alta de preços, o que é positivo”.

Espírito Santo afirma que, nos países ricos, os bancos centrais demoraram para agir e combater a inflação, o que foi piorado pelos efeitos da guerra da Ucrânia, em especial na Europa.

Outro fator que influencia na inflação descontrolada nessas regiões é que os bancos centrais desses países “colocaram muita moeda na economia durante a pandemia”, auxiliando a população e empresas a passar pela pandemia.

O volume de dinheiro, porém, levou a uma pressão de demanda que se somou ao choque de oferta, piorando o quadro inflacionário até que as respectivas autarquias passaram a iniciar, ou cogitar no caso do BCE, ciclos de alta de juros.

Inflação ao fim de 2022

Apesar do quadro inflacionário, tanto o Fed quanto o BCE projetam que suas inflações atingirão seus picos em 2022, e cairão no mesmo ano.

O economista da Órama avalia que a previsão é possível, já que os bancos centrais começaram a agir. O Fed já elevou os juros em 1,5 ponto percentual em três reuniões, enquanto a autarquia europeia indicou que começará seu ciclo de alta de juros em julgo.

“Desde que tenha uma redução na demanda, é algo possível. Esses países vão ter que enfrentar uma recessão ou estagflação para que ajude a diminuir a inflação junto com a política monetária”, destaca.

Entretanto, Espírito Santo lembra que o cenário de inflação já começa a “fazer vítimas” nesses países. No Reino Unido, por exemplo, o quadro econômico foi uma das causas para a renúncia de Boris Johnson. Já nos Estados Unidos, a aprovação do presidente Joe Biden caiu, e seu partido pode perder as eleições de meio de mandato.

“O cenário político também é algo que precisa ser considerado, porque politicamente todos os governos estão sob pressão devido à inflação alta, com os bancos centrais tendo que agir, é o pior dos mundos”, avalia.

Mesmo assim, o economista espera que a inflação brasileira ainda termine o ano em um nível maior que a de nações mais ricas.

Um fator que pesa nesse sentido é a composição da cesta de análise de produtos que são medidos nos índices inflacionários, e que variam de país em país.

Além disso, Espírito Santo lembra que os índices inflacionários costumam ser usados como referências de reajuste, caso do IGP-M no aluguel, o que cria uma “bola de neve” em situações de inflação alta e um repasse para meses seguintes, na chamada inércia, piorando o quadro.

Silber considera que, baseado no quadro de inflação global da década de 1970, a tendência é que o mundo caminhe para uma recessão devido ao ciclo de juros para combater as pressões inflacionárias.

Nesse sentido, ele também aposta em um pico de inflação nos Estados Unidos e Europa neste ano, mas com os juros altos desacelerando a economia.

No caso do Brasil, o professor avalia que “inflação maior é algo típico de mercado emergente, onde a credibilidade do país é menor, e traz mais insegurança, fuga de capitais”.

“A taxa de câmbio está subindo agora, indicando que a credibilidade na política fiscal é muito baixa, e isso joga lenha na fogueira da inflação”, observa.

Com a PEC dos Benefícios trazendo mais risco fiscal, e ajudando na valorização do dólar, ele afirma que o quadro acaba “atrapalhando o combate à inflação”, levando a uma queda mais lenta no índice, assim como em 2023.

“Será o segundo ano sem cumprir a meta, e em 2023 também não devemos cumprir”, ressalta.




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