O dólar subia 0,47%, cotado a R$ 5,415, por volta das 9h20 desta quarta-feira (6), favorecido por um aumento na aversão de riscos ao redor do mundo conforme as apostas em uma recessão econômica generalizada ganham força entre os investidores, incentivando a migração para ativos considerados mais seguros.
O foco do mercado nesta sessão é a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve, referente à ultima reunião de juros. Nela, o banco central dos Estados Unidos subiu os juros em 0,75 ponto percentual pela primeira vez desde 1994 para combater a inflação.
A expectativa é que o texto traga mais sinalizações sobre os próximos passos do ciclo de alta de juros no país, que tem repercussão global ao tornar o dólar mais atrativo para investimentos e tem reforçado a aversão a riscos devido à possibilidade de levar a uma recessão na maior economia do mundo.
Além disso, o anúncio de novos lockdowns na China para combater um novo surto de Covid-19 reforça a aversão a riscos. O movimento deve desacelerar a economia chinesa, e por isso também repercute pelos mercados.
Já no âmbito doméstico, o mercado segue atento à tramitação da PEC dos Benefícios, aprovada no Senado e que agora é analisada na Câmara. O texto criou um risco fiscal, já que tem gastos estimados em cerca de R$ 41 bilhões e prevê decretar um estado de emergência para justificar despesas fora do teto e ampliar benefícios sociais.
A medida não foi bem recebida por investidores, e leva a uma retirada de investimentos devido à possibilidade de descontrole de gastos.
Na terça-feira (5), o dólar fechou em alta de 1,21%, cotado a R$ 5,389. Já o Ibovespa caiu 0,32%, aos 98.294,64 pontos.
Os investidores ainda mantêm uma forte aversão global a riscos desencadeada por temores sobre uma possível desaceleração econômica generalizada devido a uma série de altas de juros pelo mundo para conter níveis recordes de inflação, o que prejudicaria diversos tipos de investimentos.
A principal causa para essa aversão é o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos, com a elevação mais recente anunciada pelo Federal Reserve em 4 de maio. A autarquia já chegou a descartar altas de 0,75 ponto percentual nos juros, ou um risco de levar a economia do país a uma recessão, mas sinalizou ao menos mais duas altas de 0,5 p.p.
Os juros maiores nos Estados Unidos atraem investimentos para a renda fixa do país devido a sua alta segurança e favorecem o dólar, mas prejudicam os mercados de títulos e as bolsas ao redor do mundo, inclusive as norte-americanas.
Ao mesmo tempo, o mercado acompanha os dados sobre a economia do país para entender o quão agressivo o Fed poderá ser no processo.
A confirmação da contração da economia dos Estados Unidos no primeiro trimestre, por exemplo, reforçou a visão de que a autarquia não deveria ser tão agressiva na alta de juros quanto o previsto. Já a inflação de maio sinalizou um quadro mais negativo, reforçando apostas de juros terminais maiores.
Por outro lado, com o fim do lockdown na cidade chinesa de Xangai e alívio nas restrições na capital Pequim, a expectativa era que a demanda chinesa retorne aos níveis anteriores, o que voltou a favorecer exportadores de commodities e aliviou uma parte das pressões sobre o real, mas novas restrições foram anunciadas, revertendo o cenário.
O Ibovespa e o real encontraram espaço para valorização entre o fim de maio e o começo de junho, mas a combinação de um cenário doméstico pior, com o retorno de um risco fiscal, e a perspectiva no exterior de fortes apertos monetários voltaram a prejudicar o mercado brasileiro.