Embora as festas de fim de ano possam ser a época mais maravilhosa do ano, elas também podem ser uma das mais estressantes, especialmente para o coração.
Junto com as viagens de fim de ano, o tempo com a família e amigos e ainda as festividades e confraternizações de trabalho, todas as comemorações também estão associadas a um aumento de ataques cardíacos, derrames cerebrais e ritmos cardíacos irregulares.
Acredita-se que esse aumento nos problemas relacionados ao coração seja o resultado de vários fatores, incluindo o aumento do consumo de álcool, maior estresse e mudanças na dieta, já que é comum participar de mais almoços e ceias e nessas refeições, comer mais sal do que o normal.
“O coração não pode tirar férias”, diz Nick Ruthmann, cardiologista da Cleveland Clinic. “Sua saúde também não.”
Veja o que os especialistas sabem sobre por que as festas de fim de ano são particularmente estressantes para o coração e o que as pessoas podem fazer para reduzir o risco de ataques cardíacos, derrames e arritmias.
A síndrome do coração de férias refere-se ao aumento de ritmos cardíacos irregulares, conhecido como fibrilação atrial, que está diretamente ligada a um aumento repentino no consumo de álcool. Conforme explica Ruthmann, acredita-se que o álcool desregula as células do coração, levando a impulsos elétricos irregulares que fazem com que as câmaras do coração parem de bater em sincronia.
Isso, por sua vez, força o coração a bater mais rápido para compensar a diminuição de sua eficácia. A diminuição da eficiência do coração pode permitir que o sangue fique estagnado nas câmaras, formando coágulos que podem se deslocar pelo corpo, levando a um acidente vascular cerebral. O perigo da fibrilação atrial é que, se ela persistir por muito tempo, pode causar danos permanentes.
“Quanto mais tempo você permanecer em fibrilação atrial, maior será a oportunidade de sofrer um acidente vascular cerebral ou de desenvolver fraqueza ou insuficiência cardíaca por ter um batimento cardíaco tão rápido”, explica Shaline Rao, cardiologista do NYU Langone Hospital - Long Island, nos Estados Unidos, especializado no tratamento de insuficiência cardíaca. “Essas são coisas que, quando detectadas precocemente, temos muitas oportunidades de prevenir e reverter.”
Para algumas pessoas, a entrada em fibrilação atrial leva a sintomas perceptíveis, como coração acelerado, batimentos cardíacos forçados ou saltados ou tontura. Outras podem nem mesmo perceber que algo está errado.
Nessas situações, pode ser útil ter um dispositivo tech que mapeia seus batimentos cardíacos, como o Fitbit ou o Apple Watch, que possa detectar ritmos cardíacos irregulares. As pessoas com maior risco de desenvolver fibrilação atrial incluem adultos com mais de 65 anos de idade ou com histórico familiar da doença.
“Nenhum dispositivo é perfeito ainda”, comenta Ruthmann, acrescentando que ‘na maioria das vezes, ele pode ser a primeira e única evidência de que há um problema’.
Além da ligação entre a fibrilação atrial e o consumo de álcool, acredita-se que outros fatores também possam contribuir para essa condição. Alguns fatores de risco relacionados às férias de fim de ano incluem aumento do estresse, aumento do sal na dieta, grandes mudanças na atividade física, sono insatisfatório ou falta de doses de medicamentos. A fibrilação atrial também pode se desenvolver após um ataque cardíaco.
“Todos esses fatores podem definitivamente aumentar o risco de fibrilação atrial nos pacientes”, afirma Johanna Contreras, cardiologista e voluntária da American Heart Association, dos Estados Unidos.
Além do aumento da fibrilação atrial, que está ligada a um risco maior de derrames cerebrais, as festas de fim de ano também estão associadas a um risco 15% maior de ataques cardíacos, o que inclui uma chance 37% maior de sofrer infarto na véspera de Natal.
“Mais pessoas morrem de ataques cardíacos entre o Natal e o Ano Novo do que em qualquer outra época do ano”, revela Ruthmann.
Algumas das razões para o maior risco de sofrer um ataque cardíaco durante as festas de fim de ano estão ligadas ao maior risco de desenvolver fibrilação atrial. Um ataque cardíaco ocorre quando um bloqueio causa uma redução no fluxo sanguíneo para o coração, o que pode danificar ou destruir partes do músculo cardíaco.
Esse dano também pode causar um ritmo cardíaco irregular, como a fibrilação atrial. Enquanto isso, os mesmos fatores de risco associados ao desenvolvimento da fibrilação atrial também estão ligados ao risco de desenvolver um infarto. “Eles estão interligados”, diz Sadeer Al-Kindi, cardiologista do Houston Methodist Hospital.
As chances de morte por conta de um ataque cardíaco são maiores em 25 de dezembro, seguido por 26 de dezembro e 1º de janeiro. Além dos fatores de risco relacionados às festas de fim de ano, geralmente há uma relutância em procurar atendimento médico.
“Durante as festas de fim de ano, as pessoas não querem ir ao médico”, diz Rao. “Elas não querem pensar que algo está errado.” No entanto, a espera pode ter consequências graves, levando a danos permanentes e até mesmo à morte, se não for tratada imediatamente.
Conforme observado pela American Heart Association, alguns dos principais sinais de alerta de um ataque cardíaco podem incluir dores no peito, dor ou desconforto na parte superior do corpo, como braços, costas, pescoço, mandíbula ou estômago, ou falta de ar.
Outros sintomas podem incluir náusea, sensação de tontura ou suor frio. Também é importante reconhecer que os ataques cardíacos podem parecer muito diferentes nas mulheres, sendo que mais mulheres relatam sintomas como falta de ar, náusea ou dor nas costas ou na mandíbula.
Os sintomas da fibrilação atrial podem incluir coração acelerado, batimentos cardíacos irregulares, batimentos cardíacos agitados ou fortes, sudorese, tontura ou fraqueza, desmaio, falta de ar, cansaço fácil durante exercícios ou dores no peito. Alguns pacientes podem não apresentar sintomas. Em ambas as condições, é fundamental procurar atendimento médico imediatamente, indo ao pronto-socorro mais próximo ou ligando para o SAMU.
Para reduzir o risco de desenvolver problemas cardíacos relacionados às férias, é útil priorizar hábitos saudáveis, como comer e beber com moderação, dormir o suficiente e manter uma rotina de exercícios mesmo que se tenha menos tempo nesse período.
Para as pessoas que estão viajando nessa época, é importante lembrar-se de levar seus medicamentos, incluindo doses extras suficientes para acomodar possíveis emergências ou atrasos.
“Tente, na medida do possível, manter o ritmo e estabelecer limites realistas para si mesmo”, recomenda Rao.