Cerca de 54% dos casos de demência na América Latina podem ser evitados já que são causados por fatores de risco modificáveis como baixa escolaridade, hipertensão e obesidade (veja a lista completa abaixo). É o que aponta um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) publicado na revista The Lancet Global Health.
Com dados coletados em 7 anos, foram coletados dados de 107.907 participantes, com idade mínima de 18 anos.
"Essa é a primeira vez que uma região inteira é analisada em um estudo tão abrangente. Não há algo similar em regiões como Europa ou Ásia", ressalta Claudia Kimie Suemoto, professora de Geriatria da FMUSP e uma das autoras do levantamento.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 55 milhões de pessoas no mundo têm demência, sendo que mais de 60% dos casos estão em países em desenvolvimento. No Brasil, estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas convivem com demência, com grande parte dos casos ainda sem diagnóstico.
O estudo analisou dados de sete países latino-americanos – Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Honduras, México e Peru – abrangendo 12 fatores de risco, são eles:
“A análise buscou isolar cada fator para identificar seu potencial de prevenção”, explica a pesquisadora. “Por exemplo, a atividade física regular melhora a saúde vascular, o que beneficia a nutrição e oxigenação cerebral, enquanto a obesidade pode promover inflamações que afetam o cérebro", ressalta.
De acordo com o levantamento, a prevalência dos fatores de risco variou entre os países. Na Bolívia, 63,5% dos participantes tinham baixa escolaridade, enquanto no Brasil esse índice foi de 46,7% e em Honduras, 41,8%. A hipertensão foi mais comum no Brasil (46,4%) e menos frequente na Bolívia (3%).
Em relação ao consumo excessivo de álcool, o Brasil registrou a menor taxa (4,3%), enquanto a Argentina teve a maior (32,8%).
O Brasil também se destacou pelo menor índice de isolamento social (1,6%), enquanto a Bolívia teve a maior taxa (64,2%). Honduras liderou em tabagismo (86,9%) e o Peru teve a menor taxa (58,3%). A poluição do ar foi mais prevalente no Chile (86,2%) e menos no Peru (47,6%).
“As demências têm um potencial significativo de prevenção”, destaca Suemoto. “Países como a Argentina mostram que políticas públicas eficazes podem reduzir fatores de risco, como a baixa escolaridade. Também vemos impactos positivos na redução do tabagismo em vários países da região, graças a leis restritivas e políticas de aumento de impostos sobre o cigarro”, aponta.
Segundo a pesquisadora, o Ministério da Saúde está desenvolvendo campanhas para conscientizar sobre a demência no Brasil a partir do levantamento.
“É fundamental que a população compreenda que a prevenção deve começar cedo e conheça os principais fatores de risco”, ressalta.