Por definição, a dengue é uma infecção viral transmitida por mosquitos fêmeas infectados para os seres humanos. Várias espécies do inseto que são do gênero Aedes podem ser vetores, mas a doença é transmitida principalmente pelo Aedes aegypti, amplamente encontrado no Brasil e em outras páginas da América do Sul.
Sendo assim, a principal estratégia de prevenção e controle da dengue é a redução do mosquito vetor. Isso pode ser feito protegendo-se das picadas – por meio do uso de roupas que cubram o corpo –, além do uso de mosquiteiros, repelentes de mosquitos, bobinas e fumigantes, além, é claro, de inseticidas, como esclarece a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Embora o uso de inseticidas tenha sido eficaz no controle das populações de Aedes aegypti durante um bom período de tempo, esses insetos desenvolveram resistência aos compostos dos produtos, o que “representa uma ameaça global ao controle desse mosquito”. É o que destaca um artigo da revista científica "Parasites & Vectors" publicado em agosto de 2024 e que revela uma nova mutação do Aedes aegypti já identificado na Argentina.
Mas como o Aedes aegypti está resistindo aos inseticidas capazes de controlar sua população? Vale lembrar que este mosquito também é o vetor de outras doenças como zika, chikungunya e febre amarela. National Geographic explica as descobertas dos especialistas.
Ulrich Bernier, químico do Serviço de Pesquisa Agrícola do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, testa um uniforme especial tratado para impedir a picada de mosquitos em Gainesville, na Flórida. Os militares norte-americanos banham seus uniformes com o produto químico chamado permetrina para evitar picadas de mosquitos. Mas de acordo com pesquisas recentes, a resistência do Aedes aegypti aos piretróides, como a permetrina, está mostrando a ineficácia do inseticida.
Inseticidas do grupo dos piretróides (ou seja, que usam uma substância chamada permetrina) têm sido usados para controlar o mosquito da dengue. No entanto, a partir de 2013, começou-se a detectar que a aplicação deste tipo de químico não produzia mais uma diminuição significativa na população de Aedes aegypti, explica o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) da Argentina.
Para buscar uma resposta a essa questão, os especialistas do Conicet da Universidade da província argentina de Salta e da Fundação Mundo Sano (outra instituições do país) coletaram ovos de mosquitos Aedes aegypti nas cidades de Orán, Tartagal, Clorinda e Puerto Iguazú, e os colocaram em criadouros para que atingissem a fase adulta em laboratório.
Sob rigorosas medidas de biossegurança, os cientistas expuseram os jovens insetos a doses normalmente letais de piretróides e, juntamente com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, no Brasil, descobriram que todas as populações testadas tinham uma resistência muito alta a esse elemento. “Testamos as doses, usando inclusive quantidades dez vezes maior das normalmente aplicadas, e os mosquitos ainda se mantiveram resistentes”, diz Laura Harburguer, PhD em Biologia, diretora do estudo e pesquisadora do Conicet. até dez vezes
Os especialistas concluíram, então, que existe uma mutação genética, chamada de V410L, até agora ignorada na espécie de Aedes que transmite a dengue, a qual está correlacionada com a capacidade de resistir ao efeito de inseticidas piretróides.
Além desta mutação, os pesquisadores detectaram duas outras relatadas anteriormente (e que receberam os nomes de F1534C e V1016I). Juntas, as três alterações estudadas estão envolvidas na alta resistência aos piretróides, acrescenta Paula Gonzalez, primeira autora do estudo e pesquisadora do Conicet, em um artigo de imprensa publicado pela organização argentina.
Ainda segundo o artigo, a resistência aos piretróides é resultado do uso intenso do produto.
A resistência crescente do mosquito da dengue a esse tipo de inseticida representa "uma ameaça à saúde pública”, afirma Laura Harburguer.
A pesquisadora argentina explica, contudo, que todas as populações de Aedes aegypti coletadas foram suscetíveis (ou seja, tinham 100% de mortalidade) quando expostas a um composto chamado pirimifós-metil. O composto seria, portanto, uma alternativa viável para o controle dos vetores.
Mas ela enfatiza que seu uso deve ser acompanhado por outras medidas preventivas que incluam, por exemplo, como o controle de larvas: “Não podemos depender apenas de inseticidas”, diz Harburguer.
“Se o controle desses insetos for baseado apenas em um tipo de inseticida, sua aplicação repetida gerará resistência e, em alguns anos, se não fizermos um gerenciamento integrado, estaremos na mesma situação novamente”, insiste Harburguer. O pirimifós-metil já foi recomendado pela Organização Mundial da Saúde para o controle do Aedes aegypti.
Não se pode esquecer, no entanto, que os locais de reprodução do Aedes devem ser evitados com o descarte adequado de resíduos sólidos e habitats artificiais que possam acumular água limpa, que é onde esses insetos se reproduzem, finaliza a OMS.