De onde vem as orquídeas? Pois uma pesquisa publicada na revista científica "New Phytologist" mergulhou no universo dessas flores – admiradas por sua beleza e diversidade – para descobrir sua origem e como elas foram se adaptando para existir em praticamente quase todos os cantos do planeta.
O estudo foi destaque de um artigo da Revista Fapesp, publicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, uma instituição pública de fomento à pesquisa acadêmica ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do governo paulista.
Segundo conta o artigo da Fapesp, um time internacional de pesquisadores liderados pelo time de cientistas do Jardim Botânico Real de Kew, em Londres – e que inclui profissionais brasileiros das universidades Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, e da Federal do Paraná (UFPR) – investigou a árvore genealógica das orquídeas a partir de análises de 353 trechos de DNA retirado de 1.921 espécies, representando 38% dos gêneros da família.
As orquídeas passaram a se adaptar aos diferentes ambientes há cerca de 5 milhões de anos. E elas podem ser tão variadas a ponto de ter espécies com flores gigantes com ramos que chegam a dois metros de altura – a até outras minúsculas, que podem florescer inclusive após incêndios.
Segundo os experts do Jardim Botânico Real de Kew, as orquídeas surgiram no Hemisfério Norte há cerca de 83 milhões de anos. Nos últimos 5 milhões de anos, no entanto, elas foram se diversificando para outras formas variadas, "especialmente nos trópicos". "Elas se adaptaram a praticamente todos os ambientes, com exceção dos desertos e polos gelados", replica o site brasileiro citando o estudo.
“É bem provável que as orquídeas tenham surgido no antigo continente da Laurásia, e não na Austrália, como se pensava”, afirmou no estudo o botânico colombiano Oscar Pérez-Escobar, um dos coordenadores do trabalho. A Laurásia foi um continente ao norte do planeta, que teria existido há cerca de 130 milhões de anos após o supercontinente Pangeia ter se fragmentado dando origem também ao continente Gondwana, no sul planetário.
Essa fragmentação do continente antigo em novos pedaços de terra separou inúmeras linhagens de seres vivos, explicam as pesquisas. Entre eles estão as orquídeas, que se tornaram a segunda maior família de plantas do planeta, com quase 30 mil espécies, ou 9% de todas as plantas com flor, diz o artigo publicado pela Fapesp sobre o descobrimento internacional.
Para sobreviver, dizem os especialistas de Kent, os diversos tipos de orquídeas desenvolveram aromas variados – como jasmim e até semelhante ao chocolate – para atrair as moscas polinizadoras. "Elas assumiram formas variadas, desde a orquídea-gigante (Grammatophyllum speciosum), cujos ramos de flores chegam a 2 metros de altura, à pequena e rara Pogoniopsis schenckii, da Mata Atlântica brasileira, que possui folhas brancas. Por não ter clorofila, ela não faz fotossíntese e depende de fungos para sobreviver", detalha o site da Fapesp.
Os estudiosos indicam que as orquídeas se tornaram a segunda maior família de plantas do planeta, com quase 30 mil espécies ou 9% de todas as plantas com flor.
No meio ambiente natural, cerca de 90% das orquídeas vivem em galhos ou troncos de árvores, especialmente em florestas tropicais. "Tal como as bromélias e as samambaias, elas são chamadas de epífitas: vivem sobre outras plantas, mas não sugam a seiva das anfitriãs", explicam os especialistas no artigo da Fapesp.
Lugares onde chove mais são mais propícios para o surgimento dessas flores e, de acordo com o botânico Pérez-Escobar, "é possível encontrar dez tipos de orquídeas em uma mesma árvore, cada uma adaptada a determinado ambiente ou parte da hospedeira, como tronco ou copa".
Somente no Brasil, cerca de 60% das 2.300 espécies de orquídeas em território nacional se encontram na Mata Atlântica da Serra do Mar, em uma área que vai do Rio Grande do Sul ao sul da Bahia. Mas vale mencionar que o Cerrado brasileiro é o local onde as orquídeas são mais diversas: “É um ambiente mais recente, no qual a maioria das linhagens de plantas se diversificou há menos de 4 milhões de anos”, diz o engenheiro-agrônomo Cássio van den Berg, da UEFS, um dos autores do estudo, em artigo da Fapesp.
Segundo ele, no Cerrado essas flores enfrentaram secas prolongadas e, por isso, plantas como a orquídea Cyrtopodium cardiochilum floresce após os incêndios periódicos naturais, trazendo suas pequenas flores amarelas para uma paisagem queimada.
O estudo é um marco importante porque, de acordo com os especialistas, as orquídeas não forneceram muitos indícios capazes de ajudar a recontar sua evolução. Por causa de suas "estruturas delicadas, essas plantas deixaram poucos fósseis sobre a época e o local em que viveram", diz o artigo da entidade científica brasileira.