Apesar de sua simplicidade aparente, a meditação pode ser um grande desafio. Afinal, acalmar a mente em tempos tão agitados e ruidosos como os que vivemos atualmente, com estresse, estímulos online e ansiedade digital por todo lado, não é simples. Mas estudos recentes sugerem que há algo que pode nos ajudar a entrar em um estado meditativo: o som.
Seja vibrando com sua música favorita ou mergulhando em uma imersão sonora relaxante cercado por tigelas, gongos e sinos, o som não apenas nos ajuda a alcançar a meditação, mas também pode ampliar seus benefícios.
Hilary Curtis, conselheira de saúde mental licenciada e diretora executiva do Recovery Unplugged, um programa nacional de tratamento de vícios nos Estados Unidos que usa a música como medicamento, diz que sons agradáveis podem afetar positivamente nossa fisiologia.
"Reagimos à música em termos fisiológicos e emocionais, pois o sistema auditivo é uma porta de entrada para o complexo vago, a parte do cérebro e do sistema nervoso que controla nossa regulação fisiológica e emocional geral", explica Curtis. Esse nervo desempenha um papel fundamental na regulação da frequência cardíaca, da digestão e das respostas ao estresse.
A ativação do nervo vago desencadeia a liberação de acetilcolina, um neurotransmissor conhecido por seus efeitos calmantes sobre o corpo. "Pense na música de elevador que nos acalma em um espaço pequeno com estranhos, nas canções de ninar para nossos filhos e em como tocar músicas em reuniões aumenta nossa segurança emocional e a conexão com os outros", afirma Curtis.
Essa resposta aos sons tem implicações significativas para a saúde. Estudos recentes propõem que o som pode ser uma ferramenta potente para reduzir o estresse crônico, um gatilho que afeta negativamente todas as áreas do corpo. Um estudo clínico de 2022 descobriu que os participantes expostos a sons uma imersão sonora relataram reduções substanciais na depressão e na tensão, bem como uma maior sensação de bem-estar.
Você deve ter notado que os relógios alimentados por IA (inteligência artificial) agora oferecem música algorítmica e paisagens sonoras para reduzir o estresse ou que os profissionais que o ajudam a gerenciar sua saúde agora estão incorporando a terapia sonora à sua rotina de bem-estar.
Elena Bradford, professora de yoga certificada em cura pelo som, diz que a maioria das pessoas vive em um estado de pensamento hiperativo, exagero e estresse, o que dificulta a meditação. "Estudos demonstraram, no entanto, que é possível passar do estado beta (nossa tagarelice analítica diária) para o estado teta (um estado meditativo profundo) em apenas 30 segundos quando você incorpora o som à sua prática", comenta Bradford.
Quando isso acontece, Bradford diz que os efeitos são extremamente positivos. Os clientes relatam alívio da dor, diminuição do estresse, sentimentos de relaxamento e calma, liberação de emoções reprimidas e maior positividade.
Suas observações estão alinhadas com a pesquisa. Estudos demonstraram que determinadas frequências sonoras podem arrastar padrões de ondas cerebrais, guiando a mente para o relaxamento profundo e a meditação. Por exemplo, descobriu-se que as batidas binaurais, que envolvem a reprodução de duas frequências ligeiramente diferentes em cada ouvido, sincronizam as ondas cerebrais e induzem a estados de calma e concentração.
Além disso, a terapia sonora tem sido associada à liberação de neurotransmissores como a dopamina e a serotonina, hormônios que estão associados a sensações de prazer e bem-estar. Essa resposta neuroquímica pode contribuir para a profunda sensação de relaxamento e positividade relatada pelos indivíduos depois de se envolverem em práticas baseadas em som.
Em um estudo clínico de 2020, um dispositivo emWave Pro foi usado para medir o humor, o índice de estresse e a variabilidade da frequência cardíaca antes e depois de uma sessão de terapia sonora. Os resultados mostraram uma melhora notável em todas as áreas, incluindo redução da tensão, raiva, fadiga, depressão e confusão.
Já um estudo de 2022 revelou que intervenções baseadas em som, incluindo musicoterapia e imersões sonoras, reduziram efetivamente a intensidade da dor e melhoraram a qualidade de vida relacionada à dor em indivíduos com condições de dor crônica.
Outro estudo clínico comparou os efeitos de uma meditação silenciosa de 30 minutos com os de uma meditação sonora de 30 minutos. Os meditadores sonoros relataram significativamente menos estresse, cansaço e negatividade do que aqueles que meditaram em silêncio.
Como em qualquer programa de bem-estar, os benefícios variam de acordo com o indivíduo, mas os profissionais relatam uma correlação direta entre a prática consistente e os benefícios resultantes. Bethann Schacht, diretora da Aurora Counseling Associates, diz: "Se a terapia sonora se tornar parte de seu estilo de vida – semelhante a uma alimentação saudável e exercícios – você deverá ver resultados consistentes."
Vários especialistas afirmam que mesmo 10 minutos por dia de meditação consciente podem afetar profundamente os níveis de estresse e a sensação de bem-estar geral. Portanto, usar o som para ajudá-lo a chegar a esse ponto pode "ser o maior retorno sobre o investimento" em relação à sua saúde física e emocional, afirma Lisette Cifaldi, assistente social clínica.
Embora seja cada vez mais fácil encontrar imersões e terapias sonoras, Schacht diz que você pode praticar usando um aplicativo como o Insight Timer em sua casa. O aplicativo gratuito funciona como um cronômetro de meditação com opções de som ambiente.
"Incorporar o som em sua prática de meditação ajuda a concentrar sua atenção no interior", comenta Schacht. "Os pensamentos podem ser tiranos, mas a meditação sonora ensina você a ficar fascinado por eles, a domar seus pensamentos para que eles não o controlem."