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As baleias podem cantar debaixo d\'água sem se afogar – e nós te contamos como elas fazem isso

Cientistas descobriram novas percepções sobre a anatomia das baleias-francas que também podem torná-las vulneráveis à poluição sonora produzida pelos seres humanos.

Publicada em 10/06/24 às 14:39h - 36 visualizações

por Kativa FM \\ National Geographic


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As baleias-jubarte são conhecidas pelas canções que emitem, que provavelmente servem para se comunicar com outras baleias e atrair parceiros em potencial. FOTO DE KARIM ILIYA  (Foto: Kativa FM \\ National Geographic)

Há muito tempo os cientistas se perguntam como as baleias podem cantar enquanto prendem a respiração ao mesmo tempo. Isso ocorre porque a laringe da baleia produz som fecha suas vias aéreas para que elas não se afoguem. Mas tente você fechar a boca, segurar o nariz e cantarolar – não vai dar certo.

"Se você não consegue deixar o ar fluir, o sistema está pressurizado. Quando está pressurizado e o fluxo para, o som para", explica Joy Reidenberg, professora da Icahn School of Medicine at Mount Sinai, em Nova York, nos Estados Unidos, que estuda a anatomia das baleias.

Uma ilustração de uma baleia-jubarte que mostra sua laringe rosa, em forma de U.Uma ilustração de uma baleia-jubarte que mostra sua laringe rosa, em forma de U.

FOTO DE PAINTING BY PATRICIA JAQUELINE MATIC

Os especialistas já sabiam que as baleias têm uma laringe especial com um saco semelhante a uma gaita de fole que lhes permite cantar, mas não sabiam exatamente como elas produziam o som. 

Não se pode simplesmente colocar um endoscópio em uma baleia e ver o que ela faz quando está cantando”, diz Reidenberg, que não participou do novo estudo, publicado há pouco tempo na revista científica Nature. Além disso, as baleias mortas geralmente se decompõem rápido demais para coletar amostras viáveis de tecido.

Mas três encalhes de baleia próximos ao seu laboratório permitiram que o autor principalCoen Elemans, professor de bioacústica da Universidade do Sul da Dinamarca, coletasse tratos vocais frescos de uma baleia-jubarte, uma baleia-minke e uma baleia-sei recentemente mortas.

Pela primeira vez, Elemans pôde usar essas três laringes para reproduzir o que acontece quando os animais produzem sons. Isso levou a uma descoberta surpreendente: as cordas vocais dos animais vibram de uma forma inesperada para produzir ruído.

A anatomia única da laringe das baleias


Cada uma das três espécies de baleias cria ruídos muito diferentes: as jubartes cantam músicas complexas, as minke grasnam como patos e as baleias-sei criam ruídos de baixa frequência. Mas como?

Depois de realizar exames de tomografia computadorizada, a equipe colocou as três laringes em um espaço aéreo de laboratório e soprou lentamente o ar através do sistema para ver se eles conseguiam imitar os pulmões gigantescos de uma baleia.

“Acabamos usando balões de festa para alimentar a instalação”, revela Elemans.  

Eles presumiram que as bordas internas das cordas vocais das baleias se esfregam para produzir o som, mas o experimento revelou que as cordas vocais se esfregam contra uma almofada de gordura na parte posterior da laringe. “Nenhum outro animal faz vocalizações dessa forma”, afirma Reidenberg.

Reidenberg se pergunta se as duas cordas vocais podem vibrar em frequências diferentes contra a almofada de gordura ou se elas também podem vibrar uma contra a outra. Isso poderia explicar como uma baleia pode emitir mais de um som ao mesmo tempo.

Elemans acredita que essas adaptações surgiram quando os ancestrais terrestres das baleias retornaram ao oceano há cerca de 50 milhões de anos. Como as baleias de barbas precisavam se comunicar com outras baleias e, ao mesmo tempo, usar a laringe para se alimentar e separar as vias aéreas, elas desenvolveram esse sistema exclusivo.

“Esses animais criaram fisiologicamente uma novidade evolutiva totalmente nova para emitir sons embaixo d'água com essa laringe estranha”, diz ele.

É preciso mais investigação


Reidenberg adverte que o tamanho da amostra do estudo – com apenas três baleias – é muito pequeno para tal generalização, e que os cientistas precisam examinar mais espécimes primeiro.

Heidi Pearson, professora de biologia marinha da University of Alaska Southeast, nos Estados Unidos, que também não participou do estudo, concorda. Ela gostaria de ver uma família diferente de baleias examinada para comparação, já que os três indivíduos estudados eram todos baleias rorqual juvenis. Elemans diz que quer estudar um macho adulto, que é conhecido por seu canto.

Mas os especialistas reconhecem o desafio inerente a isso. “A simples obtenção dessas amostras já é um triunfo por si só”, diz Pearson.

Controle da poluição sonora 


Os pesquisadores também usaram simulações de computador em 3D para imitar o que acontece quando os músculos da laringe das baleias são ativados. Eles descobriram que essas estruturas não conseguem produzir som em frequências mais altas do que 300 hertz (Hz), ou abaixo de profundidades de cerca de 100 metros.

Infelizmente, essa “faixa de profundidade e frequência se sobrepõe quase perfeitamente ao que os seres humanos produzem”, afirma. Elemans, o que significa que elas podem ter dificuldades para competir com o ruído gerado pelos navios de transporte, que emitem sons entre 30 e 300 Hz.

“É o que você e eu poderíamos chamar de efeito de coquetel”, diz Reidenberg. Quando seu alcance vocal se sobrepõe ao de todos os outros, fica mais difícil ouvir os outros sem levantar a voz.

É por isso que o estudo destaca a necessidade urgente de diminuir a poluição sonora limitando o tráfego de embarcações, implementando zonas lentas, protegendo áreas com muitas baleias vocalizando e tornando os navios mais silenciosos, explica Pearson, e usando dados em tempo real em planos de conservação

Reidenberg tem um bom exemplo de como fazer isso: se um parque eólico offshore em Nova York realizasse uma pesquisa sísmica durante o inverno, isso não interferiria nas vocalizações das baleias, diz ela, porque “os cantores estão todos nos trópicos, curtindo as férias de primavera”.




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