Mas, à luz da Ciência, será que somos mesmo prisioneiros do tempo que avança só num sentido, isto é, do presente para o futuro? Contudo, temos uma pergunta a responder antes disso: afinal, o que é tempo?
O tempo é uma das mais fundamentais e intrigantes dimensões da Natureza. Desde a antiguidade, filósofos, cientistas e poetas têm tentado compreender e definir o tempo. Vamos explorar as várias perspectivas que têm moldado nossa compreensão dessa dimensão misteriosa.
Na filosofia, o tempo tem sido um tema central de discussão desde os tempos de Platão e Aristóteles. Para Platão, o tempo era uma imagem móvel da eternidade, um conceito abstrato que existia independentemente do mundo físico. Aristóteles, por outro lado, via o tempo como uma medida do movimento, algo que só existe em relação à mudança e aos eventos.
Santo Agostinho, um dos grandes pensadores da Idade Média, refletiu profundamente sobre o tempo, reconhecendo sua natureza paradoxal: "O que é o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; mas se eu desejar explicar a quem me pergunta, não sei." Para Agostinho, o tempo estava intrinsecamente ligado à experiência humana, à memória e à antecipação.
Na física clássica, o tempo era visto como uma constante universal, algo absoluto e imutável. Isaac Newton imaginava o tempo como um fluxo contínuo e uniforme, uma linha reta que todos os eventos do universo seguiam.
Essa visão foi revolucionada no início do século 20 por Albert Einstein e sua Teoria da Relatividade. Segundo Einstein, o tempo não é absoluto, mas relativo. Ele é flexível e pode ser afetado pela gravidade e pela velocidade.
Em sua teoria da Relatividade Especial, Einstein mostrou que o tempo desacelera à medida que nos aproximamos da velocidade da luz. Na Relatividade Geral, ele demonstrou que a gravidade pode curvar o espaço-tempo, fazendo com que o tempo passe de forma diferente em campos gravitacionais intensos. Observações e experimentos só comprovaram esse aspecto inusitado do tempo.
A Teoria da Relatividade de Einstein unificou o espaço e o tempo em um único continuum de quatro dimensões conhecido como espaço-tempo. Nessa visão, o tempo é tratado como uma dimensão semelhante às três dimensões espaciais, mas com características únicas.
No espaço-tempo, eventos são descritos por suas coordenadas espaciais e temporais, e a separação entre eventos pode ser medida tanto em termos de distância espacial quanto de intervalo temporal.
O tempo também tem uma dimensão psicológica. Nossa percepção dele pode variar dependendo de nossas experiências e estados mentais. Momentos de alegria podem parecer passar rapidamente, enquanto períodos de espera ou sofrimento podem se arrastar interminavelmente.
A neurociência tem investigado como nosso cérebro processa o tempo, revelando que diferentes áreas cerebrais estão envolvidas na percepção de intervalos, memória temporal e antecipação de eventos futuros. E quase sempre confundimos o tempo com a sensação de sua passagem em nossa vida.
Em cosmologia, o tempo é crucial para entender a origem e a evolução do universo. O modelo do Big Bang sugere que a temporalidade e o espaço começaram há cerca de 13,8 bilhões de anos. Antes disso, as leis da física, como as conhecemos, podem não ter sido aplicáveis. A questão do que existia "antes" é ainda um mistério e um campo de intensa pesquisa teórica.
Na mecânica quântica, o tempo também apresenta desafios únicos. Diferentemente da relatividade, onde ele é uma dimensão do espaço-tempo, na mecânica quântica o mesmo é tratado como um parâmetro que dita a evolução dos estados quânticos. A integração dessas duas visões – a relativística e a quântica – em uma teoria quântica da gravidade é uma das grandes metas da física moderna.
Parece impossível tentar definir a temporalidade de uma maneira aplicável a todos os campos da atividade humana sem cair numa circularidade, isto é, usar o próprio tempo para definir o tempo.
A definição operacional desse conceito não capta a verdadeira essência de sua natureza fundamental. As investigações profundas sobre a relação intrínseca entre espaço e tempo nos levaram a conceber o revolucionário continuum espaço-tempo. Nesse modelo, cada evento no Universo é caracterizado por quatro números precisos que representam seu período e posição no espaço (as coordenadas do evento).
Exemplos marcantes desses eventos incluem a colisão de duas partículas, a espetacular explosão de uma supernova ou a impressionante chegada de um foguete. A Teoria da Relatividade Geral de Einstein desvenda o mistério de por que o tempo observado de um evento pode variar dramaticamente para diferentes observadores. Em um universo regido pela Relatividade Geral, a pergunta "Que horas são agora?" só faz sentido em relação a um observador específico, sublinhando a natureza subjetiva e relativa do tempo.
Somos e vivemos por um tempo determinado, imersos na passagem frenética e relativa das horas, e não há palavras definitivas capazes de capturá-lo. Mas ainda temos a poesia.
Como os versos de Caetano Veloso em sua Oração ao Tempo: “Compositor de destinos/tambor de todos os ritmos/tempo, tempo, tempo, tempo.”