O estudo referente a esse instinto foi publicado em 8 de maio na revista Biology Letters. Esse aspecto melodramático faz parte da cobra-dado, da espécie Natrix tessellata, que escapam mais rapidamente dos predadores ao usarem os efeitos, em vez de simplesmente se imobilizarem.
As cobras -dado, uma espécie não venenosa que se alimenta principalmente de peixes, quando precisam se proteger usam seu arsenal de habilidades, chamadas de auto-hemorragia. Essa espécie habita o oeste da Europa, norte da África, Oriente Médio, Ásia Central e oeste da China, sendo considerada presa saborosa para uma variedade de predadores, incluindo répteis, pássaros e mamíferos.
Os pesquisadores foram para a ilha de Golem Grad, na Macedônia, para estudar as defesas das cobras em seu habitat natural. Ao surpreenderem 263 cobras e agarrá-las ao redor da cintura, catalogaram as respostas. Eles analisaram que cerca de metade das cobras, 124 no total, defecaram, enquanto um número menor, 28, sangrou pela boca. Apenas as cobras que fingiram estar mortas também exibiram auto-hemorragia.
Cobra-dado encontrado em Umbria, na Itália — Foto: Henrike Mühlichen/ Wikipedia
"Nossos resultados destacam a integração funcional dos comportamentos antipredadores em diferentes fases das interações predador-presa, enfatizando a necessidade de futuras pesquisas priorizarem o estudo da exibição sequencial de comportamentos”, escrevem os zoologistas Vukašin Bjelica e Ana Golubović, da Universidade de Belgrado, na Sérvia, no estudo.
A morte aparente, ou imobilidade tônica, é um comportamento comum na natureza, observado em diversos animais como uma estratégia defensiva contra predadores. Sua ampla ocorrência sugere que é eficaz, embora o motivo exato pelo qual funcione não seja completamente compreendido. Alguns estudos indicam que pode ser uma tentativa final de escapar após o contato com o predador.
Alguns répteis, como as cobras-de-papo-amarelo (Heterodon platirhinos), têm estratégias ainda mais elaboradas para escapar de predadores. Elas viram de barriga para cima, convulsionam, vomitam e excretam musgo, uma substância malcheirosa produzida em glândulas perto da cloaca da cobra, semelhante às glândulas anais dos gambás.
Apesar de saberem de tudo isso, os cientistas ficaram surpresos ao analisarem o tempo que cada cobra passou fingindo-se de morta. Eles observaram que o réptil adicionava mais elementos à sua simulação de óbito, gastando aproximadamente dois segundos a menos nessa representação.
Essa atuação sugere que combinar diferentes estratégias de defesa proporciona vantagens adicionais às cobras, aquelas que investem mais esforço conseguem escapar mais rapidamente. A descoberta destaca a importância de entender como os comportamentos dos animais se integram durante interações predador-presa.
"Consequentemente, pesquisas futuras devem priorizar o exame da sequência precisa de comportamentos exibidos durante os experimentos, em vez de se concentrarem em exibições isoladas”, concluíram os cientistas no estudo, que liberaram todas as cobras capturadas, ilesas e no local de origem.