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Enquanto muitas aranhas esperam que suas teias prendam as presas que passam por elas, já outras aranhas não deixam suas refeições ao acaso. Esses aracnídeos têm técnicas sutis para atrair a presa para fora de sua zona de conforto e para uma armadilha.
"É realmente um mundo sensorial" tanto para as aranhas quanto para suas presas, afirma Pierre-Olivier Montiglio, ecologista comportamental da Universidade de Quebec em Montreal, no Canadá. "Todos estão constantemente escutando e sinalizando, produzindo informações e comunicando-as de uma forma ou de outra."
As aranhas se aproveitam disso usando sua aparência, o cheiro e o toque para enganar invertebrados ingênuos diretamente em seus oito braços.
Uma fêmea de aranha caranguejeira come um katydid. A espécie de aranha caranguejeira (Epicadus heterogaster) aparece como uma flor branca e brilha ao sol, atraindo presas.
Os cientistas não têm certeza se as presas são atraídas por aranhas como a aranha espinhosa de Westring(Gasteracantha westringi, vista aqui) porque as presas são simplesmente atraídas pelas cores ou porque as aranhas se assemelham a flores cheias de néctar.
As teias das aranhas não precisam ser bonitas para serem funcionais e capturar alimentos. No entanto, a complexidade das teias de algumas aranhas, como a das aranhas tecelãs do gênero Argiope, desempenha um papel fundamental para atrair as presas para o seu destino.
Tanto em campo quanto em laboratório, os cientistas descobriram que as teias com desenhos de faixas de seda branca mais grossas no centro são mais atraentes para algumas presas. As faixas servem como decoração que refletem os raios ultravioleta pelos quais os insetos são atraídos, de acordo com Mariella Herberstein, ecologista comportamental da Macquarie University, na Austrália.
As próprias teias são atraentes para as presas mesmo no escuro, segundo pesquisas. Ao testar as teias das aranhas Psechrus clavis à noite, os pesquisadores descobriram que o escurecimento dos fios de seda as tornava menos atraentes para os insetos que passavam voando. Em ambientes escuros, as teias mais complexas mostraram que podiam capturar a pouca luz disponível, segundo o estudo.
No entanto, há variações nessa técnica, e os dados sugerem que as decisões sobre as decorações das teias são estratégicas. "Algumas aranhas constroem decorações e, depois, se tiverem de construir uma nova teia, talvez não a decorem novamente [ou] a decorem mais ou menos", diz Tom Ratz, ecologista comportamental da Universidade Ludwig-Maximilians de Munique, na Alemanha. Por exemplo, quando havia indícios de que havia muitos pássaros predadores no ambiente, as aranhas diminuíam adecoração, indicando que o desenho da teia não era aleatório.
Embora muitas aranhas apresentem tons opacos, várias espécies se vestem com cores vivas e padrões ecléticos que ajudam a atrair suas presas.
As aranhas-joias (gênero Gasteracantha) recebem esse apelido porque são adornadas com cores que incluem branco, laranja, amarelo, vermelho e rosa. "Elas se parecem com pequenos pirulitos", diz Thomas White, entomologista da Universidade de Sydney. "Mas é um sinal enganoso".
Estudantes na Costa Rica observam uma aranha tecelã dourada (Nephila pilipes). Estudos sugerem que as cores dessa espécie ajudam a atrair presas quando elas caçam à noite.
Quando essas aranhas chamativas ficam no centro de sua teia, os insetos que passam por ali são atraídos para dar uma olhada mais de perto. O trabalho de White se concentra em tentar identificar se os insetos são atraídos por essas aranhas de cores vibrantes porque elas são simplesmente atraentes ou porque se assemelham às flores específicas que as presas procuram para obter néctar. "É uma coisa complicada de desvendar", diz White, e pode ser um pouco dos dois.
Estudos sugerem que o fato de ser colorida ajuda as aranhas noturnas golden orb-weaver (Nephila pilipes) e spotted orb-web spider(Neoscona punctigera) a capturar alimentos também. A aranha caçadora marrom (Heteropoda venatoria) também usa a cor para enganar suas presas: ela tem uma faixa branca brilhante na cabeça para atrair mariposas no escuro.
A espécie de aranha caranguejeira Epicadus heterogaster evoluiu para se parecer muito com uma delicada flor branca pousada em uma folha, e pesquisas sugerem que seu abdômen brilha ao refletir o sol. Esse brilho é imperceptível ao olho humano, mas chama a atenção de abelhas e moscas.
Uma fêmea de aranha saltadora Euryattus (à direita) é atraída de seu ninho por outra aranha saltadora (Portia fimbriata, à esquerda) que imita o comportamento de acasalamento de uma aranha macho Euryattus em Queensland, Austrália.
Outra espécie de aranha caranguejeira, a Phrynarachne, evoluiu para se parecer com fezes de pássaros. Embora os especialistas tenham pensado há muito tempo que esse era um truque para fugir principalmente dos predadores, os pesquisadores descobriram recentemente que ele também atrai com eficácia as moscas desavisadas que procuram colocar seus ovos no cocô ou usá-lo como fonte de alimento.
Algumas aranhas evoluíram para confiar menos na visão de uma presa em potencial e mais em seu olfato.
As aranhas-bolas (gênero Mastophora) adoram mastigar mariposas, mas a camada externa escamosa das asas das mariposas impede que elas grudem nas teias de aranha. Assim, as fêmeas adultas de bolas se especializaram em atrair as mariposas machos produzindo os feromônios produzidos pelas mariposas fêmeas que querem acasalar. Quando a mariposa se aproxima para procurar sua parceira em potencial, as aranhas-bolas as atraem com um tufo pegajoso de seda especializada.
Diferentes aranhas-bolas atraem diferentes tipos de mariposas, e algumas podem atrair vários tipos diferentes ao mesmo tempo. Por exemplo, a Mastophora cornigera pode atrair pelo menos 19 espécies diferentes de mariposas em uma única noite.
"A questão é se elas estão produzindo uma mistura magistral de vários feromônios diferentes ou se estão ajustando seu sinal ao longo do dia ou da estação", explica Kenneth Haynes, entomologista da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos. A espécie que ele mais estudou, Mastophora hutchinsoni, produz um tipo de feromônio no início da noite para uma espécie de mariposa e outro feromônio completamente diferente no final da noite para outra espécie de mariposa.
Outras espécies de aranhas também dependem de sinais olfativos para aumentar sua atratividade. Pesquisas sugerem que a aranha cruz de Santo André (Argiope keyserlingi) borrifa sua teia sedosa com um odor fétido chamado putrescina para aumentar o número de moscas que captura.
Essa aranha (Phrynarachne decipiens) imita excrementos de pássaros para atrair presas na Malásia.
As aranhas saltadoras dos gêneros Portia, Cyrba, Gelotia e Brettus gostam de comer outras espécies de aranhas. Mas elas não atraem suas parentes aranhas para sua própria teia; em vez disso, fingem estar presas na teia de suas presas. Elas usam as oito patas e os dois pedipalpos dianteiros para arrancar meticulosamente os fios em um ritmo que imita as vibrações que uma criatura indefesa emaranhada faria, atraindo a presa da aranha para fora do centro protegido da teia.
"Elas têm uma gama ilimitada de sinais que podem emitir" ao arrancar a teia de suas presas, revela Fiona Cross, aracnóloga da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia. Se as aranhas Portia estiverem atacando um novo tipo de aranha, ou se a presa não estiver respondendo, a Portia pode ajustar criativamente o sinal em tempo real até obter o ritmo certo, de acordo com Cross.
A Portia fimbriata também usa vibrações para fingir que é a companheira em potencial de uma aranha. Quando encontram um ninho de uma aranha fêmea Euryattus – que consiste em uma folha enrolada suspensa por um fio de seda – elas sacodem a vegetação com os sinais de vibração usados pelos machos Euryattus em rituais de cortejo. A Portia consegue imitar esse ritual sem tê-lo visto antes, "mesmo em sua primeira tentativa. É incrível", diz Cross.
Considerando a complexidade cognitiva dessas façanhas para uma criatura com um cérebro do tamanho de uma cabeça de alfinete, as complexidades que os especialistas descobriram sobre o comportamento das aranhas são provavelmente apenas uma pequena fatia de todos os truques impressionantes dos aracnídeos.
"É realmente difícil demonstrar que as aranhas estão usando iscas", afirma Montiglio. "Por isso, acho que é uma boa hipótese ter que, quanto mais estudarmos as aranhas, mais descobriremos que elas estão usando iscas."
