Uma serpente azul exótica tem chamado a atenção no Instituto Butantan, órgão de pesquisa científica e produção de imunobiológicos do governo do estado de São Paulo. Trata-se de uma cobra da espécie Trimeresurus insularis e da família Viperidae que não é típica do Brasil e nem da América do Sul. É uma serpente víbora encontrada naturalmente na Ásia, especialmente na Indonésia, e por isso um tanto desconhecida por aqui.
Com olhos vermelhos, boca branca e uma coloração azul bem rara, a serpente foi resgatada em 2023, no estado da Bahia, com um traficante de animais. Por suas características bastante únicas, vale a pena conhecer mais sobre essa exótica serpente azul.
Também conhecida como víbora-dos-lábios-brancos, essa serpente Trimeresurus insularis, que atualmente vive no Instituto Butantan, tem apenas 65 centímetros e pesa 60 gramas, sendo bem pequena. Mas o seu tamanho não deve enganar: ela é bastante perigosa.
Trata-se de uma víbora, portanto, de uma cobra venenosa. Como explica Carlos Jared, pesquisador científico e diretor do laboratório de Biologia Estrutural do Instituto Butantan, no site da instituição, a Trimeresurus insularis possui um veneno hemolítico que pode destruir as hemácias do sangue, causando hemorragias. Além disso, é um veneno também proteolítico, que causa necrose dos tecidos, corroendo a pele de quem recebe sua picada.
A serpente azul não é típica do Brasil ou da América do Sul: ela é normalmente encontrada na Ásia, especialmente na Indonésia.
O veneno da serpente azul tem ação local mais similar ao das cobras jararacas – mas não têm efeito neurotóxico, então não afeta o sistema nervoso como acontece com o veneno das cascavéis.
Porém, os pesquisadores do Butantan atentam ao fato que como essa é uma espécie não comum em toda América Latina, o seu soro é dificilmente encontrado (não está disponível no Brasil, por exemplo). O perigo de ser picado por uma serpente víbora-dos-lábios-brancos é ficar sem receber o soro adequado, já que ela é exótica e natural de um país distante.
Além de ser uma espécie incomum na região, o exemplar que agora vive no Instituto Butantan é ainda mais diferente por conta de sua cor. A ocorrência da cor azul entre as víboras-de-lábios-brancos é considerada rara, já que a maioria delas é esverdeada.
As serpentes dessa espécie com a coloração azul só são encontradas em algumas ilhas específicas da Indonésia, o que faz desse exemplar bastante especial. O biólogo e herpetólogo Francisco Luís Franco explicou no site do Instituto Butantan que a cor azul se trata de um polimorfismo de cor, algo que acontece quando as espécies sofrem alterações de cor, tamanho ou comportamento por questões ambientais ou evolutivas.
Além disso, a cor azul ajuda a serpente a se camuflar em meio a vegetação para fugir de predadores e também para enganar suas presas. As Trimeresurus insularis são carnívoras e costumam se alimentar de pequenos mamíferos, anfíbios e lagartos, como explica o instituto brasileiro. Essa cobra tem o hábito de se apoiar em galhos de árvores (como a cobra-papagaio) e como tem uma cauda preênsil, consegue se pendurar em galhos e segurar as presas impedindo-as de escapar, causando uma emboscada.
As Trimeresurus insularis são carnívoras e geralmente se alimentam de pequenos mamíferos, anfíbios e lagartos, de acordo com o Butantan.
Quando os pesquisadores do Butantan souberam da interceptação da rara espécie na Bahia, inicialmente receberam no instituto um casal de serpentes víboras azuis.
A fêmea resgatada (e que possuía de uma cor menos intensa) estava bem debilitada e, apesar de ser maior do que o macho, acabou morrendo mesmo já sob cuidados da instituição. O macho, por sua vez, resistiu após ter ficado alguns dias sem comer e segue vivo, segundo informa o órgão.
O Butantan, por sua vez, acabou batizando o exemplar macho da serpente azul com o nome de uma música da cantora brasileira Rita Lee, por conta de sua beleza rara. Dentro do Butantan, o réptil é chamado de “Menino Bonito”.
Rita Lee, que marcou a cultura brasileira por sua obra musical e irreverência, era uma conhecida defensora dos animais. A artista falecida em maio de 2023 tinha um notório interesse pessoal por cobras – e até chegou a resgatar alguns exemplares.
Por conta dessa fama e também por possuir uma famosa música que fala do veneno de uma cobra cascavel, o Instituto Butantan optou por relembrar a artista. “Quisemos fazer essa homenagem pela influência tão importante dela na nossa cultura, especialmente para as mulheres, e para incentivar as meninas a se interessarem mais por ciência”, afirmou Erika Hingst-Zaher, pesquisadora e Diretora do Museu Biológico do Butantan no site da instituição.