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Cientistas fazem descoberta que pode acabar com pandemia entre anfíbios

Pesquisadores identificaram vírus capaz de infectar fungo que tem causado declínio (e até extinção) de diversas espécies de sapos e rãs em vários continentes

Publicada em 03/04/24 às 18:40h - 38 visualizações

por Kativa FM \\ Galileu


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Rã-dourada-do-panamá (Atelopus zeteki) — Foto: Brian Gratwicke/US Fish & Wildlife Service  (Foto: Kativa FM \\ Galileu)
O fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd) é o responsável por infectar e ocasionar a extinção de diversas espécies de sapos e rãs, causando uma pandemia entre esses anfíbios. No último dia 14 de março, um estudo publicado na revista Current Biology divulgou a descoberta de um vírus que infecta esse fungo e que pode salvar os animais.

A descoberta do vírus foi feita por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Riverside (UCR), nos Estados Unidos. A pesquisa ajuda a compreender como os patógenos fúngicos surgem e se espalham nos anfíbios de quase todos os continentes.

A doença fúngica causa prejuízo para a pele de sapos e rãs e pode causar insuficiência cardíaca nesses animais. De acordo com o estudo, o fungo ocasionou possivelmente a extinção de 90 espécies e o declínio de mais de 500 anfíbios — incluindo o sapo-de-patas-amarelas (Rana boylii) e a rã-dourada-do-panamá (Atelopus zeteki).

“As rãs controlam insetos nocivos, pragas agrícolas e mosquitos. Se suas populações em todo o mundo entrarem em colapso, isso poderá ser devastador”, diz Mark Yacoub, estudante de doutorado em Microbiologia da UCR e autor do artigo, em comunicado.

“Eles também são o ‘canário na mina de carvão’ das alterações climáticas. À medida que as temperaturas aumentam, a luz ultravioleta fica mais forte e a qualidade da água piora, e as rãs respondem a isso. Se forem eliminados, perderemos um sinal ambiental importante”, acrescenta.


Ao encontrar o vírus que infecta o fungo Bd, Yacoub e seu professor Jason Stajich estudaram a genética populacional da espécie fúngica. O objetido era compreender melhor sua origem e como ela sofre mutação.


“Queríamos ver como as diferentes cepas de fungos diferem em lugares como ÁfricaBrasil EUA, assim como as pessoas estudam diferentes cepas da Covid-19”, compara Stajich. O termo cepa se refere às variantes de um microrganismo original.

Para fazer essa descoberta, os pesquisadores utilizaram a tecnologia de sequenciamento de DNA. Ao examinarem os dados, eles notaram que algumas sequências não correspondiam ao código genético do fungo. “Percebemos que essas sequências extras, quando reunidas, tinham as características de um genoma viral”, relata Stajich.


Colônias do fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd) — Foto: Mark Yacoub/UCRColônias do fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd) — Foto: Mark Yacoub/UCR

Estudar fungos é um procedimento complexo, pois é difícil mantê-los vivos em laboratório. “Também é um fungo difícil de controlar, porque eles têm um estágio de vida em que são móveis, têm um flagelo, que lembra a cauda de um espermatozoide, e nadam”, pontua Stajich.

Mas houve dificuldade em encontrar algum agente viral capaz de infectar o fungo Bd, pois a maioria dos vírus que infectam organismos fúngicos são de RNA. No entanto, o vírus descoberto é de DNA de fita simples. Os pesquisadores estudaram o DNA e puderam ver o vírus preso ao genoma do fungo.

Eles descobriram, assim, que apenas algumas cepas do fungo possuem o vírus em seu genoma. Os fungos infectados se comportam de maneira diferente daqueles que não estão contaminados. “Quando essas cepas possuem o vírus, elas produzem menos esporos, por isso ele se espalha mais lentamente. Mas também podem tornar-se mais virulentos, matando sapos mais rapidamente”, explica Stajich.


Estruturas produtoras de esporos do fungo — Foto: Mark Yacoub/UCREstruturas produtoras de esporos do fungo — Foto: Mark Yacoub/UCR

Com o vírus preso dentro do genoma fúngico, os pesquisadores gostariam de clonar o vírus e ver se uma cepa do fungo, infectada manualmente, também produz menos esporos. “Como algumas cepas do fungo estão infectadas e outras não, isso ressalta a importância de estudar múltiplas cepas de uma espécie de fungo”, afirma Yacoub.

“Não sabemos como o vírus infecta o fungo, como entra nas células”, acrescenta. “Se quisermos projetar o vírus para ajudar os anfíbios, precisamos de respostas para perguntas como essas.” Em alguns locais, possivelmente existem algumas espécies de anfíbios que adquirem resistência ao fungo Bd. “Tal como acontece com a Covid, há um lento aumento da imunidade. Esperamos ajudar a natureza a seguir seu curso”, finaliza o pesquisador.




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