Essa corrente é ligada aos oceanos Índico, Atlântico e Pacífico. Ela transporta mais de 100 vezes mais água que todos os rios do mundo juntos e tem 2 mil km de diâmetro. Por causa da sua importância na circulação marítima, desempenha um papel fundamental na regulação do clima global e atua como o motor de água mais poderoso do mundo.
Cerca de 40 pesquisadores de uma dúzia de países envolvidos no estudo analisaram núcleos de sedimentos de água em áreas ásperas e remotas do planeta. O objetivo era mapear a relação do redemoinho de correntes com o clima nos últimos 5,3 milhões de anos.
Entre maio e julho de 2019, os pesquisadores viajaram a bordo do navio de perfuração JOIDES Resolution para Point Nemo, um local ao extremo sudoeste do Pacífico. Lá, a equipe colocou uma sonda de perfuração a cerca de 3.600 metros de profundidade no oceano. Depois, perfuraram o fundo e recolheram sedimentos medindo entre 150 e 200 metros cada.
Núcleos de sedimentos frescos a bordo do navio de perfuração JOIDES Resolution. Eles revelam correntes mais vigorosas durante os períodos quentes e mais lentas durante os frios — Foto: Gisela Winckler
Em laboratório, usaram uma técnica avançada de raios-X para analisar as camadas de milhões de anos. E foi aí que eles descobriram que a corrente se move em conjunto com a temperatura da Terra, desacelerando em períodos frios e com maior velocidade em fases quentes.À medida que o aquecimento induzido pelos humanos avance, a velocidade continuará aumentando. E os efeitos serão grandes perdas de gelo na Antártida, além de alta do nível do mar e possivelmente menor capacidade do oceano de absorver carbono da atmosfera.
"Esse derretimento do gelo pode ser atribuído ao aumento do transporte de calor para o sul", afirma o autor principal do estudo, Frank Lamy, do Instituto Alfred Wegener, na Alemanha, em comunicado. "Uma Corrente Circumpolar Antártica mais forte significa que mais água quente e profunda chega à borda da plataforma de gelo da Antártida."
Os cientistas observaram que os ventos sobre o Oceano Austral (ou Antártico) aumentaram em cerca de 40% nos últimos 40 anos. Entre outros efeitos, isso acelerou a corrente e energizou redemoinhos em grande escala dentro dela.
Segundo o artigo, esses redemoinhos movem águas quentes das latitudes mais altas do planeta em direção às plataformas de gelo flutuantes da Antártida. Especialmente no oeste do continente gelado, essas águas quentes estão corroendo a parte inferior das plataformas de gelo — e essa é a principal razão pela qual elas estão se desgastando.
Atualmente, a absorção de carbono pelas águas oceânicas que circundam a Antártida é de cerca de 40%. Mas os cientistas ainda não sabem afirmar se a aceleração da corrente comprometerá esse processo.
As condições para a formação da corrente se formaram há cerca de 34 milhões de anos, após as placas tectônicas separarem a Antártida de outras massas continentais e as calotas de gelo se acumularem. Mas a corrente em si começou a fluir entre 12 milhões e 14 milhões de anos atrás. Estima-se que ela transporte de 165 milhões a 182 milhões de metros cúbicos de água por segundo enquanto circunda a Antártida, no sentido horário, a uma velocidade de 4 quilômetros por hora.
"Essas descobertas fornecem evidências geológicas sobre o aumento do fluxo da Corrente Circumpolar Antártica (ACC) com o aquecimento global contínuo", escrevem os pesquisadores em seu artigo. "Se verdadeiro, um aumento futuro no fluxo da ACC com o clima aquecido marcaria uma continuação do padrão observado em registros instrumentais, com prováveis consequências negativas."