O Aedes aegypti é o famoso mosquito transmissor da dengue, e também de doenças como a chikungunya e a febre amarela, entre outras doenças. De acordo com dados fornecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ele está atualmente distribuído nas Américas. No entanto, esse pequeno mosquito não é nativo do continente americano.
O mosquito é, especificamente, originário da África e teve que passar por um importante processo de adaptação para coexistir com os seres humanos no ambiente doméstico, explica Sylvia Fischer, doutora em Ciências Biológicas e pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) na Argentina.
Para chegar ao continente norte-americano, o mosquito responsável pela transmissão da dengue fez uma extensa viagem nos navios que aportaram neste território séculos atrás, explica a especialista, que também é diretora do Grupo de Estudos de Mosquitos da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade de Buenos Aires (UBA).
No passado, o mosquito vivia na África subsaariana, onde usava troncos ocos de árvores como seu habitat larval e se alimentava do sangue de animais (e não de humanos), observa Fischer, de acordo com um artigo que analisa o inseto em profundidade.
O trabalho, publicado em 2013 na revista acadêmica” Memórias do Instituto Oswaldo Cruz”, aponta que é possível que o Aedes aegypti tenha sido introduzido nas Américas logo após a chegada dos europeus.
As fêmeas do Aedes aegypti preferem picar pela manhã e ao entardecer.
FOTO DE RAYELEN BARIDON CONICET, LA PLATAUm fato que comprova isso é que a febre amarela já era conhecida na África subsaariana muito antes de 1400, mas não nas Américas. Neste território, relata o jornal, o primeiro surto confirmado da doença ocorreu em Yucatan, em 1648, embora casos possam ter sido registrados no Haiti já em 1495.
Naquela época, navios de Portugal e da Espanha navegavam para a África Ocidental para fazer o comércio de pessoas escravizadas e levá-las para as Américas, onde adquiriam mercadorias para serem levadas de volta a Portugal e à Espanha.
"Esses navios levavam várias semanas para atravessar o Atlântico, por isso, era necessário estocar alimentos e água para a viagem", diz Fischer. Assim, continua o especialista, eram enchidos barris com água, nos quais as larvas eram transportadas.
Em suma, o mosquito que atualmente está colocando a população latino-americana em alerta não é local, mas chegou ao continente por meio de transporte intercontinental.