O cachorro foi provavelmente o primeiro animal a ser domesticado – e ele tem acompanhado os seres humanos há cerca de 10 mil anos. Alguns cientistas afirmam que todos os cães, tanto os domésticos quanto os selvagens, têm um ancestral comum no pequeno lobo do sudeste asiático, mas não há consenso científico sobre sua ancestralidade ou sobre como exatamente surgiu uma aliança milenar entre humanos e canídeos.
Atualmente, os seres humanos cruzaram centenas de raças de cães domésticos, algumas das quais jamais poderiam sobreviver na natureza. Apesar da grande diversidade de raças, formas e tamanhos, todos os cachorros domésticos, sejam eles labradores, pastores alemães, poodles ou chihuahuas, são membros da mesma espécie: canis lupus familiaris. Embora seu modo de vida seja doméstico, eles são parentes de lobos, chacais – com os quais podem ter uma prole fértil – e raposas, cujo cruzamento é mais raro.
Os cachorros domésticos ainda compartilham muitos padrões de comportamento com seus parentes selvagens. Ambos defendem seus territórios e os marcam urinando em árvores, pedras, cercas e outros locais adequados. Esses sinais informam aos outros cães que o território está ocupado por outro animal.
Muitos cães também enterram ossos ou brinquedos favoritos com a intenção de guardá-los para o futuro, assim como seus parentes selvagens às vezes enterram suas presas mortas para garantir um banquete mais tarde.
Os cachorros se comunicam uns com os outros de diferentes maneiras. Uma delas é deixar rastros de cheiro, outra são os gestos físicos. A postura corporal, a maneira como se movimentam e as expressões faciais geralmente expressam mensagens diretas. Muitos desses sinais são reconhecíveis até mesmo pelos humanos, que sabem que um cão está feliz quando abana a cauda alegremente em círculos ou que está com raiva ou ameaçado quando mostra os dentes. Vocalmente, os cães se comunicam por meio de uma cacofonia de sons que inclui latidos, rosnados e uivos.
Além disso, muitos estudos demonstraram que os cachorros podem entender os humanos mesmo sem terem sido treinados para isso. Além disso, eles adaptam sua linguagem para comunicar coisas a nós, inclusive seus próprios interesses.
É essa capacidade de comunicação em ambas as direções – eles nos transmitem mensagens que nós entendemos e vice-versa – que é uma das chaves para a longa e próspera evolução entre humanos e cachorros.
Há muito tempo se diz que o cão é o melhor amigo do homem. É uma avaliação que geralmente se baseia no comportamento deles: a lealdade, o amor e a vontade de agradar. Donos de animais de estimação como Sharon Reid, de Grand Rapids, Michigan (nos Estados Unidos), dizem ter experimentado essa devoção em primeira mão: “Depois que meu marido morreu, meu cachorro foi a constante mais confiável em minha vida para me ajudar nos meses difíceis que se seguiram”.
Entre os benefícios para a saúde mais amplamente compreendidos e aceitos da posse de animais de estimação estão o fato de que eles proporcionam melhores estratégias para lidar com o estresse, podem promover maior empatia e compaixão, e que sua companhia “pode proteger as pessoas da solidão”, diz Alan Beck, professor de ecologia animal e diretor do Center for Human-Animal Bonding na Purdue University em Indiana, Estados Unidos.
Esses benefícios estão refletidos em uma pesquisa recente da Associação Americana de Psiquiatria, que revelou que 86% dos donos acham que seus animais de estimação têm um impacto positivo em sua saúde mental e que cerca de 90% consideram o animal como um membro da família.
Mas os cães de estimação não servem apenas como companhia, muitos também ganham a vida com trabalho árduo. Os cães guardam rebanhos, ajudam caçadores, vigiam casas e realizam trabalhos policiais e de resgate. Alguns deles, especialmente treinados, servem até mesmo como guias para cegos – um símbolo pungente do antigo papel do cão como o melhor amigo do homem.
Além disso, apesar dos milênios de coexistência, os cachorros e os humanos continuam a encontrar novos caminhos de colaboração (quase sempre a favor dos humanos). Desde ajudar a detectar doenças até auxiliar em batalhas ambientais.
Essa aliança continua a evoluir e, à medida que as sociedades mudam, o mesmo acontece com a interpretação do nosso vínculo com eles. É por isso que em alguns países, como na Coréia do Sul, seu consumo como alimento foi proibido e, na Espanha, acaba de ser aprovada uma nova lei de proteção animal que se concentra muito no tratamento e no status legal de nossos amigos caninos.