Um artigo sobre cognição animal publicado na revista científica Nature explica que as abelhas são inteligentes o suficiente para informar ao resto da colmeia a localização exata de alimentos a serem coletados. O ângulo em que a abelha se move é traçado em relação à luz do sol e fornece a direção da fonte de alimento, explica o estudo.
Esse exemplo extraordinário fez os cientistas se questionarem sobre como a inteligência dos animais pode ser medida e se é correto compará-la ao raciocínio humano. Em seus habitats, diz a Nature, os seres vivos exibem diferentes habilidades para enfrentar desafios e sobreviver. Essa necessidade de obter alimento é um ato de inteligência? Como eles processam as informações que recebem de seu ambiente?
Os animais selvagens precisam passar por uma série de provações em seu ambiente para sobreviver. A sensação de fome desencadeia a necessidade de encontrar alimento, assim como um animal tenta evitar ser o jantar de um predador mais alto na cadeia alimentar.
Portanto, é essencial que ele busque abrigo e esteja alerta à presença de um caçador. A resolução de todos esses problemas, explica a Nature, exige habilidades cognitivas e envolve o processamento de informações. Isso torna os animais seres vivos inteligentes?
A capacidade de procurar alimento, encontrar abrigo, tomar decisões com base nas informações disponíveis, lembrar-se de eventos, mover-se pelo habitat reconhecendo locais, memorizar caminhos de milhares de quilômetros (na terra, no ar e no mar) e até mesmo levar em conta a mudança do tempo é uma amostra das habilidades cognitivas que os animais usam diariamente para sobreviver. Os cientistas responsáveis pelo estudo da Nature optam por falar “cognição” em vez de inteligência para definir essas habilidades naturais do reino animal.
Chimpanzé bonobo (Pan paniscus) com as mãos nas orelhas.
FOTO DE SHUTTERSTOCKUm artigo publicado na revista Science, intitulado "An intelligence test for animals?" (Um teste de inteligência para animais?), explica que a inteligência geral, definida como "a capacidade de ter um bom desempenho em várias tarefas cognitivas, desde habilidades matemáticas até a resolução de problemas", é difícil de ser medida entre animais humanos e não humanos. No caso de animais não humanos, explica o artigo, é complicado determinar a inteligência geral em vez de habilidades específicas.
Além disso, os resultados de avaliação da "inteligência geral" podem variar de acordo com o grau de motivação para o exercício científico. "Como a maioria dos experimentos recompensa os possíveis candidatos com alimentos, um estômago vazio (ou cheio) pode ser tudo o que é necessário para distorcer os resultados", argumenta o artigo da Science. Confira abaixo dois exemplos de cognição animal.
Há seres vivos que delimitam o território e reconhecem pontos de referência a partir da triangulação de árvores, pedras ou objetos maiores espalhados pelo perímetro. Assim, informa o artigo da Nature, eles aprendem a reconhecer seus lares e a se orientar a partir deles para não se perderem.
As aves migratórias voam longas distâncias em busca de um clima melhor e de alimentos. Elas realizam essa façanha ano após ano, sempre usando a mesma rota de navegação.
Como? A Nature explica que as aves migratórias usam a luz do sol e o campo magnético da Terra para navegar no céu, como uma espécie de bússola solar natural auxiliada por mudanças sazonais na luz, para reconhecer para onde precisam ir.
O Animal Diversity Web (ADW), um banco de dados on-line de história natural da Universidade de Michigan, EUA, indica que os chimpanzés (Pan troglodytes) mantêm vínculos com seus pais durante toda a vida, mesmo depois de saírem de casa em busca de "independência".
De acordo com o ADW, eles são animais que memorizam e distinguem rostos de outros seres vivos mesmo depois de anos sem vê-los. Além disso, os chimpanzés machos usam a mãe como apoio emocional quando estabelecem hierarquias de dominância masculina.
Eles são primatas que aprendem a se comunicar por meio de sinais, linguagem corporal, posturas e gestos faciais. O ADW argumenta que eles podem demonstrar emoções por meio de vocalizações e ruídos com objetos ao alcance. Além disso, uma de suas características sociais mais importantes são as brincadeiras recreativas, atividades semelhantes às brincadeiras humanas (provocações, cócegas, brigas e perseguições).