A Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Serviço Copernicus da Comissão Europeia confirmaram nesta quinta-feira (27/7) que julho de 2023 será o mês mais quente já registrado na história.
Os dados das agências, divulgados em um comunicado de imprensa da Organização das Nações Unidas (ONU), revelam que o mês de julho registrou vários recordes já documentados mundialmente: as três semanas mais quentes, os três dias mais quentes e as temperaturas oceânicas mais elevadas para esta época do ano.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, falou sobre este cenário e insistiu na urgência de conter a aceleração das mudanças climáticas.
Guterres salientou que as consequências das temperaturas recorde são claras e trágicas, e têm impacto na saúde das pessoas, no ambiente e nas economias.
Além disso, o responsável da ONU manifestou preocupação com a situação atual, que, segundo ele, é consistente com as previsões e avisos feitos por especialistas.
"A única surpresa é a velocidade das mudanças climáticas, que já estavam aqui. É assustador e é apenas o início. A era do aquecimento global acabou. A era da ebulição global chegou", afirmou.
A OMM apresentou os dados como uma "antevisão do futuro" e estimou em 98% a possibilidade de "pelo menos um dos próximos cinco anos ser o mais quente já registrado, podendo ultrapassar temporariamente a marca de 1,5 °C, acima dos níveis pré-industriais".
De acordo com os peritos das organizações, o principal fator de aumento das temperaturas são as emissões antropogénicas, ou seja, as emissões geradas pelo homem.
Guterres foi direto quanto à responsabilidade humana e pediu aos líderes mundiais que promovam ações para mudar o cenário atual. "Acabaram-se as hesitações. Acabaram-se as desculpas. Chega de esperar que os outros atuem primeiro. Já não há tempo para isso", afirmou.
O diretor-geral da OMM, Petteri Taalas, destacou a urgência de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), alertando que a ação climática não é um luxo, mas uma necessidade.
Apesar de progressos em algumas áreas, como na implementação das energias renováveis, nenhum deles é tão abrangente ou tão rápido quanto o necessário, advertiu a ONU. Por isso, os países precisam começar a trabalhar com determinação, destacou a instituição.
O líder da ONU garantiu que “ainda é possível atingir o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C até ao final do século e evitar o pior das alterações climáticas”.
Guterres enfatizou a importância de uma ação acelerada e instou os países membros do G20, responsáveis por 80% das emissões globais, a intensificar a ação e a justiça climática.
De acordo com o diretor-geral, é imperativo que os países desenvolvidos se comprometam a atingir emissões líquidas nulas o mais próximo possível de 2040 e as economias emergentes o mais próximo possível de 2050, com o apoio dos países desenvolvidos.
"Todos os atores devem unir-se para acelerar uma transição justa e equitativa dos combustíveis fósseis para as energias renováveis. É frear a expansão do petróleo e do gás e ao mesmo tempo fomentar o financiamento e licenciamento de novas fontes de produção de energia”, defendeu.
Guterres apelou para as empresas, cidades, regiões e instituições financeiras comparecerem à Cúpula de Ambição Climática com planos de transição confiáveis, que estejam de acordo com o padrão de emissões líquidas zero da ONU.
De acordo com o secretário-geral da ONU, as instituições financeiras devem encerrar seus empréstimos, subscrição e investimentos em combustíveis fósseis, e mudar para energia renovável. Enquanto isso, as empresas de combustíveis fósseis devem delinear uma mudança para a energia limpa, com planos de transição detalhados em toda a cadeia de valor.
Além disso, o chefe da ONU pediu medidas de adaptação e proteção contra o calor, inundações fatais, tempestades, secas e incêndios. "Os países na linha de frente, que fizeram menos para causar a crise e têm menos recursos para lidar com ela, devem receber o apoio necessário para fazê-lo", insistiu.
Diante desse cenário, Guterres enfatizou que a cúpula não deve gerar desespero, mas inspirar ação. "Ainda podemos impedir o pior. Mas, para isso, precisamos transformar um ano de calor escaldante em um ano de ambição escaldante. E acelerar a ação climática, agora", concluiu.