Em todo o mundo, diversas questões ambientais estão no foco de discussões da mídia, das autoridades e de especialistas. Um relatório publicado em 2022 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) identifica e analisa alguns dos principais problemas ambientais globais.
No documento Frontiers 2022: Noise, flames and imbalances (“Fronteiras 2022: Ruído, chamas e desequilíbrios”, em tradução livre), a organização se aprofunda em três questões: poluição sonora, incêndios florestais e mudanças nos fenômenos sazonais.
Embora certos problemas possam ser de natureza local e ter pouco impacto atualmente, eles têm o potencial de se tornar uma preocupação global se não forem tratados com antecedência.
Conforme explica o relatório, não existe silêncio no planeta. Por ser um fenômeno físico, os sons são registrados continuamente. Alguns trazem benefícios à saúde, especialmente aqueles provenientes da natureza.
Entretanto, quando esses sons são indesejados, eles se tornam ruídos. E quando esses ruídos são muito altos e persistentes, são considerados poluição sonora.
A poluição sonora provém de fontes convencionais, como estradas, ferrovias, aeroportos e indústrias, bem como de atividades domésticas e de lazer.
O Pnuma alerta que esse é um problema ambiental grave atualmente. Trata-se de algo prejudicial à saúde em todas as faixas etárias.
Os efeitos adversos do ruído sobre as pessoas identificados no relatório incluem: sentimentos de angústia; distúrbios do sono e comprometimento do bem-estar; comprometimento cognitivo; perda auditiva e zumbido; e efeitos sobre a qualidade de vida, a saúde mental e o bem-estar.
A exposição ao ruído do tráfego é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, como hipertensão e diabetes.
O relatório alerta que o ruído é também uma ameaça aos animais, pois altera a comunicação e o comportamento de várias espécies, incluindo pássaros, insetos e anfíbios. O ruído afeta os padrões de reprodução das espécies e até mesmo as expulsa de seus habitats, com implicações ecológicas significativas.
Diante desse cenário, o relatório sugere a criação e a preservação de mais espaços silenciosos para proporcionar paisagens sonoras urbanas agradáveis.
Na América Latina, o desmatamento generalizado levou a incêndios florestais desastrosos nas últimas décadas, informa o relatório Frontiers 2022.
De acordo com as estatísticas, mais de seis milhões de hectares foram queimados em 2019 no Brasil (incluindo a Amazônia e o Cerrado), Bolívia, Colômbia, Paraguai e Peru, principalmente em áreas protegidas de vegetação nativa.
Globalmente, de 2002 a 2016, aproximadamente 423 milhões de hectares da superfície da Terra foram queimados a cada ano, sendo a maioria (67%) no continente africano. Embora os incêndios florestais possam ocorrer naturalmente, a maior parte é resultado de ações humanas.
Por exemplo, no Brasil, o desmatamento e o avanço agrícola desenfreado resultaram em um aumento de incêndios em todo o país, inclusive na região da Amazônia, onde antes eram raros.
O relatório também alerta que, globalmente, muitos tipos de eventos climáticos extremos já são mais intensos e ocorrem com mais frequência do que no passado devido à mudança climática induzida pelos humanos.
O aumento das temperaturas, aliado às secas, resulta em incêndios mais longos. “Incêndios florestais extremamente intensos podem desencadear tempestades que elevam as queimadas por meio do vento e da geração de raios que iniciam outros incêndios, em um ciclo vicioso perigoso”, afirma o relatório.
Smokejumpers realizam operações de queima à noite e queimam toda a vegetação não queimada entre o ponto de ancoragem e a borda do fogo, no Alasca.
FOTO DE MARK THIESSENOs efeitos de longo prazo sobre a saúde física e mental não se limitam às pessoas próximas ao local do incêndio. A fumaça tem consequências impactantes para a saúde humana em locais que, às vezes, ficam a milhares de quilômetros de distância.
Os incêndios aumentam o derretimento da neve, emitem um enorme volume de poluentes atmosféricos, contaminam a água, aumentam a suscetibilidade do solo à erosão e destroem a biodiversidade animal e vegetal
De acordo com o Pnuma, a fenologia é o ramo que estuda os estágios do ciclo de vida e como as espécies respondem às mudanças ambientais. Ou seja, as plantas e os animais em todos os ecossistemas usam a temperatura, a duração do dia ou a precipitação como sinais de quando desfolhar, florescer, frutificar, reproduzir, fazer ninhos, polinizar, migrar, entre outras.
O relatório de 2022 adverte que um dos problemas ambientais enfrentados pelo mundo são as alterações na fenologia como resultado das mudanças climáticas, fazendo com que as plantas e os animais saiam de sincronia com seus ritmos naturais.
Esses distúrbios podem levar a desequilíbrios com grandes consequências para indivíduos, populações, comunidades e ecossistemas.
Nem todas as espécies em um determinado ecossistema reagem da mesma forma ou na mesma velocidade. Por exemplo, nas cadeias alimentares, as plantas podem mudar seu desenvolvimento mais rapidamente do que os animais que se alimentam delas.
Outro exemplo visível e bem registrado é a floração da cerejeira, que marca a chegada da primavera no Japão. Os dados indicam que, ao longo de 1200 anos, as datas de floração variaram do final de março ao início de maio. No entanto, a data vem se antecipando desde 1830, uma tendência que coincide com o aumento das temperaturas.
"Mudanças assíncronas na fenologia de um amplo conjunto de espécies têm o potencial de alterar o funcionamento de ecossistemas inteiros e a prestação de serviços ecossistêmicos dos quais os humanos dependem", alerta o documento.
As espécies migratórias de longa distância também são particularmente vulneráveis às mudanças causadas pelo aquecimento global. Esse é o caso da borboleta-monarca (Danaus plexippus), que viaja até 4300 quilômetros entre seus locais de reprodução no verão, no sul do Canadá e no norte dos Estados Unidos, e seus locais de inverno, na região central do México.
Uma análise de mais de 29 anos citada no documento do Pnuma mostra que essa espécie atrasou a migração em seis dias por década devido às temperaturas mais altas do que o normal. As borboletas que viajam no final da estação aparentam ter menos probabilidade de chegar ao seu destino do que aquelas que migraram no início da estação, possivelmente devido à indisponibilidade de alimentos ao longo do caminho.
Diante desse cenário, o Pnuma enfatiza a necessidade de coordenar os esforços internacionais ao longo das rotas migratórias e limitar a taxa de aquecimento por meio da redução das emissões de dióxido de carbono.