É o que apontam os dados do sistema de contagem (SEEG) do Observatório do Clima, lançados nesta quinta-feira (7), um dia após a divulgação das taxas de perda de vegetação do Inpe e que mostraram uma queda de 30,63% em relação ao período anterior no bioma amazônico.
A baixa é a maior desde 2009, ano em que o país teve a menor emissão da sua série histórica iniciada em 1990, e o aproxima do cumprimento de suas metas climáticas ou NDCs ( Contribuições Nacionalmente Determinadas). Estas, inclusive, devem ser atualizadas durante a COP29 em Baku, no Azerbaijão, visando o marco de 2035.
Diferentemente de outros países do norte global que ainda estão tentando resolver a transição energética, o Brasil se caracteriza por ter as mudanças no uso de terra respondendo por 46% de todos gases estufa e a queda na perda de vegetação do bioma amazônico representou 24% na redução das emissões nacionais.
David Tsai, coordenador do SEEG, destacou em comunicado que a baixa certamente é uma boa notícia, e nos coloca na diração para cumprir o plano climático de 2025. "Ao mesmo tempo, mostra que ainda estamos excessivamente dependentes do que acontece na Amazônia, já que as políticas para os outros setores são tímidas ou inexistentes", disse. Ainda segundo ele, é preciso mudar a nova NDC para que o Brasil atenda a "um plano de descarbonização consistente e que faça de fato uma transformação na economia".
Por outro lado, o desmatamento dos biomas brasileiros emitiu 1,04 GtCO2e brutas no ano passado e ainda tornam o Brasil o quinto maior emissor do mundo. O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal foi o único responsável pela positiva queda histórica, enquanto o Cerrado apresentou um aumento de 23% em suas emissões, 11% na Caatinga, 4% na Mata Atlântica, 86% no Pantanal e 15% no Pampa.
Bárbara Zimbres, pesquisadora do Ipam, organização responsável pelo cálculo do SEEG, também disse que o combate ao desmatamento começa a surtir efeito. "Enquanto isso, em outros biomas, como o Cerrado e o Pantanal, acelera. Esse ‘vazamento’ não é algo novo e precisa de solução urgente para que
continuemos tendo chances de atingir as metas de mitigação", acrescentou.
Outros setores registram alta
A agropecuária teve seu quarto recorde consecutivo de emissões, com elevação de 2,2%, devido principalmente a um aumento dos bovinos. Em 2023, o setor representou 28% das emissões brutas do Brasil e segue sendo o maior emissor (74% do total).
Gabriel Quintana, analista de ciência do clima do Imaflora, organização responsável pelo cálculo de emissões de agro no SEEG, complementou que a última redução do setor foi registrada em 2018 e desde então, vêm batendo recordes -- puxadas pelo aumento do rebanho, uso de calcário e fertilizantes sintéticos nitrogenados e maior demanda de produção.
"O desafio, bastante suscetível aos impactos da crise climática, é alinhar a mitigação das emissões com a eficiência da produtividade, em especial, a redução de metano e a adoção de sistemas que geram sequestro de carbono no solo", destacou.
Já o setor de energia teve uma tímida alta de 1,1% em suas emissões, devido ao aumento do consumo de óleo diesel, gasolina e querosene de aviação, o que também levou a elevação de 3,2% nas emissões
de transporte em um recorde histórico.
No total nacional, energia e processos industriais emitiram 22%. Por último, o setor de resíduos registrou um crescimento de 1% e tem estabilizado nos últimos anos, principalmente em função de avanços na reciclagem e serviços de saneamento.