Com mais de 14 milhões de seguidores na redes sociais, o funkeiro MC Ryan se exibe com Lamborghini, helicóptero e motos de luxo. Já MC Brisola, com quase 4 milhões de contas o seguindo, mostra viagens paradisíacas, luxo e um Porsche. Além de dividirem o mundo fo funk, os dois têm outro ponto em comum: são investigados em um esquema milionário de rifas e jogos ilegais que teria envolvido a corrupção de policiais civis.
A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de São Paulo (FICCO), da Polícia Federal, em março deste ano, apreendeu celular do empresário que representa os MCs, Vitor Hugo dos Santos. A apreensão ocorreu durante a Operação Latus Actio, à qual o SBT teve acesso. A ação apura a relação da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) com lavagem de dinheiro, jogos e loterias ilegais, além de outros crimes, e personalidades do funk.
No dia 28 de fevereiro, a Polícia Civil teria dado "umas olhadas" na casa de MC Ryan, que enviou um áudio preocupado para o empresário Vitor Hugo, questionando: "tá tudo certo com aquela outra delegacia lá?".
Orgulhoso, Vitor Hugo respondeu que teria conseguido negociar com agentes da Polícia Civil sem precisar da ajuda de um advogado. Na ocasião, o empresário afirmou que "eles [policiais] queriam um milhão e meio, já baixamos para R$ 800 mil, depois foi para R$ 500 mil, agora eu falei para eles que vão mandar um café de R$ 50 mil".
Na visão da Polícia Federal, o dinheiro para a Polícia Civil seria para que "não fossem investigados em relação às rifas ilegais" que Vitor Hugo e MC Ryan promoviam nas redes sociais.
No dia seguinte ao diálogo, o empresário avisou Ryan que preferiu enviar R$ 100 mil aos agentes civis para não ficar "com esse bagulho [problema] na cabeça". O Tubarão, como é conhecido o funkeiro, responde que já, já "vai ter que pagar os polícias daqui da minha delegacia também" e pede para deixar algum "gravata" preparado.
Segundo o entendimento de autoridades contra o crime organizado, os gravatas são os advogados do PCC responsáveis por realizar os serviços legais e ilegais da facção.
De acordo com as mensagens interceptadas pela Polícia Federal, uma única rifa ilegal promovida pelo Mc Ryan e o influenciador digital Bruno Silva, conhecido como Buzeira, arrecadou quase R$ 14 milhões, com "sorteio" de uma Lamborghini e uma moto de luxo no dia 8 de março deste ano.
Em uma das conversas do MC com o empresário, Ryan detalhou as despesas, incluindo o percentual de 7% acertado com a polícia, mas disse que acabou enviando R$ 150 mil para o bolso de agentes corruptos. Além disso, R$ 695 mil seriam para a plataforma que hospedava as rifas, de propriedade do influencer digital Chrys Dias, que já foi alvo de mandados de busca e apreensão.
O lucro da operação foi de quase R$ 6,5 milhões, divididos entre o influencer e o MC, que discutiu quanto seria repassado a Vitor Hugo.
Segundo a PF, a troca de pagamentos entre os envolvidos a partir do dinheiro das rifas promovidas – que não são legalizadas e configuram "contravenção penal por jogos de azar" – também seriam lavagem de dinheiro.
Mesmo sabendo que a prática é ilegal, conforme uma das conversas entre o funkeiro e o empresário, a maior preocupação do MC era perder a conta da rede social, onde realiza as propagandas de bets e rifas ilegais. Ryan afirmou que compensa mais dar para os policiais "cinquentinha (R$ 50 mil), do que perder o Instagram onde nois pode fazer milhões".
Ainda de acordo com a investigação da Polícia Federal, em outra conversa de novembro de 2023, Silas Rodrigues Santos, conhecido como MC Brisola, que também é agenciado pelo empresário Vitor Hugo, comenta sobre um suposto pagamento de 'propina' de R$ 20 mil que iria fazer para policiais civis de Santo André, na Grande São Paulo.
De acordo com a conversa de Brisola com o empresário, agentes do 6º Distrito Policial de Santo André fizeram uma "jogadinha" para ganhar dinheiro em troca de arquivar uma investigação de sorteios ilegais.
O SBT News procurou MC Ryan, MC Brisola e o empresário Vitor Hugo dos Santos, os citados na reportagem, por e-mail e redes sociais, mas não teve resposta.
Em nota, a produtora de funk GR6, que tinha MC Ryan como um dos principais artistas, lamentou a coação dos policiais.
“A GR6 lamenta os relatos de que, no passado, artistas de seu cast foram vítimas de achaque policial e torce para que os fatos sejam rapidamente esclarecidos, para que a indústria do funk que atua dentro da lei possa seguir se modernizando e gerando oportunidades nas comunidades periféricas do país", disse em nota.
A Polícia Civil disse, via Secretaria de Segurança Pública, que acompanha as investigações e desdobramentos da Operação Latus Actios e, caso as denúncias sejam oficializadas, a "Corregedoria da Instituição adotará as medidas legais e administrativas cabíveis".