O SBT teve acesso, com exclusividade, à clínica em Belém onde ocorreu um mutirão de cirurgias de catarata que deixou mais de 20 pacientes com infecções graves, resultando na amputação de um dos olhos de pelo menos cinco pessoas. O centro cirúrgico e o setor de materiais esterilizados do local permanecem interditados.
A polícia começou a ouvir os depoimentos das vítimas, enquanto investiga possíveis falhas no processo de esterilização e uma possível fraude envolvendo o Sistema Único de Saúde (SUS).
A clínica, por sua vez, defende-se alegando que o ambiente foi desinfetado após as cirurgias e levanta a hipótese de que a bactéria pode ter sido trazida por um dos próprios pacientes. "A clínica tomou conhecimento, através da esposa de um dos pacientes, que ele já tinha uma bactéria, mas omitiu essa informação ao fazer o procedimento", declarou a advogada da clínica, Ivanilda Pontes.
Entretanto, o presidente da Sociedade Paraense de Infectologia, Alessandre Guimarães, explicou que a contaminação poderia ter sido evitada se os protocolos de boas práticas fossem seguidos corretamente. "Se o hospital segue corretamente as normas de controle de infecção e validação dos processos de esterilização, dificilmente haveria riscos para os pacientes que passam por procedimentos cirúrgicos", afirmou.
As falhas nos sistemas de desinfecção foram determinantes para que a Secretaria de Saúde de Belém interditasse setores da clínica. "Não encontramos evidências de que a esterilização de materiais e as práticas de lavagem das mãos tenham sido realizadas de maneira adequada", destacou Pedro Anaissi, secretário municipal de Saúde de Belém.
15 vítimas já procuraram a polícia e foram encaminhadas para perícia médica. Além das infecções, as autoridades estão investigando a cobrança indevida de exames na clínica, que deveriam ser cobertos pelo SUS.
Pacientes, como a mãe de Maria de Nazaré, chegaram a pagar R$ 200 por exames, apesar de terem feito a cirurgia pelo sistema público. A idosa de 89 anos perdeu a visão do único olho que ainda tinha alguma capacidade de enxergar.
“O olho esquerdo era o único com que ela ainda enxergava um pouquinho. Agora, ela chora todos os dias”, lamentou a filha, Maria de Nazaré Trindade.