Uma das mais antigas companhias aéreas em atuação no país, com 29 anos de operação, a história da Voepass, antiga Passaredo, é marcada por momentos de alta e baixa no capítulo das finanças. Suspensão de atividades por problemas de caixa, recuperação judicial, dívida ativa na União estão entre os problemas. Mas a companhia já chegou a ter períodos de grande expansão e incluir em sua frota 17 aeronaves da Embraer e dois Airbus A310, realizando inclusive viagens ao Caribe.
Uma consulta ao portal da dívida ativa da União mostra que a Voepass tem um débito de R$ 26,1 milhões, sendo R$ 24,8 milhões com o estado de São Paulo. A empresa é sediada em Ribeirão Preto, a 313 quilômetros da capital. Os outros R$ 1,2 milhão, são relativos a dívidas trabalhistas. O Ministério Público do Trabalho (MPT), em Ribeirão Preto, recebeu, de 1999 a 2024, um total de 160 denúncias trabalhistas contra a Voepass.
Recentemente, o MPT recebeu denúncias relativas a irregularidades na jornada de trabalho. Após o acidente, duas denúncias foram protocoladas contra a Voepass, indicando irregularidades nas condições e na jornada de trabalho.
Empresa de capital fechado, não há informações financeiras em seu site. Segundo o Anuário do Transporte Aéreo da Agência Nacional de Aviação (Anac), que traz a situação financeira das companhias aéreas do país, a Voepass registrou prejuízo de R$ 50,6 milhões em 2019. Trata-se do último dado disponível da empresa no documento da Anac. Procurada, a Voepass informou que é uma empresa familiar de capital fechado e, por isso, não comenta sua situação financeira.
A empresa foi criada em 1995 e seu fundador, José Luiz Felício, tinha uma companhia de transporte rodoviário, a Viação Passaredo, fundada em 1978. Felício decidiu entrar no setor de aviação regional criando a Passaredo Transportes Aéreos.
Com a implantação do Plano Real, em 1994, que buscava a estabilização da economia, a empresa expandiu sua frota com dois Airbus A310 e começou a fazer voos fretados para o Nordeste e Caribe, em 1995, numa associação com agências de turismo. Mas em 2002, alegando dificuldades financeiras, a Passaredo suspendeu suas atividades por dois anos. Voltou a voar em 2004 e retomou o crescimento, quando tinha pelo menos 17 jatos da Embraer operando em sua frota.
Em 2012, a Passaredo entrou com pedido de recuperação judicial, com dívida estimada em R$ 150 milhões. Demitiu mais de 200 funcionários, cumpriu seu plano com credores e conseguiu sair da recuperação judicial em 2017.
Naquele ano, um acordo foi fechado para que a Passaredo fosse vendida à Viação Itapemirim, que tinha como objetivo entrar na aviação. Mas por descumprimento de cláusulas contratuais, o negócio não avançou.
Em 2019, a Passaredo deu mais uma passo para se expandir e comprou a MAP Linhas Aéreas, criando a Voepass Linhas Aéreas. Em julho passado, a Voepass anunciou que retomaria, a partir de janeiro de 2025, destinos como Barreiras (BA), Brasília (DF), Uberlândia (MG) e Vitória da Conquista (BA) ampliando sua atuação.
Numa entrevista coletiva na última sexta-feira, logo após o acidente com um de seus ATRs, que deixou 62 pessoas mortas em Vinhedo, interior de São Paulo, o CEO da empresa, Eduardo Busch, lamentou as mortes e foi questionado sobre a situação financeira da empresa. Ele disse que a companhia estava em dos seus melhores momentos.
Atualmente, a Voepass tem uma frota composta por 15 aeronaves de modelos fabricados pela ATR, uma empresa franco-italiana. Entre eles, estão os modelos ATR 72-500, ATR 72-600 e ATR 42-500. A empresa também fechou um acordo de compartilhamento de voos com a Latam. Atende cerca de 40 destinos e ano passado transportou 500 mil passageiros, sendo a quarta maior empresa aérea do país, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). De acordo com a Anac, a companhia é a quarta maior do Brasil, com uma participação de 0,5% do mercado nacional.