Desde o final de abril, o Rio Grande do Sul vem enfrentando fortes chuvas que já deixaram 147 pessoas mortas e outras 127 desaparecidas, de acordo com dados da Defesa Civil do estado divulgados na tarde desta segunda-feira (13).
Além das tempestades, a região registra também outros eventos climáticos, como tremores de terra, ondas de frio e até tornado, como o que atingiu a zona rural da cidade de Gentil neste sábado (11).
À CNN, Luiz Fernando dos Santos, doutor em Meteorologia da Tempo OK, explicou por qual motivo todos esses fenômenos acontecem ao mesmo tempo. Segundo ele, entre os meses de maio e junho, grande parte do país tem uma condição de tempo seco, com exceção do Sul, que é uma das únicas regiões que recebe chuva.
Neste ano, tanto a temperatura dos oceanos quanto a dos continentes se encontram mais alta que o normal, o que intensifica os eventos extremos.
“Falar em temperaturas elevadas é o mesmo que falar em energia, ou seja, a atmosfera está bastante energética, o que potencializa os eventos extremos (tempestades, ondas de calor, etc). Então, tudo o que deveria ser normal é potencializado pelo excesso de energia”, comenta.
Na região central do Brasil, há um sistema de alta pressão intenso, enquanto no Sul, as áreas de instabilidade e as frentes frias estão sendo barradas por essa área de alta pressão ao tentarem avançar para o Sudeste.
“Quando acontece o choque entre as instabilidades e a massa de ar seco, que estão potencializadas devido ao calor, aumenta o risco de transtornos, já que as nuvens carregadas que se formam com este impacto, provocam chuvas ainda mais volumosas, tornados e ventanias. Enquanto a massa de ar seco não perder força, esse cenário vai se repetir, concentrando as chuvas no Sul”, explica.
O doutor em meteorologia ressalta que os fenômenos estão correlacionados, e relata que quanto mais calor na atmosfera, as regiões de alta pressão no interior do país ficam mais intensificadas.
Com a temperatura mais alta, ocorre o favorecimento da formação das nuvens de tempestade, chamadas de Cumulonimbus, que além de provocarem chuvas volumosas, causam rajadas de ventos, queda de granizos e tornados.
É importante lembrar que o El Niño, que se trata do aquecimento anormal das águas do Oceano Pacifico, atuou até o início de maio, e que “mesmo com a transição para a neutralidade na região do Pacífico, ainda há bastante energia na atmosfera, que leva um tempo para se dissipar.”
A posição geográfica que se encontra o estado gaúcho favorece para os eventos climáticos, de acordo com Luiz Fernando. Isso porque, as instabilidades que vem do Pacífico passam pela Cordilheira dos Andes e se intensificam ao se formar entre a Argentina e o Rio Grande do Sul.
“A alta pressão que se forma no interior do Brasil é tão ampla que “barra” as nuvens carregadas entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina”, complementa.
Por conta das fortes chuvas, 447 cidades do estado já foram afetadas pelas enchentes.
(Com informações de Maria Clara Sassaki, da Climatempo)*