O número de pontos críticos na malha rodoviária brasileira — como quedas de barreiras, erosões na pista, buracos grandes e pontes estreitas ou caídas — cresceu mais de 10 vezes desde 2013, segundo dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).
Em sua pesquisa anual sobre o estado das rodovias, a entidade detectou 2.648 ocorrências graves na malha rodoviária do país, 38 a mais que em 2022. Na comparação com 2013, porém, a diferença é bem maior: naquele ano, a CNT detectou pouco mais de 260 pontos críticos na malha.
Um dos índices usados pela entidade para medir a saúde das estradas é a densidade de pontos críticos — a razão entre a quantidade total de pontos críticos observada e a extensão total pesquisada, a cada ano. No último ano, ela se manteve em 2,2 como em 2022. Em 2013, era de 0,27. O gráfico abaixo, que compara quatro das seis categorias avaliadas desde 2012 pela CNT, demonstra a evolução dos pontos críticos.
"A referida estabilidade pode indiciar uma tendência de desaceleração da degradação da malha rodoviária, ao contrário do processo observado no período de 2018 a 2022, quando a densidade de pontos críticos cresceu a uma média anual de 0,42 ponto crítico a cada 100 quilômetros. Esse resultado pode ter sido influenciado pela retomada dos investimentos públicos federais em obras de manutenção e recuperação da infraestrutura rodoviária nos últimos dois anos, o que inclui a reparação dessas ocorrências", diz trecho da pesquisa da CNT.
Segundo a CNT, os três estados que tiveram os maiores números de pontos críticos em termos absolutos, em 2023, foram:
"Levando-se em conta o total de pontos críticos em relação à extensão da rodovia pesquisada pela CNT, a Região Norte lidera a densidade de problemas. O Acre contabiliza 27 pontos críticos a cada 100 quilômetros. Em segundo e terceiro lugares estão os estados de Roraima e do Amazonas, nos quais o motorista pode encontrar 11 pontos críticos a cada 100 quilômetros", diz a pesquisa.
Alguns estados se destacam pelo lado positivo, como o Distrito Federal, que não teve registros de pontos críticos nesta edição da pesquisa. "Já Paraíba e Mato Grosso tiveram, respectivamente, uma e seis ocorrências. Na avaliação por densidade, esses mesmos estados e Goiás obtiveram as menores concentrações de pontos críticos em suas malhas", aponta a entidade.
A CNT destaca que a ocorrência de buracos grandes — cujo tamanho é igual ou maior que um pneu de veículo de passeio — lideram o número de casos, com 1.803 registros. No ano passado, 99% deles não tinham qualquer tipo de sinalização de advertência.
"No histórico de 11 anos de análise de pontos críticos pela CNT, a contagem de trechos com buracos grandes saltou de 64, em 2012, para 1.803, em 2023", afirma a entidade no relatório.
O aumento de quedas de barreira também foi expressivo no período. Passou de 20 ocorrências, em 2012, para 207, no ano passado. O mesmo caso ocorreu com as erosões na pista. Há 11 anos foram identificadas 162 e em 2023 passaram para 504.
Para a CNT, após uma década de queda expressiva nos investimentos direcionados à malha rodoviária, o ano de 2023 foi marcado por uma retomada de crescimento dos investimentos públicos em construção, manutenção e recuperação dessa infraestrutura. "A Lei Orçamentária Anual (LOA) deste ano autorizou a aplicação de R$ 15,01 bilhões para investimentos no modo rodoviário, R$ 11,47 bilhões a mais do que o previsto no orçamento do exercício anterior", anotou a entidade.
Para dar conta dos problemas, a confederação estima que sejam necessários R$ 4,88 bilhões — 38,5% devem ser destinados à correção de quedas de barreiras e 21,7%, à adequação ou reconstrução de pontes estreitas. "Levando-se em conta o investimento necessário para intervenção de melhorias emergenciais, como reconstrução, restauração e manutenção dos trechos da malha rodoviária federal que apresentam problemas, a estimativa da necessidade de recurso sobe para R$ 46,8 bilhões", diz a entidade.
Em julho, o ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou, durante entrevista exclusiva à EXAME, que a meta é reduzir o percentual de rodovias com nível ruim/péssimo de 66% para 20% ou 25%. A ideia é atingir esse nível em 24 meses.
A CNT defendeu "maiores esforços" na priorização em infraestrutura do transporte, diante dos impactos e riscos que os pontos críticos exercem sobre a fluidez do trânsito e a segurança dos usuários. “O investimento na prevenção e/ou na correção imediata de pontos críticos é a melhor forma de evitar que os problemas nas vias se agravem”, afirma o diretor executivo da CNT, Bruno Batista.