O modelo a ser implementado nas participantes será do tipo 100-80-100: 100% do salário, trabalhando 80% do tempo e mantendo 100% da produtividade. Indicadores como estresse da força de trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, resultados financeiros e turnover (rotatividade) serão os fatores avaliados ao final do experimento.
A universidade americana Boston College elaborou a metodologia da iniciativa. A instituição cuida das pesquisas antes do início do experimento, assim como de análises após três meses da implementação e ao fim do piloto. Com isso, a expectativa é garantir acurácia dos dados para que as empresas possam definir se seguirão com a semana de quatro dias.
Renata Rivetti, diretora da Reconnect e especialista em felicidade corporativa, explica que um dos principais desafios do experimento no Brasil é desmistificar a crença de que a produtividade é proporcional ao número de horas trabalhadas.
"É um projeto com foco inicial no aumento de produtividade, mas que acaba resultando em ganhos para os indivíduos, suas famílias e para toda a sociedade. As empresas que adotaram a semana de trabalho de 32 horas percebem maior atração e retenção de talentos, envolvimento mais profundo do cliente e melhor saúde e felicidade dos colaboradores", disse.
Além disso, explica Rivetti, a semana de quatro dias de trabalho pode trazer ganhos em saúde mental para os trabalhadores. Segundo pesquisa da empresa de consultoria McKinsey com 15 mil funcionários de 15 países, 59% das pessoas passaram ou estão passando por um desafio relacionado à saúde mental.
A pesquisa aponta ainda que funcionários que estão enfrentando desafios na saúde mental têm uma chance quatro vezes maior de sair da empresa e duas vezes maior de estarem desengajados no trabalho.
"Os desafios da saúde mental estão custando muito para as organizações, além dos impactos na sociedade. A adoção da semana de quatro dias é boa para a empresa, para os clientes, para os colaboradores e para a sociedade. Será uma revolução no mundo do trabalho, possibilitando mudanças em nossa forma de atuarmos, de forma mais produtiva e saudável", explica.
Os Emirados Árabes Unidos foram o país pioneiro na redução no número de dias de trabalho. Desde janeiro de 2022, todos os funcionários de órgãos públicos colaboram com apenas 36 horas semanais, divididas em quatro dias úteis.
Cerca de 60 empresas do Reino Unido participaram de um teste com a semana de trabalho de quatro dias durante seis meses. Lá, as companhias puderam escolher entre uma jornada de 8 horas por dia durante quatro dias ou as mesmas 32 horas divididas em cinco dias. Remuneração e benefícios permaneceram inalterados.
A grande maioria das empresas participantes (92%) decidiu manter o formato de trabalho depois dos testes. Entre elas, a receita média aumentou 35% em comparação ao período anterior e 90% dos funcionários disseram que gostariam de continuar trabalhando apenas quatro dias. Desses, 15% disseram que nenhum dinheiro é suficiente para que aceitem voltar ao expediente de cinco dias.
Outros dados importantes foram que 39% dos trabalhadores se sentiram menos estressados, 71% reduziram sintomas de burnout e 54% acharam mais fácil conciliar vida pessoal e profissional.
No início de 2022, a Bélgica implementou a semana de quatro dias. Os trabalhadores ganharam o direito de decidir se preferem a jornada de quatro ou cinco dias, com o mesmo salário. A jornada de trabalho belga é de 38 horas totais, mas o empregado pode trabalhar 45 horas numa semana e deduzir o tempo adicional na semana seguinte.
Entre 2015 e 2019, a Islândia realizou o maior piloto do mundo, reduzindo a jornada semanal de trabalho de 40 horas para 35 ou 36 horas, sem corte salarial. Cerca de 2,5 mil pessoas participaram dos testes. Os resultados, com as empresas tendo maior ou igual produtividade, levaram os sindicatos a negociar a jornada de trabalho.
Na Suécia, a semana de trabalho de quatro dias com expediente de 6 horas foi testada em 2015 e teve resultados mistos. Partidos de esquerda julgaram que a implementação da medida sairia cara, enquanto algumas empresas decidiram adotar a mudança, como a Toyota.
Testes como esse também serão realizados na Espanha durante dois anos, onde o governo está oferecendo até 200 mil euros por candidatos e pelos custos de consultoria, necessários para se adequar a uma nova jornada de trabalho.
O piloto é focado em pequenas e médias empresas industriais, onde de 25% a 30% dos funcionários trabalharão pelo menos 10% menos horas.