Era junho de 1942 quando Alice Grusová, ainda bebê, foi deixada pelos pais – judeus perseguidos por nazistas – em um banco na estação de trem da Checoslováquia. Agora, em 2022, aos 80 anos, a sobrevivente do Holocausto conseguiu encontrar a família e afirma que nunca se sentiu tão completa. Uma emoção só!
“Fiquei muito chocada quando descobri, aos 80 anos, que tinha uma família tão grande”, contou Alice, que já sobreviveu a um câncer, uma hepatite, uma cirurgia na coluna vertebral e escapou da Covid-19.
Nesta super missão de descobrir as origens, Alice contou com a ajuda de um time de genealogistas, muitas pesquisas e uma grande pitada de esperança. A última, ela disse que vem alimentando desde quando descobriu, ainda jovem, que era uma refugiada.
Como sobreviveu ao Holocausto
Marta e Alexandr Knapp fugiam dos soldados nazistas e, em um ato de desespero, na tentativa de salvar a vida da filha, a deixaram em uma estação de trem.
Eles foram presos e enviados para o campo de concentração de Theresienstadt, de onde foram posteriormente deportados para Auschwitz e assassinados. O irmão mais velho de Alice, René, também morreu ali.
Na época em que foi abandonada, Alice foi levada para um orfanato e acabou sendo transferida para o campo de concentração de Theresienstadt, o mesmo para onde os pais haviam sido levados antes (mas nunca os encontrou).
Ela contou que no local conheceu uma “mulher agradável que cuidava de nós”. A aposentada lembra emocionada da “tia” Edith, que foi a primeira referência de família que teve na vida.
Após saírem do campo de concentração, em 1947, as duas viveram juntas na Checoslováquia. Só que a mulher acabou indo para a Palestina e deixou Alice em um outro abrigo, para adoção.
“Eu tinha 6 anos quando a minha tia saiu da Checoslováquia e conheci meus novos pais”, explicou.
“Como criança, fiquei muito triste quando minha tia me deixou. Não entendi por que eu não pude ir com ela”, contou.
Perdeu o contato
“Eu mantive contato com ela por um tempo, ela se casou e teve um filho, que eu vi pela última vez em uma foto quando ele tinha dois anos”, relatou.
Mas a correspondência com Edith diminuiu e, em 1966, “nós nos desconectamos”.
Descobrindo as origens
Alice sempre teve vontade de reencontrar Edith e saber mais sobre a única família que ela teve a chance de conhecer.
Foi assim que a aposentada, com o apoio do marido Miroslav, começou com a aventura de buscar as informações que queria.
Em fevereiro deste ano, Alice descobriu um primo através do site MyHeritage. Era o único sobrevivente da família de Edith. Os dois mantiveram contato, mas não esperavam que a vida mudaria agora em novembro.
Michalya Schonwald Moss, que vive na África do Sul, também estava atrás de parentes que foram assassinados no Holocausto.
Michalya contratou genealogistas profissionais para encontrar os 120 parentes que foram mortos em Auschwitz. Em uma dessas pesquisas, ela descobriu Alice como único contato de um primo distante.
Mas Michayla não só tinha descoberto o primo distante, como tinha levado até Alice, toda a história da família dela e a aproximação que a idosa sempre desejou.
O reencontro
Alice fez questão de voltar ao país onde nasceu para encontrar todos os parentes. Como não fala hebraico e nem inglês, ela precisou de um intérprete, mas conta que a emoção foi grande do mesmo jeito.
Ela conseguiu visitar o túmulo da tia Edith, o museu Theresienstadt e o Centro Mundial de Memória do Holocausto em Yad Vashem, onde ela gravou um testemunho e foi filmada para um canal de notícias israelita.
“A minha família aumentou muito em tamanho. E Michalya continua encontrando cada vez mais parentes”, comemora Alice.
Michalya também comemorou muito por ter encontrado a família, descoberto mais sobre as origens dela e ainda proporcionar um momento tão importante para Alice.
“Foi uma das experiências mais extraordinárias, íntimas e emocionalmente terapêuticas da minha vida”, contou.
“Tê-la novamente em nossas vidas nos mostrou como é viver. Todos os dias vivemos uma reparação em nossa família. E, graças a Alice e ao brilho em seus olhos e ao amor que ela emana, tornamo-nos uma família novamente”, disse Yossi Weiss, filho de Edith.
Roi Mandel, diretor de pesquisa da MyHeritage, ficou feliz com o resultado para Alice. “A história de Alice é a história de muitos que sobreviveram à guerra e partiram do princípio de que estavam sozinhos no mundo, sem saber que havia outro ramo que sobrevivera”, explicou.
“Décadas de desconexão, como resultado da Cortina de Ferro no Leste Europeu, chegaram ao fim graças à tecnologia que permite ligar partes de um quebra-cabeças que parecia sem solução”, agradeceu.