A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) prevê um aumento na plantação de trigo no país em 300 mil hectares este ano, uma alta de 11% na área cultivada.
Este número, de acordo com o órgão, pode gerar 900 mil toneladas de trigo, o que traria um impacto positivo na balança comercial brasileira de R$ 1,35 bilhão, valor que o país economizaria com importações do produto.
A meta vem em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia, dois dos maiores produtores mundiais de trigo.
O conflito pressiona a oferta e, consequentemente, o preço da commodity. Em 2021, o Brasil importou 6,7 milhões de toneladas do produto, sendo 87% da Argentina.
O levantamento realizado pela Embrapa relata que, em 2015, o Brasil colheu 5 milhões de toneladas do cereal.
Em 2020, a produção chegou a 6,2 milhões toneladas e, em 2021, este número subiu para 7,6 milhões de toneladas. A previsão para 2022, segundo o órgão, é de 8,1 milhões toneladas.
Em uma década, caso a produção de trigo cresça 10% ao ano, o país pode passar a 20 milhões de toneladas em 2031.
De acordo com a Embrapa, os preços internacionais do trigo dobraram desde o início da pandemia, o que se tornou um estímulo para que diversos órgãos públicos e privados busquem aumentar a produção da commodity.
O presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, argumenta que o investimento no cereal é positivo para o país e pode estimular o crescimento de outras indústrias.
“O cenário é benéfico para a economia. A indústria de moagem, por exemplo, absorve a produção que tiver. Também existe a indústria de proteína animal, que consome uma parte do trigo. O mercado externo está positivo e amplo. A guerra não tem nada a ver com essa política, ela só reforça o interesse por causa do preço. Então há uma conjuntura favorável para o aumento da produção do trigo no Brasil, que tem qualidade e muitos mercados foram agitados com a não exportação”, observa.
A Embrapa aponta que há diferentes fatores que tornam o trigo atrativo para os agricultores, como preços, expectativa de clima favorável e o aumento da demanda no âmbito internacional.
Todas essas causas, conforme o órgão, reforçam a estimativa de aumento na área plantada.
Na última quinta-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil está a caminho de ter autossuficiência na produção de trigo, a ponto de, em dez anos, se tornar um grande exportador do produto.
Para o presidente executivo da Abitrigo, a meta pode ser atingida, mas depende das variáveis que afetam o cultivo.
“As mudanças climáticas, que impactam no clima do país, podem ser uma das variáveis para que isso se torne um desafio, mas não deverá afetar significativamente. A falta de investimento poderia ser outro fator limitativo, mas não é provável nas atuais circunstâncias. Essa projeção vai depender do aumento não só da área plantada, como da produtividade e da produção. Dez anos é muito tempo para prever”, diz Barbosa.
Barbosa informou à CNN que, antes da posse do atual do presidente Bolsonaro, entregou um documento chamado de “Política Nacional do Trigo” para o atual governo.
No documento, havia um plano de como o Brasil poderia se tornar um grande exportador da commodity. Para o presidente executivo da Abitrigo, se o plano tivesse sido aprovado, o país poderia antecipar a meta de autossuficiência.
A CNN buscou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para saber como o governo vem trabalhando para atingir esta meta e aguarda um retorno.
Pesquisador do FGV Agro, Felippe Serigati ressalta que é fundamental investimento para o feito.
“Não sei se é possível ter este efeito em dez anos, mas o fato é que já vimos isso ocorrer em diversos produtos. No início dos anos 1980, importávamos para abastecer a nossa demanda do mercado interno com o açúcar e café. Já houve ocasiões que importamos arroz, quando teve queda no leste asiático. Então não seria um fato inédito. Nesse caso, é necessário ter tecnologias o suficiente para produzir mais”, opina.
Segundo a Embrapa, o Brasil é o 8.º maior importador de trigo do mundo. A pesquisa da empresa indica que o consumo nacional é de 12,7 milhões de toneladas e pode chegar a 14 milhões nos próximos anos.