Diante do alto custo do diesel no país, com valor médio por litro de R$ 7,56, caso o vale-combustível mensal de R$ 1 mil, discutido pelo governo, seja implementado para os caminhoneiros, o benefício é suficiente para percorrer, no máximo, 330 quilômetros por veículo.
Esse é o resultado de um levantamento feito pela CNN, que cruzou os números do último boletim semanal de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) com as especificações utilizadas pela Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava).
O levantamento, feito com base nos modelos de caminhões de grande porte mais utilizados em rodovias brasileiras, aponta que, na condição mais favorável, seria possível abastecer um veículo com 132 litros de diesel comum.
Nesse sentido, a distância a ser percorrida, exclusivamente, com a quantidade de diesel adicionado com o auxílio variaria de 198 a 330 quilômetros.
Isto porque os maiores caminhões rodam entre 1,5 e 2,5 quilômetros por litro de diesel. O consumo varia de acordo com o modelo, número de eixos do veículo, peso e condições das estradas utilizadas.
Na última edição da publicação, a ANP identificou pela primeira vez desde o início da série histórica, em 2004, que o diesel está com preço médio acima da gasolina. O litro da versão comum (S-500) saía a R$ 7,568, enquanto o da S-10, menos poluente, era de R$ 7,678.
“Têm os caminhões VUC, que são menores e, geralmente, trafegam perímetro urbano. Não são utilizados para distribuir grandes quantidades de mercadorias. O meu é um rodotrem, de nove eixos, que consome em média um litro a cada 1,6 km. Tanque de 600 litros. Fui encher aqui a R$ 8,70 o litro. Deu R$ 5.220. Eu rodo 1,1 mil quilômetros com esse tanque. Saí do Guarujá (SP) para Campo Novo do Parecis (MT), quase dois mil quilômetros de distância. Por aí dá para ver como não vai fazer diferença para a gente”, avalia Wallace Landim, presidente da Abrava.
O preço do diesel é reflexo do último reajuste anunciado pela Petrobras, no último dia 17, com alta de 14,26%. A medida foi tomada para realinhar os valores à política de paridade de preço internacional adotada pela companhia.
No entanto, dados do levantamento diário da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) aponta que ainda há uma defasagem de 5% em relação ao Golfo do México, principal fonte nacional de importação. Em termos de valores, a diferença chega a R$ 0,32 por litro.
De acordo com o presidente da Abrava, a entidade é contrária ao auxílio-combustível.
“É uma discussão antiga, que nós já rejeitamos antes. O que queremos, na verdade, é a revogação da política de paridade de importação (PPI). Queremos que ela seja transformada em política de paridade de exportação (PPE)”, disse.
Esse é também o mesmo entendimento demonstrado por federações estaduais de caminhoneiros autônomos como as do Rio de Janeiro e de Santa Catarina, procuradas pela CNN.
A PPE é uma modalidade que analisa em conta os custos internacionais na precificação, mas levará em consideração, também, os custos reais de produção e os parâmetros de lucratividade que garantam a competitividade internacional da empresa.
A PPI, em vigor, foi adotada em 2016, com a justificativa da dependência das importações, uma vez que, embora o Brasil seja autossuficiente na produção de petróleo, essa não é a realidade na produção de derivados.
A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) encaminhou nesta quarta-feira (29) ao senador Fernando Bezerra (MDB-PE) algumas preocupações da entidade sobre o auxílio-combustível. A confederação destaca que a iniciativa não resolve os problemas do segmento e gera risco de fraude ao benefício.
Sobre maneiras de se contornar as possíveis irregularidades, a entidade propõe que o auxílio seja concedido apenas a caminhoneiros que tenham Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Carga emitido há mais de seis meses, e que tenham feito ao menos um frete registrado por mês no mesmo período.